O faturamento da indústria farmacêutica brasileira seguiu em alta em 2022 e as vendas de medicamentos nas farmácias, considerados os descontos concedidos (PPP), subiram 14,7%, para R$ 106,78 bilhões em 12 meses até janeiro deste ano, segundo levantamento da IQVIA, que audita o mercado. Mas o ritmo de aumento dos custos foi maior – entre outros, embalagens, alumínio e princípio ativo ficaram mais caros – e, segundo o setor, elevou a pressão sobre as margens.

Uma das maiores farmacêuticas nacionais, a Hypera encerrou 2022 com margem bruta de 63,1%, comparável a 64% um ano antes. Na Blau Farmacêutica, a margem caiu de 48,7% em 2021 para 47,5% no ano passado. A Eurofarma, por outro lado, exibia margem bruta de 66% de janeiro a setembro, contra 65% um ano antes.

Embalagem de cartão, alumínio e insumo farmacêutico ativo (IFA) ficaram mais caros no ano passado

Olhando para o desempenho das vendas em unidades, diz o presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, a preocupação dos laboratórios fica mais evidente: em 12 meses até janeiro deste ano, as vendas no varejo cresceram modestos 3,6%. “Hoje, a maior preocupação do setor é com custo”, diz o executivo.

Essa relação de forças pouco deve mudar em 2023, na avaliação de Mussolini. A expectativa é a de que o mercado, que começou o ano mais enfraquecido, cresça no máximo 10% em receitas e os custos de produção continuem elevados, em particular no caso dos princípios ativos usados na formulação de remédios (os IFAs).

A produção das matérias-primas é concentrada na China e Índia, e o Brasil depende de importações. Frete e concorrência mais acirrada contribuíram para encarecimento desses insumos globalmente e o câmbio segue jogando contra as indústria brasileira. Materiais para embalagem, desde o cartão usado nas caixinhas ao vidro e alumínio, também subiram com força. “O Sindusfarma não tem os dados finos de aumento de custos das farmacêuticas, mas é certo que subiram dois dígitos e acima do faturamento”, diz Mussolini.

Como os preços de remédios são controlados no Brasil, segue o executivo, algumas despesas, como impostos, indiretos, não são repassadas ao produto final. Para 2023, a estimativa do Sindusfarma é que o índice autorizado de reajuste fique em 5,6%.

O cálculo leva em conta a inflação acumulada entre março do ano passado e fevereiro deste ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), e a leitura de que os demais fatores da fórmula usada para estabelecer o índice de recomposição anual de preços serão iguais a zero.

Todos os anos, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED) define o reajuste máximo autorizado para cerca de 13 mil apresentações de remédios disponíveis nas farmácias brasileiras. O aumento pode ser aplicado após a publicação da resolução do órgão interministerial no Diário Oficial da União (DOU) e este ano valerá a partir de 31 de março.

O principal fator da fórmula, a inflação medida pelo IPCA, já está dado e foi de 5,6% entre março do ano passado e fevereiro deste ano. Os fatores X e Y, que medem produtividade da indústria e custos de produção, devem ter impacto nulo, assim como o fator Z, criado para promover a concorrência nos diferentes segmentos do mercado farmacêutico conforme o grau de concentração.

Mussolini ressalta que o índice oficial de reajuste ainda depende da publicação pela CMED, mas é possível estimá-lo. “É importante o consumidor pesquisar as melhores ofertas de medicamentos nas farmácias e drogarias. Dependendo da reposição de estoques e das estratégias comerciais dos estabelecimentos, aumentos de preço podem demorar meses ou nem acontecer”, pondera.

Na última década, destaca o Sindusfarma, o reajuste dos medicamentos ficou abaixo da inflação geral. Desde 2012, enquanto o IPCA acumulado chegou a 90,24%, os preços dos remédios subiram 76,79%. Esse descolamento também ajuda a explicar a decisão de grandes multinacionais, como Eli Lilly e Roche, de encerrar a produção de medicamentos no país e concentrá-la em outras regiões nos últimos anos.

Conforme Mussolini, a entidade levou ao novo governo uma série de propostas para desenvolvimento do setor e melhoria da saúde, e tem encontrado espaço para diálogo. Para atrair novos investimentos, acrescenta, reforma tributária e segurança jurídica são essenciais, bem como a manutenção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como órgão independente. “Se a Anvisa não fosse independente, não teríamos vacina no começo da pandemia”.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/03/15/venda-de-remedio-cresce-mas-custo-preocupa-diz-setor.ghtml

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *