Processo para a descarbonização nas fábricas de qualquer empresa passa por eficiência e olhar amplamente voltado à sustentabilidade
A L’Oréal Brasil acaba de anunciar que as quatro unidades que tem no país deixaram de emitir CO₂ (dióxido de carbono). O pontapé inicial da medida aconteceu em 2013, quando a multinacional francesa do ramo de cosméticos lançou o Sharing Beauty With All. Trata-se de um compromisso com sustentabilidade, cuja redução das emissões de carbono nas operações era uma das principais metas. A iniciativa evoluiu para o programa L’Oréal Para o Futuro, que traçou objetivos claros a serem atingidos nos próximos anos, como ter 100% das unidades do grupo consideradas neutras em carbono até 2025. No Brasil, a neutralidade de emissões foi atingida por meio do uso de energias renováveis, a partir da substituição de gás natural nas caldeiras da fábrica por gás biometano ou etanol. A mudança significa uma redução de mais de 2 mil toneladas de CO₂ equivalente por ano (em 2021, o total de emissões foi 2.095 CO₂-eq).
A empresa não divulga o montante investido para a mudança, mas afirma que ser sustentável é uma prioridade. “A sustentabilidade está presente em cada unidade do nosso negócio, norteando-o desde a concepção de um produto até seu destino final, o que se reflete em todo o processo de produção”, diz Helen Pedroso, diretora de Responsabilidade Corporativa e Direitos Humanos da L’Oréal Brasil. Alguns exemplos: a sede da organização no Rio de Janeiro é classificada com o selo ouro do sistema de certificação LEED (Liderança em Energia e Design Ambiental), com iluminação inteligente.
O edifício dedicado à área de Pesquisa e Inovação, também no Rio, conquistou o selo “platinum” do mesmo certificado. Já o recém-inaugurado Centro de Distribuição Gaia, no interior de São Paulo “nasceu trazendo iniciativas de sustentabilidade para o centro de suas operações”, segundo a executiva da empresa. No local, 100% da energia utilizada provém de fontes renováveis, além de todo o plástico de enchimento das embalagens ser biodegradável. O objetivo, agora, é engajar parceiros a ter uma atuação mais responsável. “Até 2030, os nossos fornecedores estratégicos reduzirão as suas emissões diretas em 50%, em termos absolutos, comparativamente a 2016”, projeta Helen Pedroso.
O cálculo da quantidade de poluentes lançados na atmosfera por parte das indústrias é uma das etapas rumo à descarbonização, como explica Jeiveison Gobério, coordenador de Engenharia e Desenvolvimento de Processos do SENAI CETIQT. “Primeiro, as empresas precisam identificar suas fontes de energia, para, em um segundo momento, entender se conseguem, mesmo, mitigar o impacto negativo. Em uma terceira etapa, devem calcular o total de emissões. Uma companhia pode já ser carbono neutro e não saber disso.”
Ainda segundo o especialista, só depois de cumpridas essas etapas, as organizações podem buscar uma certificação que ateste a neutralidade, mas há uma medida crucial e mais barata: aumento de eficiência. “Quanto mais eficiente, menor o consumo de energia. As estratégias para a transição energética passam pela redução das ineficiências operacionais nos processos que já existem.” Gobério também chama atenção para a importância de se ter um “olhar global” para a sustentabilidade, não direcionado somente ao efeito estufa, mas também à reciclagem dos produtos e ao uso consciente da água, por exemplo. “Isso porque o ‘consumidor do futuro’ vai se perguntar qual é o impacto ambiental geral daquilo que está consumindo”, observa.
Coleta especializada de resíduos da produção, reciclagem de espumas, iluminação natural da fábrica e destinação correta dos excedentes de tinta fazem parte das operações da Breton. A empresa brasileira do mercado mobiliário se tornou carbono neutro com a certificação da The Planet em 2020 e, no ano seguinte, repetiu a conquista por meio de ações como a compensação de emissões de CO2 a partir do plantio de árvores, em parceria com a ONG SOS Mata Atlântica. “Receber novamente o certificado é ter a certeza de que estamos no caminho certo”, afirma Giselle Rivkind, diretora de marketing da Breton, que se compromete a plantar uma árvore por pedido fechado.
Na estratégia de neutralizar emissões, há, ainda, a opção pela compra de créditos de carbono. Esta foi a medida adotada pela fábrica da Philip Morris Brasil, localizada em Santa Cruz do Sul (RS). O selo “carbono neutro” foi concedido pela certificadora suíça SGS. Foram comprados 1.800 créditos, para neutralizar os lançamentos de CO2 referentes a 2021. O projeto escolhido foi o da BK Energia Itacoatiara, usina de cogeração de energia a partir de resíduos de madeira certificada.
Entre as iniciativas em desenvolvimento para a neutralidade da fábrica está a implantação, desde 2020, de uma caldeira de biomassa, que contribui para uma menor utilização de combustíveis fósseis e o financiamento de estufas mais eficientes para a cura (procedimento que ocorre após a colheita) do tabaco. A marca do mercado de cigarros, aliás, trabalha para oferecer o que chama de “um futuro sem fumaça” ao adaptar o portfólio para incluir produtos fora do setor de tabaco e nicotina. “O grande objetivo da Philip Morris é neutralizar seu impacto na sociedade. A substituição dos cigarros por alternativas menos nocivas é um dos pilares desta transformação, mas não o único. Vivenciamos as práticas ESG de forma genuína, aplicando-as em nossa estratégia corporativa”, afirma Bruno Pinto, especialista em Relações Institucionais da Philip Morris Brasil.
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