A indústria de cosméticos brasileira está ampliando ações relativas à sustentabilidade, desde a cadeia de suprimentos até a captação de recursos com títulos verdes, condicionados ao alcance de metas.
A Natura &Co, uma das precursoras da pauta ambiental e social no setor, anunciou ao mercado na última segunda-feira que concluiu a captação de debêntures de R$ 1,33 bilhão condicionada à marca de 49 bioinsumos amazônicos no catálogo até 2027—atualmente são 44.
Se o patamar não for atingido, a Natura pagará um “prêmio” aos investidores, cuja remuneração foi definida em CDI acrescido de 1,2% ao ano. Os prêmios são de 0,15 ponto percentual ao final da primeira verificação, em 2025, e de 0,3 ponto percentual ao final da segunda, em 2027.
A captação, no formato de “sustainability-linked bonds” (SLBs), incluiu um aporte de R$ 300 milhões do International Finance Corporation (IFC) como investidor âncora e outro de R$ 200 milhões do BID Invest, braço do Banco Interamericano de Desenvolvimento voltado para o setor privado, como investidor de impacto.
Principal concorrente da Natura no mercado brasileiro, Grupo Boticário também vem traçando — e medindo — metas de sustentabilidade mais ousadas recentemente. A companhia realizou em maio um evento em São Paulo, para cerca de cem pessoas, para atualizar suas metas sócio-ambiental e de governança (ESG).
O grupo apontou que 98% de seu óleo de palma já conta com certificação de rastreabilidade, patamar que deve chegar a 100% até 2030. Já o compromisso de certificação da procedência de madeira e derivados está em 94%, acima do objetivo de 90% de certificação.
Durante o evento, os executivos também destacaram o compromisso de ter a totalidade do portfólio sem produtos de origem animal até 2026, patamar que hoje está em 96%.
O veganismo, carro-chefe em sustentabilidade do Boticário, também é o fator condicionante de títulos verdes anunciados em dezembro que somam R$ 2 bilhões. Além do portfólio sem quaisquer itens de origem animal, a companhia também assumiu o compromisso de ampliar o reuso de água em sua fábrica em São José dos Pinhais (PR) para 80%.
O Grupo Boticário já havia lançado em 2020 um título verde, com captação de R$ 1 bilhão, quando estabeleceu como meta o uso de energia totalmente renovável, até 2025, em suas fábricas de São José dos Pinhais (PR), Camaçari (BA), além dos centros de distribuição de Registro (SP) e São Gonçalo dos Campos (BA). O título previa também alcançar 100% de reciclagem dos resíduos sólidos.
As inovações em sustentabilidade de Boticário e Natura engrossam uma agenda setorial que vem sendo destaque nas ações da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec).
A entidade anunciou em maio que finalizou o inventário de suas emissões de carbono e que está trabalhando para compensar a totalidade das emissões. A ideia, segundo a Abihpec, é criar um modelo de atuação como referência para o setor.
Uma das medidas já implementadas é o Mãos Pro Futuro, o maior programa de logística reversa estruturante do país, destinado ao recolhimento de embalagens. A entidade aponta que Natura e Boticário são grandes parceiras na logística reversa atualmente. No ano passado, foram coletadas 166 mil toneladas de materiais recicláveis, mais de 70% compostos por plástico e papel.
A sustentabilidade das operações é um dos focos da Abihpec também para sustentar os níveis de exportação da indústria brasileira. Em evento realizado em maio, a entidade abordou regulamentações da União Europeia como a que restringem a comercialização de produtos originários de áreas de desmatamento, exigindo sistema de rastreabilidade.
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