A varejista está tendo dificuldade para se adaptar à normalização dos negócios com o acirramento da crise econômica no Brasil
O Magazine Luiza apresentou resultados fracos no quarto trimestre, abaixo mesmo de expectativas já conservadoras, avaliam bancos que analisaram o balanço da varejista, divulgado na noite de segunda-feira. Há pouco, a ação tinha queda de 8,44%, cotada a R$ 4,88, na maior desvalorização do Ibovespa hoje.
A varejista, que foi uma das “campeãs” da pandemia, vendo suas operações crescerem em meio à digitalização forçada e a manutenção das pessoas dentro de casa, agora está sofrendo os efeitos contrários e tendo dificuldade para se adaptar à normalização dos negócios com o acirramento da crise econômica no Brasil.
Na avaliação do Goldman Sachs, a operação de comércio eletrônico da empresa reduziu o ritmo de crescimento, impactada pelo cenário macroeconômico e comparações anuais mais elevadas. Tanto vendas diretas quanto no marketplace sofreram desaceleração.
As lojas físicas da Magazine Luiza também tiveram desempenho fraco, escreveram os analistas Irma Sgarz, Felipe Rached e Gustavo Fratini, com suas vendas muito focadas em eletrônicos e produtos para casa, que tiveram demanda menor e não contam mais com os efeitos da pandemia, como auxílios e permanência.
“Como esperado, empresas com maior exposição ao consumo discricionário, de eletrônicos e itens para casa estão sofrendo com o cenário macro desafiador e isso se traduz em um volume bruto de vendas continuamente menor”, afirma o Citi. As vendas vieram 10% menores do que estimavam para o período.
Apesar de acumular queda de 26% no ano, os analistas do banco americano não veem gatilhos positivos para a ação, com a persistência dos problemas macroeconômicos, maior competição entre as empresas no segmento de varejo e maiores juros pressionando as despesas financeiras.
A Ativa Investimentos pondera que o valor bruto de mercadoria (GMV, na sigla em inglês) digital cresceu 16,9%, abaixo de seus pares listados. A margem bruta ficou em 25,3%, alta de 0,5 ponto percentual e 0,3 acima das estimativas, porém, a margem Ebitda foi afetada pela desalavancagem operacional.
“Tanto as vendas em lojas físicas como vendas diretas no comércio eletrônico foram prejudicados pelo ambiente mais desfavorável para o consumo de bens duráveis — fator que entendemos que seguirá sendo um detrator para a companhia nos próximos trimestres”, escreve o analista Pedro Serra.
O BTG Pactual aponta que as vendas totais caíram 8%, a R$ 11,5 bilhões, em linha com as previsões, e a maior participação do comércio eletrônico nas vendas totais foi compensada por maiores vendas de serviços.
Apesar disso, os analistas do banco brasileiro falam que comparativos difíceis do ano passado, além da operação de varejo físico ter sido atingida por pressões inflacionárias, acabou derrubando os resultados.
O Bank of America (BofA) nota que foi um trimestre difícil para a companhia, com pressões crescentes sobre a renda da população, baixa alavancagem operacional, inflação e altas de juros, mas apontam que a estrutura de custos da Magazine Luiza avançou e a integração de ativos é encorajadora.
“Espera-se também que os avanços nas despesas coincidam com a integração de muitas aquisições do Magazine Luiza à medida que avança para ampliar sua plataforma e criar externalidades de rede mais poderosas”, escrevem os analistas liderados por Melissa Byun.
O Itaú BBA, por sua vez, também teve uma visão menos negativa sobre os resultados. Os analistas liderados por Thiago Macruz afirmaram que as receitas da Magazine Luiza vieram dentro do esperado, com um desempenho melhor que o previsto do segmento digital compensando a fraqueza nas lojas físicas.
No entanto, o banco diz que faltam gatilhos de curto prazo nos papéis, que devem continuar pressionados, principalmente após os efeitos não recorrentes apresentados pela empresa, o que deve se tornar o foco das atenções dos investidores.
Apesar da visão negativa generalizada para o resultado, as avaliações dos bancos para os preços das ações apontam, até o momento, para uma expectativa de retomada do valor do papel da companhia. De seis instituições que divulgaram análise dos resultados, cinco têm recomendação de compra e todas elas têm preços-alvo superiores à cotação de hoje.
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