Garrafa de vidro pode ser usada por mais de 20 ciclos, além de ser mais barata
Embalagens retornáveis e fabricadas sem plástico voltam ao mercado. Empresas estão investindo na reutilização, que evita a fabricação de novos recipientes, e em novos materiais. Com uma linha de cosméticos em barras, vendidos embalados em papel compostável, a Avozon tem feito sucesso no nicho de opções sem plástico. No primeiro ano de funcionamento (2021), faturou R$ 96 mil, crescendo 394% em 2022 e outros 233% em 2023. A projeção para 2025 é elevar as vendas em mais 140%.
A Desembala, de Itajubá (MG), vende uma linha de limpeza em sachês concentrados para que o consumidor misture com água para usar. Para um frasco de meio litro de desinfetante, por exemplo, basta um sachê de 5 mililitros diluído em 500 ml de água, reduzindo drasticamente o volume de produto comercializado, bem como de embalagem usada.
A Ambev lançou em 2023 uma campanha que incentiva o uso de vasilhames de vidro, de cervejas e refrigerantes, e já conta com 1 milhão de pontos de venda para os produtos retornáveis. A plataforma Zé Delivery, startup de entrega de bebidas geladas parceira da indústria de bebidas, abraçou a causa dos vasilhames, destacando a campanha “Pague só o líquido.
“Uma mesma garrafa retornável pode ser reutilizada por mais de 20 ciclos, e é a melhor opção para o bolso [pelo menos 10% mais barata] e para o meio ambiente”, diz Lisa Lieberbaum, diretora de sustentabilidade da Ambev. A mais nova retornável do portfólio da companhia é a longneck da cerveja Corona, que já vinha nessa embalagem na versão 600 ml, disponível em pontos de vendas no Rio de Janeiro.
O uso continuado da embalagem traz benefícios ambientais, mas cria a necessidade de se preservar os materiais, que passam por mais manuseio e podem sofrer danos nas diferentes etapas até a reutilização. Para monitorar a cadeia de logística reversa, a Coca-Cola inseriu o código de barras padrão GS1 (organização global que desenvolve padrões para com (organização global que desenvolve padrões para comunicação empresarial) nas embalagens retornáveis. “Além do maior controle, o código permite ao consumidor acessar informações sobre o impacto do uso sustentável da embalagem”, diz Alfeu Júnior, especialista em novas tecnologias do escritório da Coca-Cola Brasil e Cone Sul.
O mesmo sistema de rastreamento, desenvolvido em parceria entre a Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil) e o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), é usado no Sistema Campo Limpo, programa de logística reversa de embalagens vazias e sobras pós-consumo de defensivos agrícolas, que virou referência mundial ao destinar de maneira adequada 100% desses recipientes comercializados no país – 97% vão para reciclagem, e 3% para incineração. A França, segunda no ranking, recicla 79% desse tipo de embalagem; os Estados Unidos, apenas 33%.
São produzidas no mundo cerca de 460 milhões de toneladas de plástico por ano, quantidade que pode chegar a 600 milhões de toneladas até 2030, estima a Organização das Nações Unidas (ONU), que desde 2022 tenta construir o tratado contra a poluição plástica. Mesmo carentes de uma diretriz mundial, boas práticas seguem se multiplicando, como a inauguração do espaço Recicle&Ganhe, instalado em junho em uma loja do supermercado Pão de Açúcar na zona sul de São Paulo, em parceria com a Danone e operação a cargo da Green Mining, especializada na logística reversa de embalagens pós-consumo. “Recolhemos de tudo, de plásticos a pilhas, passando por óleo de cozinha”, diz o CEO da Green Mining, Rodrigo Oliveira.
Uma mesma garrafa retornável pode ser reutilizada por mais de 20 ciclos, e é a melhor opção”
— Lisa Lieberbaum
Mais de 5 toneladas de materiais foram coletadas em 12 semanas de projeto. Quem entrega recicláveis tem desconto de 15% em produtos Danone (exceto fórmulas). “Esperamos alavancar os números de coleta e criar impacto positivo”, diz Scheilla Montanari, gerente de sustentabilidade da Danone Brasil. A empresa ainda economiza na verba de trade marketing, com o destaque no ponto de venda, e pode vender mais. “É um ganha-ganha”, define Oliveira. A Danone assumiu o compromisso de chegar a 100% de embalagens recicláveis até 2030, além de reduzir pela metade o uso de embalagens virgens de origem fóssil até 2040.
Se o pote de iogurte descartado de maneira errada produz estragos, é bem maior o desafio de destinar corretamente a profusão de plásticos de uso único que resultam das entregas de comida em domicílio. O iFood, que chegou em agosto à marca de 100 milhões de pedidos em um único mês, desde 2020 oferece a possibilidade de perguntar aos clientes se desejam receber talheres de plástico. Segundo Renata Torres, diretora de eletromobilidade e soluções de impacto da empresa, 80% dos consumidores optam por não recebê-los, o que permitiu evitar o uso de 2.000 toneladas de plástico até setembro de 2024.
O iFood também procura, diz a diretora, banir o isopor, onipresente no segmento. O app retirou as embalagens desse material de sua plataforma de venda de produtos para restaurantes. “Investimos no desenvolvimento de soluções que sejam baratas e sustentáveis”, afirma Torres. Entre os exemplos há a embalagem de papel feita em parceria com a Klabin, na qual a celulose recebe uma camada de resina biodegradável para proteção contra gordura e umidade, e as biodegradáveis da growPack, feitas de palha de milho.
Pesquisa da plataforma revelou que 76% dos clientes consideram importante ter na embalagem algum selo que comprove a sustentabilidade.
Deixe um comentário