APESAR DE TODAS AS INCERTEZAS QUE AINDA CERCAM O ANO, AS EXPECTATIVAS DO MERCADO FARMACÊUTICO SEGUEM POSITIVAS NESTE NOVO CICLO. ALIÁS, SETOR DEVE ATRAVESSAR A CRISE COM MAIS MATURIDADE DO QUE NUNCA

Teremos, de fato, uma vacina que, em breve, imunize todos os brasileiros? Devemos esperar uma segunda onda da Covid-19? Até que ponto os planos de imunização deixarão a população ter uma “vida normal”? Questões importantíssimas como estas ainda seguem sem respostas. Mas parece que há uma luz no fim do túnel, embora o túnel seja grande.

Até o fechamento desta reportagem, em 14/12, a Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) tinha a expectativa de encerrar 2020 com crescimento de 9% . Para 2021, a entidade projeta um ótimo ano, com crescimento bem acima de 2020 “Temos a expectativa de a vacina mudar o panorama da circulação das pessoas e de que o movimento nas farm ácias cresça com grande força”, calcula o CEO da Abrafarma, Sérgio Mena Barreto, acrescentando que o número de lojas na entidade também deve crescer.

Em 2020, até outubro, a Abrafarma anunciou 369 lojas, passando de 7.878 para 8.247 pontos de venda (PDVs) em operação. Para 2021, prevê quase triplicar as inaugurações.

“Vários de nossos associados realizaram IPOS, com vendas de suas ações na Bolsa de Valores, e isso trouxe uma injeção de recursos que permite abertura de, ao menos, 900 lojas por ano”, justifica.

Já o presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamascia, acredita que, em 2021, o mercado farmacêutico não deva mudar muito em relação a 2020.

“Continuamos em um processo semelhante. Lembrando que o cenário que vivemos ainda deve durar algum tempo, até termos a possibilidade de vacinação em massa”, analisa.

Contudo, m esm o com todos os desafios do ano, a Febrafar também alcançou um saldo positivo entre abertura e fechamento de lojas. “Tivemos um saldo positivo de aproximadamente 7% . Esse mercado é bastante resiliente, assim, este ano não deverá ser diferente”, prevê.

Quando questionado sobre o que esperar para as empresas associadas à Associação Brasileira de Distribuição e Logística de Produtos Farmacêuticos (Abradilan) em 2021, o diretor-executivo da entidade, Ivan Coimbra, comenta as dificuldades em traçar um cenário diante das incertezas sobre o controle da pandemia. Mas apesar disso, o executivo, assim como os demais, também acredita na força do setor.

“Não sabemos sobre a efetividade e os prazos da vacina, de uma possível segunda onda e de todos os impactos que isso provocará na economia. De qualquer forma, as empresas associadas estão muito mais preparadas para estes cenários difíceis e ao mesmo tempo mostraram força para responder positivamente qualquer incremento de demanda”, comenta.

Acompanhe, a seguir, as principais tendências, oportunidades e desafios para o ano.

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL
A pandemia acelerou drasticamente a transformação digital, seja nos negócios ou na vida dos consumidores.
Portanto, esse é um caminho pelo qual negócios que pretendem ter sucesso no futuro precisam trilhar.

“O varejo precisa estar atento ao perfil do consumidor, às novas formas de pagamento – como o Pix – e às novas formas de aquisição de produtos, como a venda por múltiplos canais. Vale citar ainda a dispensação por receituário digital”, diz o presidente da Associação do Comércio Farmacêutico do Estado do Rio de Janeiro (Ascoferj), Luis Carlos Marins.

Portanto, o conceito de transformação digital vai muito além do comércio eletrônico via site, aplicativos ou entrega via delivery, conforme analisa Tamascia.
“O entendimento dessa transformação está relacionado aos diversos processos dentro das farmácias, com melhorias na gestão, compra e venda. Acredito que as principais tendência para as farmácias é a digitalização da gestão, o aprimoramento do delivery e o aumento nas vendas de não medicamentos”, indica.

Para Mena Barreto, a transformação digital é reinventar o negócio, é estar 100% on-line o tempo todo. “É não ter fricção com o cliente. Trata-se de ser uma empresa com e sem tijolos respondendo de forma ágil. É pensar como um HUB, integrar-se a sistemas e soluções externas, como a telemedicina e prescrição digital. É colocar poder na mão do cliente”, comenta.

E os processos serão cada vez mais digitalizados e automatizados no varejo farma. Seja num chatbotque responde às demandas simples dos clientes, seja numa prescrição que não precisa mais se materializar, seja no monitoramento da jornada do paciente, ou na oferta de um serviço de curadoria ou assinatura de produtos.
“A pandemia nos permitiu colocar uma escada no muro e enxergar anos adiante. Construímos em cinco meses o que levaríamos cinco anos para realizar”, acrescenta Mena Barreto.

COMÉRCIO ELETRÔNICO E DELIVERY

Sem dúvida, um dos pilares da transformação digital passa pelo e-commerce, canal que se fortaleceu durante a pandemia, e que deve seguir como tendência para 2021.

Segundo dados da Abrafarma, as vendas on-line cresceram 120,95% nos primeiros dez meses do ano.

“Saltamos de R$ 606 milhões em vendas para R$ 1,33 bilhão. A s unidades também saíram de um patamar de 21 para 46 milhões, um avanço de 117,55%. É um recorde na história da entidade”, comemora Mena Barreto, acrescentando que esse é um número que só vai avançar daqui por diante.

“O consumidor que se acostumou com a comodidade não volta mais à realidade anterior”, argumenta. O delivery também segue bastante promissor. “Essa solução, que utiliza ferramentas como telefone, WhatsApp, site, entre outros, praticamente dobrou em demanda”, comenta Tamascia, da Febrafar.

LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS (LGPD)
Outro ponto de atenção em 2021 será a implantação da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) que, a partir de agosto, passa a gerar sanções. “Temos de derrubar o mito de que não se pode mais pedir Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) aos clientes. Vivem os na era das informações, de maior uso de dados, e justamente por identificar o cliente a cada vez que ele entra numa farmácia nossa”, defende.

REFORMA TRIBUTÁRIA Neste ano, a reforma tributária continua no radar de entidades como Abrafarma e do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma). E as marcas deixadas pela pandemia devem ajudar nesse discurso.

“Entre os desafios que o Sindusfarma enfrentará nos próximos anos, estão o combate à elevada carga tributária que existe no Brasil e a flexibilização de nossa regra de preços, pois estão completamente defasadas e não atendem às necessidades atuais da indústria e da população”, afirma o presidente executivo da entidade, Nelson Mussolini, salientando que, em 2021, o Sindusfarma também continuará a defender que os governos – federal, estadual e municipal – entendam que a saúde não é uma despesa e, sim, investimento.

“Um a pessoa com saúde continuará sendo geradora de riquezas e tributos. Enquanto uma pessoa sem saúde passa a usar os sistemas públicos de saúde e previdenciário, deixando de contribuir para a manutenção desses sistemas”, pontua.

AMPLIAÇÃO DOS SERVIÇOS FARMACÊUTICOS
Hoje, o varejo farma aguarda pela revisão das Resoluções de Diretoria Colegiada (RDC) 44/09 (que dispõe sobre as Boas Práticas Farmacêuticas) e RDC 302/05, com as Consultas Públicas 911 e 912, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“São textos modernos, avançados e o resultado deles deve levar à revisão dos nossos catálogos de serviços já oferecidos nas redes atualmente. No programa de Assistência Farmacêutica Avançada, lançado em 2016, tem os oito serviços padronizados. É possível dobrar o catálogo, ir a 16 serviços”, visualiza Mena Barreto.
Com o catálogo atual, a Abrafarma já realiza 5 milhões de atendimentos nos últimos doze meses. Mas com as mudanças, as projeções são de que se possa duplicar ou triplicar o volume realizado em pouco tempo.

“Podemos alcançar essa meta, seja em razão da massa de profissionais já preparados-já emitímos mais de 20 mil certificados de cursos livres até aqui – seja em razão do aprendizado prático em todos esses anos. Nos próximos anos, com as novas RDCs, entraremos realmente numa nova era no que se refere a serviços farmacêuticos”, avalia.

MAIS FORÇA ÀS INDEPENDENTES Os bairros e as periferias podem continuar se apresentando com o grandes oportunidades para as farmácias independentes, porque muitas empresas sinalizam o desejo de manter as equipes em formato home office, não retornando para os centros empresariais, segundo analisa Marins. “Isso deve acontecer não apenas em função da pandemia, mas também da segurança e da redução de custos”, pontua.

GESTÃO PROFISSIONALIZADA Uma das lutas da Ascoferj no próximo ano será a de contribuir com a profissionalização dos associados, para minimizar o impacto da concorrência em seus negócios, algo que tende a ser uma busca de todo o setor.

“Boa parte dos nossos associados é independente e precisa de apoio para uma gestão qualificada. E foi pensando nesse público que criamos, por exemplo, a Central de Com ­ pras Ascoferj. Por intermédio da Central, o associado independente faz compras com boas condições e ainda obtém indicadores de performance do negócio”, exemplifica Marins.

Para o diretor-executivo da Abradilan, a pandemia acelerou um processo de transformação que inevitavelmente iria acontecer. “Ao mesmo tempo em que o mercado foi resiliente para atravessar a crise, entendeu a importância da digitalização, da adequação de mix, da melhoria dos processos de gestão. Acho que as empresas que entenderam isso sairão mais fortes e sólidas”, diz.

NOVOS HÁBITOS DE SAÚDE Para Mussolini, no Brasil, as oportunidades do setor farma seguem relacionadas às doenças da terceira idade e às doenças crônicas. Ele também observa um aumento no interesse da população em cuidar melhor da saúde.

“A pandemia mostrou que as pessoas precisam efetivamente dar ainda mais atenção à saúde, principalmente aquelas que possuem doenças crônicas, que não devem abandonar os tratamentos, além de buscar hábitos de vida mais saudáveis”, comenta o executivo do Sindusfarma.

Mena Barreto também espera um mundo diferente pós-pandemia, numa melhoria de indicadores com o os de adesão ao tratamento, manutenção dos cuidados com prevenção e busca de bem-estar.

“A importância da saúde ficou marcada de forma indelével nas nossas mentes. Se a farmácia souber aproveitar esse momento, todas as categorias ligadas à qualidade de vida, aumento da disposição e do bem-estar, têm tudo para ser um alavancador de vendas”, opina.

Fonte: https://www.abradilan.com.br/news/11530

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