Índice do item é o menor entre os materiais recicláveis mais conhecidos

Será lançada oficialmente esta semana no Congresso a Associação Brasileira Gestora da Logística Reversa de Embalagens de Vidro, chamada de Circula Vidro. O objetivo da entidade — que congrega os principais atores da cadeia de embalagens de vidro — é garantir o cumprimento das metas de reciclagem previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, de 2015.

Apesar de estar sendo lançada agora, a Circula Vidro foi criada logo após a publicação do Decreto 11.300, de dezembro de 2022. As metas para 2024, que serão conhecidas no dia 30 de julho, estabelecem que 25% do volume de vidros ocos colocados no mercado deveria retornar aos fabricantes para reciclagem ou reutilização. Os dados atuais, que segundo representantes do setor podem estar defasados, apontam para um índice de reciclagem da ordem de 11%.

Trata-se do menor percentual entre os materiais recicláveis mais conhecidos. Segundo o Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir), a categoria de papel tem um índice de reciclagem de 39%, enquanto o plástico aparece com 24%, e o metal, com 12%.

O CEO da Circula Vidro, Fábio Ferreira, explica que a reciclagem de vidro esbarra em questões econômicas e logísticas. Segundo ele, um catador fatura cerca de R$ 0,12 por quilo de caco de vidro. O mesmo volume de latas de cerveja rende R$ 14, diferença superior a 1.000%.

“O vidro tem um teto de preço, que é a matéria-prima, abundante e barata”, comenta.

Outro fator relevante é a baixa capilaridade das unidades fabris — quase todas concentradas próximas ao litoral das regiões Sul e Sudeste. Recolher vidro na regiões Norte ou Nordeste para reciclar no Rio Grande do Sul sai caro e, pior, pode representar uma pegada de carbono que torna a atividade desinteressante até mesmo do ponto de vista ambiental.

O descarte de vidro na natureza também é considerado menos preocupante do que, por exemplo, o do plástico. No passado, era comum ouvir dizer que as garrafas de vidro jogadas no mar retornariam, cedo ou tarde, à forma de areia. A atualização das discussões sobre as mudanças climáticas, entretanto, não permite mais este tipo de opção para o material.

Por todas essas razões, muitas vezes acaba sendo economicamente mais vantajoso produzir vidro novo que ampliar a reciclagem, daí a importância de um decreto que defina regras e compromissos para a atividade.

No caso do plástico, a discussão se dá em torno de um tratado global, no âmbito das Nações Unidas. A grande dificuldade, como mostrou o Valor em março, é a busca de consenso em torno de metas para redução gradual da produção, o que enfrenta forte resistência de vários países, especialmente grandes produtores de petróleo.

“O Ministério do Meio Ambiente vem trabalhando para levantar a régua da transparência e do cumprimento das metas de logística reversa. Virão vários decretos para os tipos de materiais e portarias para homologação das unidades gestoras e verificadoras de resultado”, disse Adalberto Maluf, secretário nacional de Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambietal do MMA.

De acordo com ele, o modelo de composição da Circula Vidro — a primeira das entidades gestoras criadas por decreto — é o desejado pela pasta, com a reunião de todos os atores do setor “para o cumprimento de metas mais ambiciosas”. Os compromissos não são apenas para conteúdo reciclado, mas para vidros retornáveis e implementação de logística reversa.

O CEO da Circula Vidro lembra que há metas tanto para fabricantes e importadores de vidros como para envasadores (especialmente fabricantes de bebidas) e para comerciantes e distribuidores. A entidade cuida apenas de vidros ocos, nome técnico para o material usado em embalagens. Os vidros planos, usados nos setores automotivos e de construção civil, ficam de fora da sua alçada.

Apesar de ser menos lesivo ao ambiente, há uma série de problemas com o descarte inadequado do vidro. A melhoria do processo produtivo, segundo Ferreira, torna a atividade em si menos poluente. Ele reconhece, contudo, que pode haver um “teto” para as metas de reciclagem, que chegam a 40% em 2032, segundo o decreto. “Uma das nossas principais missões é justamente conhecer melhor a cadeia para ter noção desses limites.”

Fonte: https://valor.globo.com/brasil/noticia/2024/06/11/entenda-por-que-reciclagem-de-vidro-ainda-nao-engrenou-no-pais.ghtml

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