Especialistas veem espaço para crescimento exponencial dessa indústria
Maior fonte de energia entre as renováveis, as biomassas líquidas, sólidas e gasosas conquistaram seu espaço na matriz a partir do Programa Nacional do Álcool (Proálcool). O etanol foi introduzido na década de 1970. Desde então, essa geração aumentou e o país se consolidou como o segundo maior gerador de energia a partir das biomassas, atrás da China. A modernização da indústria da cana-de-açúcar, com caldeiras de alto rendimento, foi um dos fatores que alavancou a geração.
Com 628 usinas utilizando biomassa como combustível pelo país, há espaço para crescimento exponencial dessa indústria, conforme especialistas. Porém, é preciso políticas públicas eficazes. “Falta um projeto político ambicioso, que deveria ser prioridade nacional, para aproveitar melhor a matéria orgânica disponível, desenvolvendo o campo e descarbonizando o país. Ainda estamos na antessala desta transformação rural. O Brasil carece de avanços técnicos e tecnológicos e vai precisar gerar mercado criando novos regimes de compra”, diz Daniel Vargas, Coordenador do Observatório de Economia da FGV.
O bagaço da cana é a fonte que responde pela maior fatia na oferta das renováveis, com 12,3 GW de potência outorgada. Em seguida aparece o licor negro (3,2 GW), cavaco de madeira (742 MW) e lenha (234 MW). Outras fontes como casca de arroz, capim-elefante e óleos vegetais complementam a oferta que, desde 2018, supera a capacidade instalada de Itaipu, a maior hidrelétrica do país.
“Até dezembro, a previsão é que a biomassa em geral acrescente mais 332 MW à matriz elétrica, com 18 novos empreendimentos entrando em operação. E, até 2026, a fonte deverá acrescentar 1,6 GW. A indústria de bens de capital está bem consolidada com centros de excelência de alta produtividade, envolvendo tecnologia nacional”, diz Zilmar Souza, gerente de bioeletricidade da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que representa mais de 120 empresas do setor sucroenergético.
A alta geração a partir da cana-de-açúcar posiciona o Brasil acima da média mundial no uso das renováveis. Newton Duarte, presidente da Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen), classifica o potencial da fonte como “infinito”.
“Existem estudos em andamento para produção de hidrogênio a partir do etanol celulósico, do bagaço moído. A indústria da cana pode derivar, até mesmo, para sua geração em larga escala”, diz. Para o executivo, camas de frango e gado são outras fontes importantes com possibilidade de gerar biogás em grandes volumes. Conforme a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), somente 18 empreendimentos geram eletricidade, hoje, a partir de esterco animal.
No país há 20 anos, a Bracell está entre as usinas que exportam excedente de energia para o Sistema Interligado Nacional (SIN). A partir da queima do licor negro – subproduto tóxico do cozimento do eucalipto -, a planta de Lençóis Paulista, no interior de São Paulo, gera 2.000 toneladas de vapor superaquecido por hora que movem turbinas, produzindo energia elétrica. A geração de 440 MW atende a demanda interna e permite ainda exportar 180 MW ao SIN – o suficiente para atender uma cidade como Salvador.
“Existem perspectivas de que o ramo de papel e celulose irá crescer bastante, ficando atrás apenas do segmento petroquímico. Acho que o aproveitamento do licor negro e de resíduos florestais tem potencial de seguir essa tendência, embora exista o desafio de conectar certas unidades co-geradoras, mais afastadas, ao grid nacional. O agro, como um todo, também tem uma capacidade enorme”, comenta Márcio Nappo, vice-presidente de Sustentabilidade e Comunicação Corporativa da Bracell.
Os resíduos urbanos são outra promessa no universo da biomassa. A Orizon VR possui seis aterros sanitários gerando eletricidade e mais nove estão em instalação. A maior parte do excedente de 60 MW é vendida no mercado livre.
A unidade sob o aterro de Paulínia, em São Paulo, produz biometano, gás derivado do lixo orgânico, vendido para clientes privados. “O potencial é vasto porque sua capacidade de entrega é maior que a da solar e eólica, sujeitas às oscilações do sol e do vento. Além disso, não dependemos de longos escoamentos. Os aterros já estão ao lado de grandes centros”, frisa Milton Pilão, CEO da Orizon VR.
A estratégia da empresa é focar no biometano, insumo cobiçado pelas indústrias rumo à descarbonização. A captura do biogás dos aterros para conversão em combustível limpo evita a emissão do metano, gás de efeito estufa.
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