O laboratório Cristália obteve recentemente a autorização da Anvisa para fabricar e vender a enzima colagenase. Até então o insumo utilizado na produção de uma pomada de tratamento de feridas e queimaduras, vendida pela empresa há 40 anos, tinha de ser importado. Os cientistas do Cristália descobriram um modo de obter colagenase abastecendo micro-organismos com proteína vegetal encontrada em solo brasileiro. O que distingue a nova enzima da que tem sido usada no mundo inteiro é o fato de ela ser isenta de proteína animal e, por isso, livre do risco de contaminação pela doença neurológica da vaca louca. Além de não precisar mais importar colágenas, o Cristália poderá vendê-la a outras farmacêuticas. O insumo biológico potente e puro também é capaz de isolar células nos estudos de terapia celular e de células-tronco. “Isso é inovação incomum. Não é drágea que mudou de cor ou xarope que mudou de sabor. É modificação essencial com conteúdo”, diz o médico Ogari de Castro Pacheco, presidente e fundador do Cristália.
Se por um lado predomina no setor farmacêutico brasileiro a formulação de medicamentos com matéria-prima importada, a história da colagenase demonstra que a estratégia do Cristália é outra. Ela está enraizada nas atividades de farmoquímica, que produz insumos, e de biotecnologia, que concebe moléculas complexas para elaborar medicamentos biológicos mais sofisticados e eficientes do que os convencionais sintéticos. Um time de 400 pesquisadores é dedicado a projetos de inovação. O objetivo é reduzir importações e desenvolver mais remédios a partir do zero. A autonomia da empresa é bastante significativa em termos de princípio ativo, a matéria-prima que faz o remédio “funcionar”. Enquanto o setor importa 90% dos princípios ativos, o Cristália produz 53% dos que são usados em seus produtos. E eles também são vendidos para outros fabricantes no Brasil e no exterior.
Fundado em 1972 em Itapira, no interior de São Paulo, o Cristália é o maior produtor de anestésicos da América Latina e importante fornecedor de medicamentos para aids no Sistema Único de Saúde. Exporta para 30 países, está presente em 35 000 pontos do varejo e atende 95% dos hospitais brasileiros — que respondem por 70% de suas vendas. No ano passado, sua receita cresceu 5,3%, para 366 milhões de dólares, e gerou lucro de 91 milhões, resultados que colaboraram para o destaque como melhor empresa do setor farmacêutico.
A reputação do Cristália extrapola a atuação em medicamentos. A Embrapa desenvolveu um inseticida biológico de combate ao mosquito transmissor de dengue, zika e chikungunya e há possibilidade de o Cristália produzi-lo. “O Cristália tem uma equipe técnica excelente e capacidade de investimento”, diz José Manuel Cabral, chefe da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia. O médico e empresário Pacheco está entusiasmado. “Controlar o Aedes aegvpti é controlar uma série de doenças.” Bom para a medicina, bom para o negócio.
Fonte: http://sindusfarma.org.br/cadastro/index.php/site/ap_imprensas/imprensa/1248
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