O Brasil terá a opção de comprar uma futura vacina contra a covid-19 a preço mais acessível e reduzir os riscos de ficar muito atrás no acesso às doses, se o governo de Jair Bolsonaro decidir participar de uma iniciativa lançada pela Gavi Aliança (Aliança Global para Vacinas e Imunização) e pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Atualmente há 130 projetos de desenvolvimento da vacina contra o vírus, das quais os dez mais avançados já começaram os testes em humanos. Cinco são chineses. Alguns países desenvolvidos, a começar pelos EUA, já fazem contratos bilaterais com laboratórios para comprar adiantado as vacinas, sem ter certeza sobre qual delas vai funcionar ou não.
Gavi criou o “Advanced Market Commitments for Vaccines (AMCs)”, pelo qual países interessados fazem um “pool financeiro”, com uma contribuição financeira antecipada, para ajudar empresas a desenvolver a vacina mais rapidamente e garantir acesso ao produto.
Em vez de acordo bilateral com um só laboratório, um grupo de países compartilha o risco e tem acesso a mais produtores eventuais da vacina. Ao se comprometer a comprar determinado número de doses, a Gavi negocia um preço mais baixo.
Conforme fontes, no Brasil certos setores tentam convencer o governo a entrar na iniciativa. Argumentam que, com o país num “pool”, há mais possibilidades de acertar na vacina que poderá ser bem-sucedida.
Fontes observam que o Brasil hoje continua pagando caro pela vacina contra câncer do colo de útero, porque não consegue comprar pelo mesmo preço obtido pela Gavi.
A OMS está encarregada de definir um arcabouço para alocação “justa e equitativa” de vacinas quando estiverem prontas. Ou seja, como ela será distribuída, quem vai receber em primeiro lugar etc. A intenção é de anunciar nesta ou na semana que vem os critérios.
Uma constatação é de que 10% dos mortos por covid-19 eram profissionais da saúde. A ideia agora é garantir a vacinação de todos os trabalhadores no setor de saúde e os que se ocupam de idosos no mundo inteiro. Outros setores essenciais, incluindo a polícia e trabalhadores em saneamento, também poderão ser rapidamente beneficiados.
Há várias iniciativas envolvendo vacina contra a covid-19. Países ricos têm colocado muito dinheiro em laboratórios para ajudá-los a desenvolver a vacina mais depressa. Eles fazem acordos bilaterais para a compra junto a algumas farmacêuticas. Os países mais pobres vão em algum momento receber vacina de graça.
O novo mecanismo da Gavi poderá atender também nações de renda média alta, como o Brasil. E há também países ricos com mercados pequenos e considerados vulneráveis: Noruega, Finlândia, Malta, Cingapura. Por ter mercados pouco atrativos, ficam à mercê dos laboratórios, que impõem o preço do medicamento. Participando do futuro “pool”, têm acesso mais barato à vacina.
Existe expectativa na cena multilateral, porque Jair Bolsonaro ameaçou inclusive tirar o Brasil da OMS. Ao mesmo tempo, porém, sob pressão de segmentos da indústria farmacêutica nacional e de pesquisadores, o governo acabou aceitando entrar em duas recentes iniciativas globais contra a covid-19.
Na semana passada, uma reunião interministerial na Casa Civil aprovou a participação brasileira no “Act Accelerator”, que visa acelerar a produção de vacina, tratamentos e testes contra a pandemia e assegurar um acesso equitativo. O governo confirmou participação na “Call to Action”, uma plataforma proposta pela OMS e pela Costa Rica para facilitar o acesso e uso de dados, conhecimento e propriedade intelectual de tecnologia para combater a covid-19.
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