A pandemia de covid-19 trouxe alguns desafios para o setor farmacêutico. Além da busca pela cura que pode trazer a normalidade ao mundo, as empresas do setor, principalmente as brasileiras, enfrentam aumento nos custos, pressão nas importações e queda nas vendas. Foi o que apontou uma pesquisa da consultoria KPMG. O levantamento foi realizado ouvindo 20 farmacêuticas nacionais e multinacionais que atuam no Brasil.
Ricardo Pascoal, líder da indústria farmacêutica na consultoria e responsável pela pesquisa, afirma que as empresas nacionais devem sofrer mais em função da alta cambial, que já chega a mais de 30% até agora.
“A indústria multinacional é mais sustentável pois tem um volume grande em investimento em bolsa. Os investidores ao invés de aplicar em empresas de óleo e gás têm procurado por ativos da indústria farmacêutica. Mesmo antes dessa pandemia, esse era um setor altamente capitalizado no exterior. Já a indústria nacional pode não estar tão capitalizada”, diz Pascoal.
Com isso, segundo ele, a tendência é que no mundo pós-pandemia podemos ver no Brasil a procura maior pela aquisição de empresas nacionais. “Se o dólar se mantiver nesse patamar, a indústria local pode ser procurada para venda. Chinesas e indianas estão buscando entrar no Brasil. Esse pode ser o impacto negativo na retomada”, afirma. Pascoal ressalta que a busca poderá ser mais forte em empresas de nicho, como por exemplo imunologia e vacinas.
Um estudo realizado pela PwC também aponta que haverá um movimento maior de consolidação no setor farmacêutico no Brasil. Eliane Kihara, sócia da PwC Brasil e líder da área farmacêutica, afirma que a pressão de custos e perda de margem podem ser um fator preponderante para aumentar as fusões e aquisições no mercado brasileiro.
“Essa crise traz novos elementos que favorecem a consolidação. Um deles é a necessidade de complementar portfólio ou intensificar pesquisas em determinadas áreas para se tornar mais eficiente”, disse Kihara.
Segundo ela, o mercado indiano tem característica similar ao brasileiro e, por lá, esse movimento de consolidação é mais forte. “No Brasil não vai ver diferente. Um mercado mais enxuto não é ruim, porque pode trazer uma gestão mais eficiente e com isso mais inovação e investimentos em pesquisas”, diz Eliane.
A pressão de custos, segundo Eliane, vem da dependência das companhias brasileiras de insumos importados. “China e Índia são os grandes fornecedores de matérias-primas para a indústria farmacêutica mundial. No Brasil, além dessa dependências, as empresas sofrem com a variação cambial. Isso torna as despesas muito maiores e consome as margens”, afirmou.
Outra mudança no mercado nacional, de acordo com o estudo realizado pela KPMG, será o aumento da participação dos genéricos na venda de medicamentos com a retomada dos negócios considerando o novo patamar econômico dos brasileiros. “Haverá uma mudança de comportamento de consumo nos gastos diretos do paciente. É possível que ocorra uma migração de volume comercializado de drogas de referência para similares e ou genéricos a depender do cenário econômico”, afirma Pascoal, da KPMG.
Conforme Pascoal, a atual queda na demanda foi provocada pela redução relevante no varejo e no chamado canal hospitalar. “No canal hospitalar, o principal foco é o combate à nova doença. Com isso tivemos cancelamentos e postergações de outros procedimentos e intervenções eletivas, além de menos venda para os hospitais. No canal varejista, o isolamento social tem impedido a interação médico-paciente, impactando, portanto, a emissão de prescrições. Isso afeta diretamente a rentabilidade das farmacêuticas”, afirma Pascoal.
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