A indústria farmacêutica aguarda orientações da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamento (CMED) para poder impor o reajuste médio de 4,08% em junho. Esse aumento dos medicamentos era para ter acontecido em abril, mas por causa da pandemia da covid-19 e por um acordo entre governo e setor, foi adiado por 60 dias. E, pela regra, pode ser implementado hoje. O adiamento só foi possível pela publicação de uma medida provisória (MP).
O presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma), Nelson Mussolini, disse que o reajuste, mesmo que pequeno, pode ajudar a melhorar as margens das empresas e manter as operações.
“A pressão de custos está extremamente alta nesse ano. O dólar, de março de 2019 até hoje, subiu mais de 40%. Além disso, estamos vivendo um momento de aumento de preços dos fretes e dos insumos, que são, em sua maioria, pagos em dólar”, afirmou Mussolini.
Segundo ele, um frete da Ásia para o Brasil que antes da pandemia era cobrado a US$ 2 por quilo, hoje já se cobra cerca de US$ 15. “Esperamos que os parlamentares, que vão apreciar a MP, tenham sensibilidade para discutir esse aumento que, no final das contas, na ponta do mercado, gira em torno de centavos”, disse.
De acordo com uma nota técnica enviada aos parlamentares, levantamento feito pela CMED em 2018 mostrou que o preço médio de uma caixa de medicamentos genéricos ficava em torno de R$ 6 e os remédios similares ou de referência um pouco mais de R$ 20.
“Esse pequeno reajuste é que nos dará fôlego para não faltar produto no mercado. Estamos preocupados porque as margens das empresas estão ficando muito afetadas.” Mussolini ressaltou, ainda que a indústria precisa de um olhar mais profissional. “Esse populismo em cima disso [covid-19], em torno da pandemia, pode causar danos, se não agora, no futuro, com a falta de investimentos e a insegurança jurídica que isso gera”, afirmou.
Segundo ele, nesses dois meses de adiamento do reajuste as empresas deixaram de faturar cerca de R$ 300 milhões e “30% disso é arrecadação de imposto, o governo também deixou de ganhar muito nesse tempo”, disse. “A MP deve entrar em plenário para votação esta semana e esperamos que o reajuste seja concedido e não adiado até o fim deste ano.”
O presidente da farmacêutica subsidiária brasileira da Aspen, Alexandre França, disse que esse percentual de reajuste não cobre a alta dos custos dos últimos meses. “É irrisório, mas é melhor do que nada. Estamos sofrendo muito com essa pressão nos custos. Na Aspen temos um percentual de produtos importados altíssimo e o dólar, com esse aumento de
O executivo disse, ainda, que além dessa escalada cambial, o custo com o frete tanto internacional quando doméstico, tem influenciado negativamente as margens da companhia. “Tivemos um aumento médio nas tarifas em torno de 20% e isso em dólar. Não consigo fechar um avião somente para a Aspen. A mesma aeronave traz medicamento e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual) ou respiradores. Não consigo programar o frete para daqui um mês e aproveitar tarifas mais atrativas.”
França disse, no entanto, que as farmacêuticas devem reajustar os preços dos medicamentos isentos de prescrição (OTC, na sigla em inglês) já na próxima
semana. Os aumentos médios devem ser de 10%. “Não acredito em nada relevante, primeiro pelo momento politico que não é propicio, pode criar uma repercussão ruim, e, segundo, a crise econômica no país deve inibir aumentos maiores. Não tem espaço.” Na Aspen, segundo ele, o reajuste deve ser em torno de 8%. Os OTCs representam 30% do faturamento da empresa.
Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/06/01/farmaceuticas-aguardam-cmed-para-reajuste.ghtml
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