A Johnson & Johnson tornou-se a primeira grande empresa farmacêutica a testar uma vacina de dose única contra a covid-19, com o lançamento nesta semana da terceira fase dos testes clínicos, que preveem o recrutamento de 60 mil participantes em três continentes.
A decisão da empresa de pesquisar um produto de dose única pode ajudá-la a avançar mais rápido que as rivais, que precisam de duas doses, mesmo com algumas já tendo iniciado seus testes em larga escala em maio e junho.
Os pesquisadores podem começar a estudar a eficácia duas semanas depois da dose única, sem precisar esperar mais quatro semanas para que o participante receba uma segunda dose.
De acordo com Paul Stoffels, diretor científico da Johnson & Johnson, uma vacina de dose única pode ser “muito importante para uso emergencial”, já que pode ser lançada rapidamente. A empresa informa ter capacidade para produzir 1 bilhão de doses até o fim de 2021. Resultados positivos de um teste recente, feito em menor escala, serão publicados em breve e indicaram que uma dose única pode ser suficiente para proteger as pessoas, segundo a empresa.
O doutor Stoffels acrescentou que todas as principais vacinas usaram a proteína pontiaguda característica do vírus sars-cov-2 para que o sistema imunológico a reconheça, mas a Johnson & Johnson demorou mais para otimizar sua “potência”.
Outra possível vantagem para a Johnson & Johnson é que sua candidata a vacina não precisa ser armazenada a temperaturas tão frias quanto algumas outras vacinas, o que é importante para a distribuição e países em desenvolvimento.
A plataforma de desenvolvimento de vacinas que a empresa está usando, baseada nos adenovírus, tem um bom histórico, com mais de 100 mil pessoas já vacinadas usado o mecanismo, segundo o dr. Stoffels. “Foi usada no zika, no HIV, na [doença respiratória vírus sincicial respiratório] VSR e no ebola”, disse.
A Johnson & Johnson se comprometeu a entregar a vacina “sem fins lucrativos” durante a duração da pandemia. A empresa recebeu financiamento do governo dos Estados Unidos como parte da operação “Warp Speed”, parceria público-privada americana para acelerar o desenvolvimento da vacina, e trabalha com o Instituto Nacional de Saúde (NIH, em inglês), agência federal de apoio à pesquisa médica no país.
O NIH ajudou a financiar os testes clínicos com US$ 193 milhões até agora e prevê gastar US$ 480 milhões, segundo Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas NIAID) dos EUA.
A plataforma dos adenovírus na qual a vacina foi desenvolvida é fruto de “décadas de colaboração”, incluindo o financiamento para ciência básica, acrescentou o dr. Fauci.
Os dados da fase 3 serão primeiro examinados quando houver 20 infecções da covid-19, seja no grupo vacinado ou que recebeu placebo, segundo a farmacêutica, e serão encerrados quando 154 candidatos desenvolverem a doença. Os testes clínicos serão realizados em várias localidades nos EUA, em países latino-americanos, como o Peru, e na África do Sul.
Separadamente, a Johnson & Johnson trabalhará como governo do Reino Unido em testes de uma vacinação com duas doses.
A companhia prevê a conclusão dos testes clínicos um ou dois meses depois do fim dos testes desenvolvidos pela Moderna e pela Pfizer e sua parceira BioNTech, iniciados no fim de julho.
“Poderíamos prever uma resposta dos testes iniciados em julho em algum ponto de novembro ou dezembro. É concebível que poderia ser antes – poderia ser em outubro, isso é improvável, mas não impossível”, disse.
A AstraZeneca iniciou em maio os testes clínicos da fase 2/3, de menor escala, e neste mês iniciou uma fase mais ampla nos EUA, com 30 mil participantes, mas houve interrupções após um evento adverso em um deles.
A empresa de biotecnologia chinesa CanSino Biologics também fez testes para uma possível vacina de dose única, mas agora está iniciando testes para uma vacinação de duas doses.
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