A Rússia anunciou o registro do que diz ser a primeira vacina no mundo contra a covid-19, batizada de “Sputnik V”, e espera produzi-la também no Brasil a partir de novembro.
O CEO do Fundo Soberano da Federação Russa, Kirill Dmitriev, coordenador do desenvolvimento da vacina russa, disse hoje ao Valor que já tem acordo de parceria com duas grandes companhias no Brasil e com alguns Estados, e continua em contatos com o governo federal.
A produção a partir de novembro no Brasil vai depender também das discussões com as autoridades reguladoras.
“Essa vacina não apenas protege as pessoas, como também ajuda a recuperação da economia global”, afirmou, observando que os países que ganham acesso rápido a uma vacina segura vão sair da crise com perdas menores.
O anúncio do primeiro registro de vacina contra a covid-19 foi feito hoje cedo pelo presidente Vladimir Putin. O sinal verde foi dado pelo Ministério da Saúde do país, antes mesmo da conclusão de testes com humanos (fase 3), que prosseguirão na Rússia, Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita e Filipinas.
Nesse cenário, a vacina russa foi recebida com certo ceticismo fora da Rússia. A principal questão é sobre sua segurança. Associações de companhias multinacionais farmacêuticas alertaram que o uso da vacina antes de testes clínicos colocaria as pessoas em risco.
O presidente Putin antecipou-se a essa situação, dizendo que uma de suas filhas já testou a vacina.
Dmitriev, em entrevista para mais de 60 jornalistas, acusou grandes companhias farmacêuticas e alguns governos de tentarem minar a confiança na vacina russa por questão de concorrência ou motivação política.
Ele disse que a Rússia se preocupa com suas crianças e sua população em geral tanto quanto os outros países, garantindo a segurança da vacina.
O nome de “Sputnik V” é uma faz referência ao lançamento em 1957 do satélite soviético que abriu o espaço para exploração pelos humanos.
Segundo Dmitriev, a Rússia já recebeu interesse de 20 países para a compra de 1 bilhão de doses da vacina. Com os parceiros estrangeiros, diz que já prepara a produção de mais de 500 milhões de doses por ano em cinco países. A expectativa é de que na América Latina ocorra parceria de produção “possivelmente no Brasil”, como também em Cuba.
Depois da entrevista, Dmitriev tirou dúvidas sobre a situação no Brasil. Confirmou que já fechou acordo com “duas grandes companhias” no país. Também fechou parcerias com alguns Estados e continua em discussões com o governo federal. O plano é de fazer anúncios ainda nesta semana.
Com o registro feito pelo Ministério da Saúde, a Rússia enviou os dados de sua vacina para a Organização Mundial de Saúde (OMS) para ser incluída na lista internacional sobre as vacinas contra a covid-19.
De seu lado, a OMS disse estar em contato com as autoridades russas sobre o “possível processo de pré-qualificação para uma vacina candidata contra o covid-19, o que requer rigorosa avaliação”.
A vacina russa é desenvolvida pelo Gamaleya Center e baseada numa plataforma de vetores baseados em adenovírus, usada com sucesso na produção de vacina contra Ebola em 2015.
Os russos alegam que concorrentes usam apenas um tipo de adenovírus como vetor, reduzindo seu potencial para criar uma imunidade de longa duração.
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