Criada por Guilherme Leal, fundador da Natura, e um ex-funcionário da empresa, a Dengo tem nove lojas e vende chocolate vindo de produtores da Bahia

Estevan Sartoreli, presidente da Dengo e ex-Natura: objetivo é incentivar a melhoria da qualidade do chocolate nacional.

Coronéis, romances e cenários em fazenda de cacau: elementos da obra do escritor baiano Jorge Amado vêm fazendo há décadas os cenários do sul da Bahia gravarem presença no imaginário brasileiro. Mas um movimento de chocolate de alta qualidade produzido na região quer fazer Ilhéus e seus arredores serem lembrados não só pelo glamour da literatura do século passado e por passeios turísticos, mas pelo cacau do presente.

Um dos expoentes desse movimento é a Dengo, fabricante de chocolates 100% brasileiros e co-criada por Guilherme Leal, sócio-fundador e copresidente do conselho de administração da Natura. O nome bem brasileiro — o termo “dengo”, na Bahia, é usado para simbolizar carinho, amor e cuidado — reflete a origem da empresa, que teve a semente plantada quando Leal comprou uma propriedade no sul da Bahia e passou a conhecer melhor a região.

O objetivo inicial era não fazer negócio por lá, e somente encontrar formas de melhorar a economia local. No fim, o executivo foi convencido anos depois pelo ex-funcionário Estevan Sartoreli, que havia passado 12 anos na Natura, a levar adiante o projeto do que hoje é a Dengo.

Ao lado de Leal, Sartoreli é um dos sócios da empresa e presidente da rede de lojas de chocolate, em um empreedimento que vende chocolate de alta qualidade usando matéria prima de produtores parceiros da Bahia — e que são pagos, segundo a empresa, 70% a mais do que a média do mercado. No fim, é inevitável notar semelhanças com a Natura, como a preocupação com sustentabilidade e a cadeia.

Com essa ideia em mente, a Dengo chega a sua segunda Páscoa com nove lojas no Brasil e 136 produtores de cacau parceiros. Sartoreli, que recebeu a Exame em uma das unidades da Dengo, no Shopping Eldorado, em São Paulo, classifica o empreendimento como um negócio de impacto social, nascido com o objetivo de gerar renda para os produtores da região. Mas que deve ser tratado como um negócio como qualquer outro. “Se fossemos fazer estudo de mercado, não faríamos nada”, brinca. “No fim do dia, tem que ter negócio. Ninguém vai comprar chocolate porque somos ‘a marca do bem’. Vão comprar porque é bom”, diz.

De pequenas barras de chocolate de cinco reais a um dos ovos mais caros desta Páscoa, recheado com vinho de cacau e que passa de 300 reais, a Dengo mira nas classes A e B, mas diz que quer que todos consigam comprar nas lojas. O intuito é fazer frente a marcas estrangeiras vistas como “premium” pelo consumidor brasileiro, como Lindt e Kopenhagen (também dona da Brasil Cacau), além da também brasileira Cacau Show.

O preço do quilo dos chocolates da Dengo é de cerca de 200 reais, mas na loja é possível comprar produtos mais modestos, como uma barra de 80 gramas por cerca de 20 reais. Há ovos de páscoa por cerca de 50 reais, mas também ovos que passam dos 100 reais. Sartoreli afirma que o ovo mais caro da Páscoa é um ponto fora da curva, e que 80% do faturamento vem desses produtos voltados para a classe média, por menos de 100 reais. “Esse ovo de mais de 300 reais é só para mostrar tudo do que o cacau brasileiro é capaz. Mas também queremos produtos acessíveis, que todo mundo possa consumir”, diz o presidente. A empresa também vende cafés, como forma de aumentar o movimento das lojas.

Fonte: https://exame.abril.com.br/pme/com-chocolate-de-10-a-300-fundador-da-natura-briga-com-lindt-e-cacau-show/

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