Estudo da Deloitte revela que as empresas já entendem as mudanças conceituais dessa nova era, mas ainda devem descobrir como aproveitar as transformações

Os negócios precisam se transformar em ritmo cada vez mais acelerado, assimilando tecnologias modernas e incorporando-as a seus processos produtivos com um dinamismo nunca antes visto. O nome disso é “Indústria 4.0”, também chamada de Quarta Revolução Industrial. Uma pesquisa recente da Deloitte, feita com mais de 1,6 mil executivos de 19 países, analisou justamente como suas empresas estão se adaptando para essa nova realidade.

No estudo, foram avaliadas as maneiras como clientes, funcionários, sociedade e a própria empresa irão se beneficiar com as inovações tecnológicas da Indústria 4.0. Em termos globais, 47% dos executivos afirmam já utilizar tecnologias de ponta para possibilitar que seus funcionários sejam mais eficientes. Enquanto isso, apenas 29% fazem o mesmo no Brasil.

Enquanto 47% dos executivos da amostra global acreditam utilizar tecnologias de ponta para possibilitar que seus funcionários sejam mais eficientes, somente 29% dos entrevistados brasileiros dizem o mesmo.

Por outro lado, o Brasil sai na frente dos demais países em outro quesito pesquisado. Quando o assunto é o uso de tecnologias de ponta nas operações para promover a circulação eficaz de mercadorias e serviços em toda a cadeia de suprimentos, 26% das empresas brasileiras se dizem altamente capazes – frente a apenas 20% do nível global.

Indústria 4.0: origem e limites

O conceito dessa nova revolução industrial começou a se popularizar a partir de 2011, quando o termo foi citado pela primeira vez em um documento da GTAI, a agência do governo alemão para comércio e investimento.

Atualmente, entende-se a Indústria 4.0 como a convergência entre os meios físicos de produção e a tecnologia da informação (a exemplo de Internet das Coisas, robótica, análise de Big Data, computação em nuvem, Inteligência Artificial e Realidade Aumentada, entre outros).

Como resultado de tamanha integração e controle da produção, surge um novo modelo em que os processos se tornam cada vez mais customizáveis, autônomos e eficientes – o que traz ótimos resultados para as empresas. Esse tipo de modernização tende a estar presente em todas as cadeias produtivas no curtíssimo prazo. A intensificação do uso da tecnologia e a constante troca de dados entre máquinas e insumos garantem mais flexibilidade na cadeia produtiva e uso mais eficiente dos recursos disponíveis.

Mas não é só isso. Em indústrias inteligentes, novos modelos de negócios surgem com base nas demandas e necessidades reais dos consumidores – e tudo pode ser fabricado em tempo real, sem a necessidade de manutenção de estoques.

“É necessário que os executivos identifiquem o que mudará em sua empresa com a Indústria 4.0. Além da tecnologia, os aspectos relacionados a estratégia e a qualificação das pessoas impactarão tanto o ambiente interno, como também a cadeia de clientes e fornecedores. É uma transformação no mercado local e internacional que vai requerer planejamento e investimento de longo prazo, resultando na configuração de novos modelos de negócio”, explica Ronaldo Fragoso, sócio-líder de Desenvolvimento de Mercado da Deloitte.

A realidade brasileira

A pesquisa da Deloitte revelou que, no Brasil, há várias empresas adotando soluções tecnológicas, mas elas ainda são departamentais, ou seja, não estão integradas, de modo que a visão holística muitas vezes se perde.

De acordo com Ronaldo Fragoso, da Deloitte, parece existir um “descolamento” entre as percepções sobre Indústria 4.0 no Brasil e nos demais países. Ele explica que muitos executivos acreditam que suas empresas estão no caminho adequado, mas ainda desconhecem todas as oportunidades que as novas tecnologias podem proporcionar.

“A indústria brasileira vinha tendo poucas chances de pensar sobre incorporação das novas tecnologias e modernização dos processos por conta das dificuldades econômicas”, explica Fragoso. “Era difícil fazer investimentos para acelerar essa transição à Indústria 4.0 com dois ou três anos de recessão. Agora, diante da melhoria do ambiente econômico, isso volta à pauta das empresas”, diz.

Desafios da Indústria 4.0

Não há desafio grande o bastante no mundo dos negócios que não possa ser superado com informação adequada e um bom plano estratégico. O primeiro passo para a indústria acelerar sua transformação digital é investir em conhecimento sobre os modelos produtivos informatizados.

Além disso, é claro, as iniciativas governamentais se mostram fundamentais para dar respaldo ao desenvolvimento da Indústria 4.0. “Nesse sentido, a melhor contribuição do governo é se empenhar na oferta de infraestrutura adequada, como telecomunicações de qualidade e terminais portuários e aeroportuários”, ressalta Ronaldo Fragoso.

Questões estratégicas

Quando se trata de estratégia relacionada à Indústria 4.0, segundo o levantamento realizado pela Deloitte, os executivos do Brasil não estão tão focados em discutir novos modelos de negócio quanto os executivos da amostra global.

De acordo com os brasileiros entrevistados, os tópicos mais frequentemente discutidos dentro das empresas no último ano foram: como impulsionar o crescimento da receita bruta, a adoção de novas e modernas tecnologias em toda a empresa, o desenvolvimento de novos produtos e serviços, o aumento da produtividade e o impacto que as novas soluções trarão à sociedade.

Ao se debruçar sobre questões que podem impactar as organizações nos próximos cinco anos, os executivos do Brasil se mostram preocupados principalmente com surgimento de novos negócios ou modelos de entrega, o ambiente regulatório em constante mudança e também o aumento da ameaça de risco cibernético.

Recursos humanos para a Indústria 4.0

O estudo da Deloitte também revelou que, quando se fala em Indústria 4.0, a atenção dos executivos brasileiros está muito voltada às questões de recursos humanos. Por exemplo: 98% dos entrevistados brasileiros responderam que estão fazendo tudo o que podem para criar uma força de trabalho para a Quarta Revolução Industrial – contra apenas 86% do restante do mundo.

98% dos entrevistados brasileiros responderam que estão fazendo tudo o que podem para criar uma força de trabalho para a Quarta Revolução Industrial – contra apenas 86% do restante do mundo

71% dos executivos brasileiros afirmam que a maioria de sua força de trabalho pode ser treinada para ter as habilidades necessárias na Indústria 4.0, versus 61% dos executivos de outros países.

Já ao serem questionados sobre formas de contratação, 60% deles afirmaram que a tendência é ter funcionários com contratos em tempo integral em vez de contratos temporários. Os brasileiros também acreditam – mais que seus pares globais – que as leis trabalhistas e contratos atuais continuarão a funcionar.

Apenas 29% dos entrevistados brasileiros dizem que precisarão contratar pessoas novas para ter as habilidades que necessitam. Na amostra global, 39% dos executivos pensam o mesmo.

Tecnologias avançadas para problemas urgentes

A tecnologia é encarada de maneira diferente pelos executivos do Brasil e de outros países: 39% dos executivos brasileiros consideram a tecnologia um diferencial competitivo, contra apenas 20% obtidos nas respostas globais. Essa variação é considerada relevante, já que a visão dos executivos em relação à tecnologia parece ser um indicativo de quão preparadas as empresas acreditam estar para a Indústria 4.0.

No Brasil, os executivos também se mostram mais dispostos a endereçar diversos desafios tecnológicos da Indústria 4.0. Um exemplo disso é que 42% dos respondentes acreditam viabilizar um ecossistema com participantes diversos para entregar mais valor aos clientes – contra 33% obtidos nas respostas globais. E 22% dos entrevistados brasileiros dizem usar tecnologias avançadas para conseguir resolver desafios urgentes em suas empresas (versus 20% dos respondentes globais).

O estudo ressalta ainda que não é suficiente fazer simples uso das tecnologias físicas e digitais para inserir a empresa na Quarta Revolução Industrial. É preciso, na verdade, haver uma integração total entre as tecnologias e toda a cadeia produtiva.

Para completar, os executivos precisam identificar diferentes oportunidades de fortalecer conexões-chave que trarão benefícios para não só para a empresa em si, mas também para clientes, funcionários e a sociedade de forma mais ampla.

Fonte: http://conteudodemarca.valor.com.br/deloitte/materias/industria-4/

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