Incertezas externas, citadas com ênfase em agosto, deram espaço à visão de que há uma melhora, ainda que marginal, das condições financeiras globais

No primeiro dia de reuniões trimestrais entre economistas de mercado e diretores do Banco Central (BC), no Rio de Janeiro, a percepção de que há uma desaceleração em vigor da atividade econômica se consolidou e fortaleceu a sensação de que o crescimento econômico de 2024 deve ser afetado. Além disso, preocupações com a condução da política fiscal foram expostas pelos participantes nas duas reuniões, enquanto as incertezas externas, citadas com ênfase em agosto, deram espaço à visão de que há uma melhora, ainda que marginal, das condições financeiras globais.

No primeiro encontro, que ocorreu entre 9h e 10h30, o processo de desaceleração econômica em curso foi citado com alguma preocupação pela maioria dos participantes. A dispersão entre as projeções para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao terceiro trimestre foi pequena, mas a incerteza em torno do cenário para 2024 se mostrou maior, com algumas estimativas de 0,8% e outras de 2%.

Uma das casas mais otimistas em relação ao crescimento econômico de 2024 apontou que há espaço para um incremento da população ocupada e que alguns fatores devem ajudar o PIB do próximo ano, como uma redução do endividamento das famílias, além de aumento dos investimentos e da influência dos cortes nos juros. Já casas mais pessimistas com a atividade citam surpresas negativas para a indústria de transformação e serviços nos últimos meses. Um dos presentes, inclusive, apontou que há um pessimismo entre empresários e o fato de a inadimplência estar bastante elevada entre as famílias.

Nos dois encontros, as preocupações fiscais estiveram sobre a mesa e houve uma convergência entre as opiniões dos agentes. Na segunda reunião, economistas citaram dúvidas sobre se a visão do Ministério da Fazenda sobre a gestão das contas públicas era predominante no governo. De acordo com um dos presentes, foram levantadas dúvidas sobre como o governo. De acordo com um dos presentes, foram levantadas dúvidas sobre como o governo irá encarar o enfraquecimento da atividade que já está sendo observado.

É consensual, ainda, a ideia de que o déficit primário será maior que o equilíbrio buscado pela Fazenda em 2024 e, de acordo com um dos presentes no segundo encontro, mesmo se a meta for mantida até fevereiro ou março, a expectativa é que o déficit seja maior. Durante a primeira reunião, inclusive, houve quem desse ênfase à fragilização do novo arcabouço fiscal, que nem chegou a entrar em vigor, o que mostra um ponto de atenção delicado quanto à condução das contas públicas.

Um dos presentes no primeiro encontro mostrou preocupação com a possibilidade de o Congresso diluir o impacto de medidas que ainda podem ser aprovadas, como o projeto de subvenção do ICMS.

Em relação à inflação, houve unanimidade nas duas reuniões quanto ao comportamento benigno do IPCA nos últimos meses, diante de um processo de desinflação intenso nos preços de serviços e nos núcleos. Alguns participantes, porém, apontaram riscos em torno do El Niño e do salário mínimo em 2024. Na primeira reunião, houve quem apontasse que o movimento de desinflação é “surpreendente” dado o nível de atividade, o que poderia ser explicado pelas reformas passadas e por uma Nairu (taxa de desemprego estrutural) mais baixa.

As projeções citadas para a Selic no fim do ciclo de aperto monetário giraram em torno de 9,5% nos dois encontros. Para a maioria, a taxa de juros deve cair abaixo de 10%, mas há incerteza sobre quanto mais o Banco Central conseguirá reduzir os juros.

Vale apontar, ainda, que o cenário externo, que era a principal preocupação dos agentes na reunião de economistas do terceiro trimestre, apresentou leve alívio na margem, de acordo com os presentes nos dois encontros de hoje no Rio. Para a maioria, o Federal Reserve (Fed) deve se manter mais cauteloso, mas houve uma distensão no curto prazo diante, mas houve uma distensão no curto prazo diante de números abaixo do esperado da inflação nos Estados Unidos nos últimos dias.

Um dos presentes no primeiro encontro, inclusive, disse não ter cautela excessiva com o câmbio à frente, ao acreditar que o diferencial de juros não deve cair de forma expressiva.

Fonte: https://valor.globo.com/financas/noticia/2023/11/16/preocupaes-fiscais-e-com-desacelerao-econmica-marcam-reunies-do-bc-com-economistas.ghtml

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