Alessandro Carlucci, presidente da Natura, que poderá vender alimentos, bijuterias e itens para o lar: “Para alguns produtos, não vamos ter revista impressa”

A expansão do projeto digital da Natura para todo o Brasil, prevista para ocorrer ao longo deste ano, será o motor da estratégia de crescimento da empresa para os próximos anos. Segundo o presidente da companhia, Alessandro Carlucci, esse passo será essencial para o plano de diversificar seus negócios com novas categorias de produtos, canais de vendas e mercados.

“Sem isso, novas categorias, marcas e produtos não são viáveis”, afirma Carlucci. “O modelo tem que ser outro. Para alguns produtos, não vamos ter revista impressa, por exemplo”. Segundo ele, a empresa poderá ampliar sua oferta para segmentos como alimentos, vestuário, bijuterias e artigos para casa. Os itens podem ser desenvolvidos pela companhia ou vir de outros fornecedores. “Mas a gente não quer diversificar e vender qualquer coisa”, ressalta Carlucci. Tem que ser empresas comprometidas com a sustentabilidade, com produtos de alta qualidade e esteticamente diferenciados”.

O projeto digital, chamado de Rede Natura, permite que cada consultora da companhia tenha uma espécie de loja virtual. Os consumidores, por sua vez, têm mais opções de pagamento e recebem o produto mais rapidamente, já que a entrega é feita diretamente pela companhia, que nos últimos anos diminuiu seu prazo de envio, com ampliação da capacidade logística. Neste ano, inaugurou um centro de distribuição em São Paulo. Por enquanto, o serviço está disponível apenas para consultoras e consumidores de São José dos Campos e Campinas (SP).

A companhia chegou a testar em 2007 a venda de alimentos, como sopas, sopas desidratadas, sucos, chás e barras de cereais feitos com matérias-primas orgânicas, mas, segundo José Vicente Marino, vice-presidente de negócios da Natura, esse projeto não era uma prioridade da companhia na época e também não teve boa aceitação entre as consultoras. “Elas não se interessaram tanto pelo conceito para oferecer para suas consumidoras”, afirmou.

O primeiro passo para a diversificação do portfólio da Natura foi a aquisição da rede australiana de lojas de cosméticos de luxo Aesop, há um ano. A marca tem lojas em 11 países da América do Norte, Europa, Ásia e Oceania, e a Natura vai trazê-la ao Brasil e a outros países da América Latina.

Ao mesmo tempo em que avalia novas áreas de atuação, a companhia investe em seu negócio principal. Ontem, inaugurou uma fábrica de sabonetes em Benevides (PA), a 35 km de Belém. A unidade vai produzir 80% de todos os sabonetes da companhia, categoria que representa 10% da receita total. Em 2013, a Natura obteve receita de R$ 7 bilhões, uma alta de 10,5% sobre o ano anterior, puxada pelas operações internacionais. Só no Brasil, a expansão foi de 5%.

A categoria de sabonetes é a quarta maior do mercado brasileiro de cosméticos, perfumaria e higiene pessoal, presente em todos os lares brasileiros. Segundo Carlucci, a Natura é a terceira marca do mercado, apesar de um item de consumo diário e baixo preço como o sabonete ser mais importante no varejo do que na venda direta. “Estamos investindo [em Benevides] com a expectativa de expandir, quem sabe até ser o segundo do mercado”, disse Carlucci. A líder é a Unilever, dona das marcas Lux, Dove e Lifebuoy.

Até agora, a empresa investiu R$ 178 milhões na unidade parense, que terá 250 funcionários. A companhia tinha desde 2007 uma saboaria no mesmo município, com 60 empregados que serão transferidos para o local. A saboaria transformava os óleos e manteigas em bases para sabonete (noodles) e será desativada no próximo mês.

Segundo Josie Romero, vice-presidente de operações e logística da Natura, a fábrica trará um ganho operacional para a companhia, pois fica próxima das áreas de extração das matérias-primas para seus sabonetes – como cacau, andiroba, cupuaçu, castanha e buriti – e vai distribuir os itens para todo o Brasil e operações internacionais. Com isso, a companhia não precisará mais transportar as bases dos sabonetes para o Sudeste, onde era feita a produção final em empresas terceirizadas.

Das 32 comunidades que extraem e fornecem ativos naturais para a Natura no Brasil, 25 estão na região da Amazônia, nos Estados do Pará, Amazonas, Rondônia, Amapá e Maranhão, o que atraiu a companhia para o local.

Em 2011, quando a Natura instituiu o Programa Amazônia, 10% das matérias-primas consumidas pela companhia vinham da região. A meta é aumentar essa parcela para 30% até 2020. Ao longo desses dez anos, a empresa espera movimentar R$ 1 bilhão na Amazônia.

A fábrica está situada a 5 km de distância da antiga saboaria, num complexo de 172 hectares. A Natura ocupa só 6% da área e vai dividir o terreno com outras indústrias. A alemã Symrise, fornecedora de óleos e fragrâncias, é a primeira parceira e vai instalar sua fábrica no parque industrial em outubro. O presidente da companhia, Achim Daub, disse que serão aplicados cerca de € 5 milhões na unidade, que vai atender fabricantes de cosméticos brasileiros e de fora.

Além da Symrise, a Natura prevê atrair indústrias alimentícias, farmacêuticas e de cosméticos para o local. “Queremos mudar a dinâmica industrial e compartilhar o acesso sustentável às cadeias da biodiversidade amazônica”, disse Josie Romero.

Fonte:http://www.clubedaembalagem.com.br/noticias/0/4019

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