O Dia, por um bom tempo, caiu nas graças dos brasileiros pelos preços baixos e localização das franquias em pontos estratégicos. Mas não consegue engrenar por aqui já há alguns anos
A conta não é muito animadora para qualquer grupo estrangeiro que considere entrar no varejo alimentar brasileiro. Mas o fato é que, de cinco anos e meio para cá, os americanos do Walmart, os franceses do Casino e os espanhóis da rede Dia desistiram (ou foram obrigados a parar) de operar no Brasil.
No caso do Dia, a decisão de vender a operação local já foi tomada na matriz, como o Valor noticiou no fim do ano passado, e a empresa disse hoje que avalia novas “opções estratégicas” para o Brasil ainda em 2024.
Sobre as outras cadeias, se o alto endividamento na França obrigou o Casino a rever seu investimento no país com o GPA (ele já vendeu sua posição no Assaí em 2023 e deve iniciar sua saída do GPA neste ano), no Walmart os resultados abaixo do esperado e a complexidade tributária (que tira a eficiência da operação) fizeram os americanos abrirem mão do mercado. A empresa vendeu o controle de seu negócio para a gestora Advent na metade de 2018.
De certa forma, os números decepcionantes de desempenho também levaram os espanhóis do Dia a tomar a decisão de rever investimentos no país, algo que já se discutia há anos na matriz.
O Dia, por um bom tempo, caiu nas graças dos brasileiros pelos preços baixos e localização das franquias em pontos estratégicos. Mas não consegue engrenar por aqui já há alguns anos, com perda de volume no ano passado e queda na lucratividade. Alega agora competição forte com os atacarejos, também agressivos em preços.
Os atacarejos são um negócio genuinamente brasileiro, com características peculiares, e que redes estrangeiras ainda estão aprendendo a como competir.
Em 2019, a fraude contábil identificada pela matriz do Dia nas vendas no Brasil já tinha sido um baque duro na organização.
Entre tantas saídas, a entrada de maior peso foi da mexicana Oxxo, em 2021, hoje com mais de 350 pequenas lojas de vizinhança.
E o on-line chinês cresce.
Raramente dá para olhar esse movimentos e generalizar as razões pelas quais as redes vão tirando o Brasil do seu mapa de países de atuação, e efetivamente os motivos variam. Existe de má gestão, com tomadas de decisões erradas, ao cenário de forte competição num mercado complexo e extremamente pulverizado como o brasileiro.
Só que não dá para deixar de levar em conta que esses desinvestimentos tornam o varejo local menos globalizado.
A entrada no país de novas cadeias internacionais, a troca de informações com grupos de operação mundial — além do óbvio aumento de concorrência — ajuda a oxigenar esse mercado, gerando emprego, riqueza e atraindo atenção do varejo global ao Brasil.
Não que as redes locais médias e grandes não sejam inovadoras — e há muitas espalhadas pelo país dando um banho de gestão — mas, historicamente, são os grandes grupos capitalizados, com iniciativas em tecnologia e robotização, que puxam essa fila, pela capacidade de investimento e escala.
É um movimento que acontece ao mesmo tempo em o comércio internacional cresce pelas plataformas on-line, especialmente as chinesas.
Se no Brasil entraram mais redes do que saíram, os marketplaces estrangeiros invadiram o país e se vão se consolidando num cenário de concorrência global digital, basta ver Mercado Livre, Amazon, AliExpress, Shopee e Shein — e a dor de cabeça criada em torno do debate das diferenças de impostos cobradas de lojistas de redes nacionais e internacionais.
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