A mudança de hábitos dos consumidores em busca de alimentação saudável tem obrigado gigantes a transformarem seus negócios. A Coca-Cola, por exemplo, começou a investir em sucos naturais e água de coco, e a Unilever se viu obrigada a oferecer snacks saudáveis. Enquanto as grandes tentam mudar sob pressão, um grupo de startups já nasce conectado aos novos hábitos da população. Uma das empresas que desponta nessa corrida é a paulista LivUp. Fundada em 2016, a empresa entrega refeições congeladas de pratos como hambúrguer de salmão e frango com crosta de castanha de caju, além de sopas e sobremesas. Para ir além da marmita, a empresa usa a técnica do ultracongelamento: com ela, é possível congelar uma refeição em meia hora, no lugar das dez horas exigidas por um freezer tradicional. Segundo o engenheiro Victor Santos, fundador da startup, isso ajuda a manter textura, sabor e nutrientes da refeição, que pode ficar no freezer por até seis meses. “As pessoas querem uma alimentação saudável, mas também exigem praticidade e conveniência”, diz ele, que vende 100 mil refeições por mês. A empresa também aposta na tecnologia para conhecer melhor seu consumidor, colocando nutricionistas e engenheiros de dados lado a lado para entender hábitos e reações de seus clientes. Assim, a empresa pode refinar seu cardápio a partir das sugestões dos consumidores. Outra habilidade é ser capaz de entregar alimentos mais frescos com o agendamento das entregas das refeições, cujo preço começa em R$ 5. Com R$ 10 milhões já recebidos em aportes, a LivUp opera nas capitais de São Paulo, Rio e Minas. “A receita da startup cresce cinco vezes ao ano. Pode ser mais”, diz Santos. Quem também busca facilitar o acesso a opções saudáveis é a BeGreen, que criou uma horta urbana em um shopping em Belo Horizonte (MG). Para tornar o ambiente urbano propício para as hortaliças, a empresa desenvolveu seus próprios sensores e climatizadores. São eles que ajudam na qualidade das alfaces e beterrabas plantadas e vendidas no local, sem intermediários. “As cidades estão crescendo demais e os alimentos acabando. A fazenda urbana é uma solução”, diz Giuliano Bittencourt, cofundador da Be Green. Hoje, a empresa só atua na capital mineira, mas prevê para breve a abertura de uma estufa em São Paulo. “Podemos produzir muito mais do que um produtor convencional, sem agrotóxicos”, diz. Entrega. “A alimentação saudável é uma das maiores tendências no setor de alimentos e bebidas, ao lado do delivery”, afirma o diretor da consultoria Food Consulting, Sérgio Molinari. Segundo ele, o segmento deve crescer acima do mercado de comida e bebida, que pode ter alta de 2,9% neste ano e de até 4,3% em 2021. Mas ainda que as perspectivas chamem a atenção, há barreiras a serem vencidas. Um exemplo é a logística: para crescerem pelo País, cheio de dificuldades de infraestrutura, as startups devem ter um bom plano de atuação. “Há um problema no ganho de escala dessas empresas por conta da extensão territorial”, diz Amure Pinho, diretor da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). “É difícil fazer a entrega de um produto de forma competitiva do outro lado do País. Já o cliente, pelo preço, vai preferir algo que esteja perto de casa e não atrapalhe as contas”, avalia o especialista. Quem tem enfrentado a questão é a Hisnëk, dona de um clube de assinatura de snacks saudáveis, como chips de tapioca e palitos de queijo meia-cura. Com sede no bairro paulistano da Lapa, a startup tem dificuldades para entregar produtos nas regiões Norte e Nordeste. Quando isso ocorre, a empresa aposta na atenção com o cliente. “Se uma caixa está demorando para chegar no destino, enviamos logo uma igual para o usuário não se sentir desassistido”, diz Carolina Dassie, fundadora da empresa. “Para o cliente, não é problema da transportadora, mas nosso.” Outra saída encontrada pela startup foi fechar parceria com empresas. Assim, cada companhia paga R$ 3 por funcionário, permitindo que os empregados assinem as caixas da empresa com desconto – o box principal, com 22 itens, cai de R$ 94,90 para R$ 66 no plano corporativo. Dessa forma, a Hisnëk pode encontrar clientes em regiões próximas, reduzindo o custo da entrega. Ao mesmo tempo, atende a uma demanda dos brasileiros: segundo a Food Consulting, 55% das pessoas se preocupam com a qualidade das refeições que fazem no trabalho. Aposta. As startups também têm chamado a atenção de empresas tradicionais do setor. Nos EUA, a Pepsico já lançou um programa de aceleração que dura seis meses e dá US$ 100 mil para a empresa que mais se destacar. Aqui no Brasil, há iniciativas semelhantes: caso da Jasmine Open Table, criada pela produtora paranaense de alimentos orgânicos Jasmine. Criada em 2017, a aceleradora selecionou dez startups, com soluções que vão de embalagens mais eficientes à produção de bebidas sem conservantes ou açúcar. Para Jean Baptiste Cordon, presidente executivo da empresa, é hora de recuperar o tempo perdido. “O Brasil já esteve muito atrasado no setor, mas agora cresce bastante”, diz. “É preciso fazer isso com responsabilidade.”
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