A indústria da chamada “clean beauty”, que deve alcançar faturamento global de US$ 15,3 bilhões até 2028, segundo a consultoria Statista, está ampliando o portfólio para atender às famílias dos consumidores desde os primeiros dias de vida. A ideia de marcas brasileiras de beleza limpa é que, embora o mercado massivo de cuidados pessoais para bebês e crianças já trabalhe com certificação pediátrica, há um espaço a ser conquistado com produtos ainda mais suaves — que também podem ser utilizados pelos adultos.

A denominação de beleza limpa não é exata e, sem legislação específica, a lista de ingredientes apontados como possivelmente cancerígenos, alergênicos ou disruptores endócrinos ultrapassa os 600 componentes. São exemplo os ingredientes de protetor solar que desequilibram o ecossistema de corais nos oceanos, conservantes do tipo parabenos utilizados em várias categorias de produtos, derivados do petróleo como petrolato e parafina líquida, dentre outros.
 
O veganismo, incluindo não realizar testes em animais ou incluir componentes de origem animal na composição, também faz parte da bandeira.

A Mustela, que tem certificação Ecocert de produtos orgânicos, iniciou, neste ano, a produção de itens no Brasil, em sua primeira operação fabril fora da França em 90 anos. O Brasil é o quarto maior mercado global da Mustela, de acordo com o gerente-geral, Mauro Zamora, e deve atingir faturamento de R$ 180 milhões em 2024, alta de 30% em relação ao ano passado. Apesar da forte base de comparação, ainda há “muito espaço de crescimento”, na avaliação de Zamora.

A produção local não incluiu o investimento em fábricas próprias e, após transferência de tecnologia, está sendo realizada por fabricantes parceiros. A companhia não descarta investir em instalações próprias no país, inclusive tornando o Brasil fornecedor para a América Latina, mas afirma que ainda é cedo. “Fizemos três anos de testes para que o produto brasileiro fosse idêntico ao produzido fora, com muita pesquisa, e agora vamos pensar nos próximos passos”, afirma o executivo.

Além da importância do mercado local, onde a Mustela opera há dez anos, o início da produção no país também visa o compromisso da companhia em zerar emissões de carbono — ou mesmo tornar-se geradora de créditos— até 2050. Para isso, de acordo com o gerente-geral, uma das estratégias é se aproximar de fornecedores locais e dos mais de 22 mil pontos de venda no Brasil. “Hoje, mais 90% da nossa produção global estão na França e é preciso descentralizar”, afirma Zamora.
 
A pesquisa de hábitos do consumidor brasileiro também levou ao lançamento inédito de um refil do gel lavante, que fora do país só existe no formato de frasco plástico de uso único. O portfólio nacional é formado ainda por um óleo hidratante contra estrias, direcionado às gestantes, e um creme hidratante à base de abacate.

“O principal consumidor da marca são as famílias com bebês de até dois anos, mas estamos expandindo nosso público-alvo para crianças e toda a família. Os consumidores buscam rotinas mais práticas e minimalistas. Então, a ideia é que não seja necessário comprar um produto para cada pessoa da família”, afirma Marília Mesquita, diretora de marketing, demanda e responsabilidade socioambiental corporativa da Mustela Brasil.

O uso por bebês e adultos também é uma tendência identificada pela Simple Organic, empresa brasileira de maquiagem e cuidados com a pele, que estreou no mercado infantil em outubro. “Os produtos foram planejados para a suavidade da pele infantil, mas os adultos podem usar também. Para muitas pessoas, o produto multiuso é importante, faz parte do consumo consciente”, afirma a fundadora da Simple Organic, Patricia Lima.

O portfólio inclui sabonete líquido e espuma de banho, hidrante corporal, óleos essenciais para aromatizadores e difusores, produtos para roupa de cama e um óleo corporal destinado à massagem Shantala, que fortalece os vínculos entre os bebês e a família. “Além da formulação, há o lúdico ganhando espaço. É uma linha cuja bandeira é cuidar do planeta para essas futuras gerações”, afirma a fundadora.

A marca, que foi adquirida pela HyperaCotação de Hypera Pharma em dezembro de 2020, não revela números de investimentos ou previsão de faturamento. “Mas deve ser como uma marca própria, à parte do que já temos”, diz Patrícia Lima.

O vislumbre da fundadora da Simple Organic tem respaldo na história da indústria brasileira. A Granado foi uma das empresas pioneiras no segmento, há 30 anos, e hoje a linha para bebês representa cerca de 35% do faturamento anual de R$ 1 bilhão, de acordo com a diretora de marketing e vendas da Granado, Sissi Freeman.
 
Christopher Freeman, que comprou a perfumaria centenária na década de 1990 e é pai de Sissi, desenvolveu a linha ao notar que uma grande fatia das vendas do sabonete de glicerina eram para banhos em bebês. A fórmula com ingredientes naturais e a limpeza suave, de acordo com as famílias, foram vistos como atrativos para o uso infantil.

A partir daí, a companhia criou a divisão de produtos específica Granado Bebê, com uso de fragrâncias pouco comuns em produtos infantis até então, como camomila e calêndula. O portfólio cresceu para produtos com fragrância de lavanda, produtos sem perfume, além de uma linha dermocalmante destinada às peles mais sensíveis.

“Ao longo dos anos, a linha foi crescendo muito. Apresentamos o produto a pediatras, que passaram a recomendar, e hoje nós temos parcerias com vários hospitais e maternidades”, afirma Sissi Freeman.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/12/11/com-produtos-multifuncionais-industria-clean-beauty-se-volta-ao-publico-infantil.ghtml

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