Fabricantes como Gallo e Andorinha investem em novos produtos e campanhas de marketing para atrair diferentes perfis de público e recuperar as vendas.

O azeite está mais caro e andou sumindo da mesa de muitos brasileiros. Com os preços registrando alta de cerca de 50% nos últimos 12 meses, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fabricantes investem em novos produtos e campanhas de marketing para atrair diferentes perfis de público e recuperar as vendas, que caíram 20% no período, de acordo com dados de setembro de 2024 da NielsenIQ.

Nesse cenário, a Gallo, controlada por Unilever e Sociedade Francisco Manuel dos Santos, anunciou há poucas semanas o lançamento de duas novas marcas no país, com um investimento de R$ 20 milhões. O objetivo é dobrar o faturamento no Brasil até 2029 e transformar a operação em uma “casa de marcas”.

Entre as novidades está um óleo de oliva, extraído da segunda prensagem das azeitonas, com a nova marca “de olliva”. Ainda pouco conhecido no mercado nacional, o produto possui sabor mais neutro e é voltado para grelhar e refogar alimentos. Pela legislação brasileira, é classificado como óleo de bagaça de oliva. O item será vendido em embalagens plásticas, com a logomarca da Gallo discretamente posicionado na parte inferior do rótulo.

Com preço sugerido abaixo de R$ 30, a empresa mira consumidores da classe C, além de públicos A e B que buscam alternativa mais econômica para cozinhar. “O foco é aumentar a presença nos lares. Quem utiliza azeite para cozinhar consome até seis vezes mais produto. Acaba sendo também uma porta de entrada para quem deseja uma gordura mais saudável, mas não pode consumir azeite de oliva regularmente”, diz a presidente da Gallo Worldwide no Brasil, Cristiane Souza.

Apesar da queda no volume de vendas, Souza diz que o faturamento da empresa foi preservado já que os preços também foram reajustados, com o produto chegando a uma média de R$ 50 para o consumidor final.

A estratégia de lançar um produto voltado à cozinha busca reconquistar o público que migrou para margarina, manteiga ou óleos mais baratos. “É uma extensão importante de linha”, diz a executiva. A Gallo é de capital fechado e não informa o valor de suas vendas.

Paralelamente, a companhia aposta também no segmento premium com produtos voltados para harmonização, inspirada na segmentação de vinhos e cafés. A linha Casa Gallo chega com embalagem de vidro arredondada, sem a logomarca da Gallo.

São três variedades de azeite: frutado, produzido com azeitonas roxas e indicado para carnes e grelhados; verde, com azeitonas verdes para frutos do mar; e maduro, extraído de azeitonas pretas, com sabor mais acentuado e versátil, podendo ser usado até em sobremesas.

A tendência de combinar azeite com sobremesas, aliás, ganhou visibilidade entre jovens após a cantora Dua Lipa revelar que sua sobremesa preferida é sorvete de baunilha com sal e azeite. “Existe um público A e B que já quer essa diferenciação de sabor”, comenta Souza.

A chegada da executiva à presidência da companhia em janeiro do ano passado – sendo a primeira mulher a liderar a operação no país – marcou o início de um reposicionamento estratégico da Gallo. Vinda da Unilever, ela substituiu Filipe Gonçalves, que assumiu um cargo em Portugal.

Desde então, a marca passou por uma reformulação, para se tornar mais contemporânea. Em junho, lançou uma campanha assinada pela agência Galeria após quatro anos fora da mídia. Intitulada “Gallo, o sabor que nos une”, a ação destacou as relações humanas na mesa.

O Brasil, que representa entre 60% e 65% do faturamento global da Gallo, é o principal mercado da empresa. A produção é feita em Portugal e exportada para mais de 80 países. Souza enxerga espaço para ampliar o consumo local de azeites e produtos derivados.

Há oportunidades não apenas para ampliar a penetração, mas também o volume por lar. Nunca se falou tanto sobre azeite. Virou conversa de mesa, não pelo melhor motivo [o preço da categoria subiu muito], mas há um movimento de modernização importante da categoria”, afirma.

Outra marca que aposta na diversificação de portfólio é a Andorinha, do grupo português Sovena. Em novembro, a empresa lançou o Oli, um kit que permite ao consumidor criar seu próprio “blend” de azeite com três intensidades distintas. Posicionado como um presente para ocasiões especiais com foco nos públicos A e B1, o produto, com preço sugerido de R$ 75, também busca educar o consumidor sobre as possibilidades de uso do azeite.

O objetivo é aumentar a participação de produtos especiais da marca. Isso fortalece a fidelização dos clientes e valoriza a categoria em um momento crítico para o mercado. Queremos mostrar que os azeites têm características próprias que podem ser combinadas com pratos específicos”, diz a diretora de marketing e trade marketing global da Sovena, Loara Villares da Costa.

O setor de azeite enfrenta desafios decorrentes da crise climática, que afetou a produção global nos últimos três anos. Apesar disso, a Comissão Europeia projeta uma recuperação de até 32% na produção para a safra 2024/25, o que pode resultar em uma redução gradual nos preços no Brasil.

Vislumbramos uma boa safra e uma possível queda nos preços, ainda que eles não retornem ao patamar anterior. A perspectiva é que o mercado como um todo se recupere muito rápido com o preço um pouco mais baixo, e estamos otimistas”, afirma a presidente da Gallo.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/01/06/vendas-de-azeite-encolhem-20-e-marcas-reagem.ghtml?li_source=LI&li_medium=news-page-widget

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