Mesmo em meio a condições econômicas recessivas, a indústria farmacêutica segue prosperando mais de 10% ao ano
Na contramão da grande maioria dos setores econômicos no Brasil, a indústria farmacêutica continua praticamente alheia às adversidades. Se de um lado a economia brasileira respira por aparelhos, o segmento segue crescendo na casa de dois dígitos ao ano. Em 2016, o mercado total, que inclui a venda de todos os tipos de medicamentos, avançou 12,69%, com 3,5 bilhões de unidades comercializadas. Entre janeiro e junho de 2017 foi vendido mais de 1,8 bilhão de medicamentos, número 3,87% superior ao registrado em igual período do ano passado.
E se, mesmo em meio à economia conturbada, os negócios vão bem para a indústria farmacêutica como um todo, a recessão traz resultados ainda mais positivos para o mercado de medicamentos genéricos. Um estudo da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (ProGenéricos), com base em dados do IMS Health, mostra que as vendas de genéricos em unidades avançaram 25,65% nos últimos três anos (2014 a 2016), enquanto o mercado farmacêutico cresceu 12,14% no mesmo período.
“É claro que dependemos da economia e que a população precisa ter dinheiro para comprar medicamentos”, avalia Telma Salles, presidente executiva da ProGenéricos. “No entanto, os genéricos são uma alternativa para as pessoas se cuidarem e se medicarem a custos menores.” Telma observa que o mercado farmacêutico não vive cenário de expansão arrojada, mas continua em expansão. Boa parte do bom desempenho vem dos contínuos investimentos realizados pela indústria. “Essa evolução poderia ser ainda maior, mas, por conta da economia recessiva, o governo não repassa orçamentos como deveria. A crise faz o setor público refrear, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) contrata menos gente e isso impede o desenvolvimento acelerado”, afirma Telma.
A morosidade da Anvisa nas análises de registros retarda também o aumento dos investimentos em inovação radical e medicamentos biológicos. “A produção de remédios é um processo de longo prazo. Além do tempo de desenvolvimento e pesquisa, existem prazos para registros, que envolvem análises detalhadas por parte da Anvisa”, diz Reginaldo Arcuri, presidente do Grupo FarmaBrasil, entidade representante dos principais laboratórios farmacêuticos no País.
Biotecnológicos e biossimilares O conjunto das empresas representadas pelo Grupo FarmaBrasil investiu em média 8,24% de seu faturamento em atividades de pesquisa e desenvolvimento em 2014. A título de comparação, no mesmo ano, a empresa manufatureira brasileira investiu 0,67%. “Além disso, se pegar o período entre 2010 e 2020, essas empresas ou já investiram ou vão investir em fábricas e centros de pesquisa cerca de R$ 2,8 bilhões”, contabiliza Arcuri.
Outra frente à qual as empresas têm dedicado esforços – e muitos recursos financeiros – é a dos medicamentos biotecnológicos. “O Brasil está seguindo o caminho de potências como Estados Unidos e Europa, com o desenvolvimento de medicamentos biotecnológicos e biossimilares. Isso significa uma oportunidade única para o País”, afirma Arcuri. As iniciativas podem ser a garantia de acesso aos produtos mais caros (biotecnológicos), já que serão desenvolvidos localmente. Em relação aos biossimilares, Arcuri destaca que serão mais caros do que os genéricos, mas ainda uma alternativa mais barata para a população. O avanço nesta área também representa a possibilidade de equilíbrio da balança comercial de medicamentos no Brasil, sobretudo quando consideramos que o SUS compra atualmente em torno de 10% de fórmulas biotecnológicas.
Nos seis primeiros meses de 2017 mais de 1,8 bilhão de medicamentos foram vendidos, índice 3,87% superior ao registrado no ano passado
Movidos pela inovação
Investimento contínuo, novos produtos e planejamento de longo prazo levam empresas a bons resultados
Em 2015, o Aché, laboratório 100% brasileiro e dono de um portfólio com 326 marcas, traçou um plano estratégico para os quinze anos que viriam. A meta estabelecida ali foi bastante ousada: crescer ininterruptamente até 2030. E ao que tudo indica a empresa vem cumprindo – e bem – o desafio. Mais do que registrar aumento nos resultados, o Aché foi, pelo terceiro ano consecutivo, a companhia farmacêutica que mais impactou positivamente o setor farmacêutico no Brasil, segundo o ranking Estadão Empresas Mais. Com faturamento de R$ 2,7 bilhões em 2016, número 15,1% superior ao registrado no exercício anterior, a empresa é a primeira colocada na categoria Farmacêutica.
Aquisições, inaugurações de novas plantas e aumento da capacidade produtiva são algumas das formas encontradas para preparar as empresas para os próximos anos
“Acreditamos que o caminho mais sustentável para o crescimento passa pela inovação e é isso o que faz com que o Aché continue se destacando”, avalia Paulo Nigro, presidente da companhia. A empresa investiu R$ 203 milhões em inovação no ano passado, quando lançou 27 produtos e realizou duas importantes aquisições: a fábrica de antibióticos Nórtis, de Londrina, e a divisão químico-farmacêutica do Laboratório Tiaraju, do Rio Grande do Sul. Ainda em 2016, anunciou os planos de expansão para o Norte e Nordeste, com a construção de uma nova fábrica na região metropolitana de Recife, para ajudar a suportar o crescimento previsto pelo Aché para os próximos anos. A fábrica também deve servir como plataforma para as exportações.
Para Nigro, o planejamento estratégico robusto e de longo prazo e o foco dado pelas diferentes áreas às ações estabelecidas nele são um diferencial competitivo da empresa. Mais do que isso, são responsáveis pelo excelente desempenho da companhia ao longo dos três anos de crise severa vividos pela economia brasileira. “Apesar da instabilidade econômica, o setor farmacêutico apresenta crescimento e, contendo algumas despesas não essenciais ou que podem ser postergadas, conseguimos concretizar investimentos previstos e colocar em prática a estratégia traçada em cada unidade de negócio”, afirma o executivo.
Crescimento de 80%
Outra que aposta nos negócios no País é a EMS, segunda colocada no ranking Estadão Empresas Mais. Com fábricas instaladas em São Bernardo do Campo e em Hortolândia, em São Paulo, a EMS vive desde 2013 o maior plano de expansão de sua história, com investimentos que superam os R$ 600 milhões. A empresa também inaugurou plantas de fabricação em Manaus, em 2014, e Brasília, em maio deste ano. “Com todas as unidades em funcionamento, a capacidade produtiva da EMS será de pelo menos 1 bilhão de unidades (caixinhas) de medicamentos por ano. Um aumento de mais de 80% se levarmos em conta a realidade da empresa antes do plano de expansão”, contabiliza Sanchez.
Inovação e investimento contínuo são palavras de ordem também na Roche, terceira colocada no ranking. “Somos uma empresa focada em medicamentos inovadores, e 20% do nosso faturamento global é destinado à pesquisa e desenvolvimento”, revela Rolf Hoenger, presidente da Roche Farma Brasil. A empresa lançou quatro produtos de alta complexidade em 2016 e cresceu aqui 1,6% no ano. “Crescemos em um ano desafiador, em linha com o compromisso que estabelecemos com a nossa matriz, na Suíça”, afirma. De acordo com o executivo, como forma de desenvolver a pesquisa clínica no Brasil e propiciar acesso a novos medicamentos aos pacientes, a Roche investiu mais de R$ 360 milhões em pesquisa e desenvolvimento local nos últimos três anos. “Em 2016, foram investidos R$ 121,3 milhões no País, sendo que cerca de 240 centros de pesquisa locais foram envolvidos em mais de 70 estudos da Roche”, diz Hoenger.
Fonte: http://publicacoes.estadao.com.br/empresas-mais-2017/setor/farmaceutica/
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