Sob a lógica da economia circular, nenhum componente de um produto deve ser encarado como resíduo. Parte essencial do nosso negócio, as embalagens são desenvolvidas considerando todo seu ciclo de vida e são 100% reaproveitáveis, ou seja, podem e devem voltar ao ciclo industrial. Porém, a implementação da cadeia circular é um desafio global. É nosso compromisso atuarmos em diferentes frentes para contribuirmos, cada vez mais, com este objetivo.
Estratégia
- Ampliar o uso de embalagens retornáveis no portfólio.
- Reduzir continuamente a quantidade de insumo necessário para produzir nossas embalagens, por meio de pesquisa e novas tecnologias.
- Aumentar o uso de matéria-prima reciclada nas embalagens produzidas.
- Contribuir com o progresso dos sistemas de logística reversa das embalagens descartáveis, por meio do desenvolvimento social e estrutural de cooperativas de catadores no Brasil.
Atualmente, apenas 14% das embalagens de plástico produzidas em todo o mundo, são recicladas. Os dados fazem parte da publicação A Nova Economia do Plástico – Catalisando Ações, da Fundação Ellen MacArthur.
A iniciativa, que conta com o apoio de diversas empresas, como a The Coca-Cola Company, organizações não-governamentais, universidades e governos, propõe um plano de ação global que promova a transformação do sistema atual, ou seja, a forma como a indústria e a sociedade lidam com o plástico, alinhado aos princípios da economia circular.
Entre as estratégias apresentadas, destacam-se a inovação e o redesenho das embalagens, novas oportunidades de reuso e aumento da reciclagem. Se nada for feito e as projeções de crescimento da indústria se mantiverem, em 2050 haverá mais plástico nos oceanos do que peixes (em peso).
Acreditamos que, ao considerar o modelo de economia circular em todo ciclo de vida, podemos romper esse círculo vicioso, que acaba sendo prejudicial para o negócio e para o meio ambiente. No sistema atual, as embalagens são caracterizadas por um padrão linear de produção e consumo, no qual as mercadorias são produzidas com matérias-primas virgens, vendidas, usadas e descartadas como resíduos.
Retornáveis
Ampliar o uso de embalagens retornáveis no portfólio (RefPET e vidro) é um dos principais pilares da nossa estratégia. Além de oferecerem um custo menor para o consumidor, a ampliação de retornáveis conecta nosso plano de negócio aos nossos objetivos de sustentabilidade.
A RefPET (do inglês refillable PET ou PET reutilizável) é feita de resina PET, porém com propriedades ligeiramente diferentes, podendo ter até 25 ciclos de uso. Isso agrega valor para o consumidor e diminui a produção de novas embalagens, o que corresponderia a 70 milhões de garrafas, por ano, no Brasil. Essa quantidade que deixa de ser produzida, traz um importante ganho ambiental, não só na diminuição da geração de resíduos, mas também na emissão de carbono.
Do nosso portfólio, a RefPET é a garrafa que tem o menor índice de emissão de carbono, mesmo considerando sua logística reversa. Outro grande benefício das embalagens retornáveis é o controle total sobre sua destinação após os ciclos de uso, já que todas voltam para as nossas fábricas, garantindo sua reciclagem.
Redesenho de embalagens
Estamos evoluindo no desenvolvimento de embalagens cada vez mais leves. Esse avanço está alinhado à nossa estratégia de diminuir o uso de matérias-primas na produção de nossas embalagens e também ao princípio da economia circular de preservar e aprimorar o capital natural, controlando o uso dos recursos finitos.
De 2008 a 2016, conseguimos reduzir a gramatura das embalagens PET em 17%, em média, como demonstrado no quadro abaixo. Em relação às garrafas de vidro, também inovamos nos processos de produção e obtivemos, nos últimos anos, na embalagem de 290 ml, por exemplo, uma redução no seu peso de 36%. O processo, denominado light weight, ao mesmo tempo em que torna as embalagens mais leves, aumenta sua resistência.
Vale destacar que cada inovação de light weight, passa por inúmeros testes, para assegurar que o novo peso da embalagem não trará prejuízos ao produto. Após a aprovação, a embalagem pode levar até três anos para ser adotada por todas as fábricas. Em 2015, quando foram desenvolvidas as primeiras, o percentual de implantação era de 5%, hoje se encontra entre 60% e 70%.
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Utilização de material reciclável
O uso de material reciclado como fonte de matéria-prima já está incorporado no processo de produção das embalagens de alumínio e de vidro. Mais de 60% da composição de novas latas de alumínio e de garrafas de vidro é proveniente de embalagens recicladas. Ambas representam juntas 31% do volume de material colocado no mercado, anualmente.
Já a resina de PET pós-consumo é mais desafiadora. Questões tributárias e de disponibilidade de matéria-prima, acarretam um custo sobre à resina reciclada pós-consumo, em comparação à resina virgem, tornando o uso desse material, economicamente inviável em algumas operações. Além disso, a tecnologia de reciclagem desse material para alimentos e bebidas é mais recente e a cadeia está em construção. Hoje, por exemplo, temos somente uma fábrica de resina de PET reciclada homologada pela Coca-Cola Brasil e outras duas encontram-se em processo de homologação. Com isso, nas embalagens que contêm conteúdo reciclado, este pode representar 10% da composição.
O aumento do uso de resina reciclada nas garrafas PET é um de nossos compromissos. Estamos priorizando a aceleração dessa estratégia alternativamente à utilização das embalagens PlantBottle™. Essas, apesar de terem em sua composição parte dos derivados do petróleo substituído pelo etanol da cana-deaçúcar, possuem uma logística de produção descentralizada e podem custar até 35% mais do que a resina oriunda do petróleo.
Logística reversa
Sabemos que no Brasil, o cenário da reciclagem é bastante desafiador. Do descarte incorreto dos resíduos, que leva a graves consequências ambientais, até a situação de vulnerabilidade social que envolve o trabalho dos catadores, muitas são as dificuldades. Além disso, dos quase seis mil municípios existentes no País, somente mil possuem coleta seletiva, sendo que destes, apenas algumas localidades contam com esse serviço. Mas, acreditamos no potencial transformador do trabalho em rede. O Acordo Setorial de embalagens é um desses exemplos. Assinado ao final de 2015, ele prevê o desenvolvimento de um plano de ação de resíduos no contexto da logística reversa (1), que tem a meta de reduzir em 22% a quantidade de embalagens pós-consumo, destinadas a aterros sanitários até o fim de 2018.
A Coca-Cola Brasil, como fundadora e apoiadora do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), liderou a criação da chamada Coalizão Empresarial de Embalagens, que foi determinante para a assinatura desse acordo. Em fevereiro de 2017, foram apresentados os primeiros resultados da iniciativa. Conjuntamente, os associados da coalizão atuaram em 422 municípios de 25 Estados, alcançando 51,2% da população brasileira. Mais de 700 cooperativas de catadores foram apoiadas e cerca de dois mil pontos de distribuição voluntária (PEV) foram instalados.
De forma direta, a Coca-Cola Brasil concentra seus investimentos no desenvolvimento social e estrutural de cooperativas por meio do Coletivo Reciclagem. Até o final de 2016, havíamos apoiado 300 instituições em todo o Brasil.
(1) Segundo a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a definição de logística reversa é: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada
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Thaís Antunes
Nossas embalagens primárias são aquelas que têm a função de proteger e conservar os produtos. Os principais materiais utilizados em sua produção são: PET, vidro, lata, embalagem cartonada, tampa plástica, RefPET e rolha metálica. Em 2016, os percentuais totais de materiais que têm insumos recicláveis e renováveis em sua composição ficaram quase que estáveis (15,8%), quando comparados a 2015 (16,2%), conforme demonstra o gráfico a seguir.
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Em 2016, houve queda no volume de PET separado nas cooperativas que apoiamos em comparação com o ano anterior. Essa diminuição está associada a três principais fatores: a desaceleração da economia e, por consequência, do consumo, impactando na geração de resíduos; os esforços de redução de gramatura de nossas embalagens e a dificuldade de obter, por parte das cooperativas de catadores, os dados reais do volume de materiais coletados, uma vez que muitas organizações não têm mecanismos de controles estruturados. Em relação ao alumínio, observa-se uma baixa circulação desse material nas cooperativas por causa da alta demanda por parte dos catadores individuais. O índice de reciclagem desse material no Brasil é de 98%.
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Pequena notável
Criada na China como uma solução de baixo custo, a minitampa, originalmente, apresentava baixa perfomance. A ideia, aprimorada no Brasil, passou a ter um excelente desempenho, com uma vantagem econômica ainda maior, alcançamos um custo de produção 25% inferior. Com dimensões menores do que a tampa padrão, ela utiliza 30% menos resina virgem.
Somados a esses benefícios, possui maior capacidade de retenção do gás carbônico (CO2), que permite a distribuição das bebidas em distâncias maiores; oferece mais facilidade na abertura das embalagens; contribui para a redução da pegada de carbono e facilita o processo de reciclagem, já que é monocomponte, ou seja, uma única peça.
Dos 10 grupos de fabricantes do Sistema Coca-Cola Brasil, sete já implementaram as minitampas em 100% das embalagens. O percentual total de implantação em todas as fábricas é de 75%.
Coletivo Reciclagem
Os índices de reciclagem de embalagens no Brasil são considerados altos no cenário mundial, frutos de uma forte demanda social, e também dos esforços empreendidos pelo governo, iniciativa privada e ONGs. Uma importante estratégia nesse sentido foi a criação da Política Nacional de Resíduos Sólidos. Desde a sua assinatura, em 2010, inúmeras conquistas nesse campo têm sido alcançadas. Um elo essencial para a logística reversa é formado pelas cooperativas de catadores, que fazem a triagem dos resíduos gerados pela população e revendem para as indústrias recicladoras.
A maior parte das cooperativas – existem cerca de mil unidades pelo país – apresenta fortes desafios sociais e de infraestrutura, operam muitas vezes em condições insalubres e inseguras. Sabemos que, quando se trata da cadeia de reciclagem, precisamos olhar além do resíduo, enxergando as pessoas que estão no fim desse ciclo.
O programa Coletivo Reciclagem, gerenciado e operado pelo Instituto Coca-Cola Brasil tem sido a nossa forma de investir neste pedaço da cadeia. Em parceria com aproximadamente 30% das cooperativas do país, contamos com o envolvimento de mais de 5.300 catadores, em 13 estados brasileiros.
O apoio às cooperativas existe há mais de 10 anos, mas em 2014, o programa foi reformulado. Construiu-se uma tecnologia social com o objetivo de empoderar e profissionalizar cooperativas para incluí-las cada vez mais na cadeia formal, gerando mais formalização, produtividade, eficiência, trabalho em rede, renda justa e ambiente digno aos catadores. A implementação desse modelo inclui etapas de diagnóstico, estabelecimento de metas e recompensas, elaboração de plano de ação e capacitações modulares.
No último ciclo de avaliação, 93% das cooperativas atingiram as metas estabelecidas. Os indicadores de performance cresceram 10% e o volume e a produtividade aumentaram 30%. Como visão de futuro, vemos que as frentes de trabalho para aumentar cada vez mais o papel das cooperativas estão na diversificação de receita, por meio, por exemplo, da prestação de serviço de coleta e na parceria das indústrias para investimento conjunto.
Índice de sustentabilidade
Dentro de uma visão holística é nossa responsabilidade buscar outras iniciativas que contribuam para os avanços sustentáveis de toda a cadeia. Um passo nesse caminho foi o desenvolvimento dos estudos de Análise de Ciclo de Vida (ACV) e de reciclabilidade dos nossos produtos, ambos iniciados em 2016. É nossa meta criar indicadores, baseados nesses estudos, que possam mostrar o índice de sustentabilidade de cada componente de nossos produtos para que as tomadas de decisão sejam mais assertivas e eficientes.
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“Nessa história de 15 anos do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, conseguimos avançar em vários patamares. O primeiro deles foi o reconhecimento da nossa profissão pela Classificação Brasileira de Ocupações (CBO). Até então, o catador era visto como uma pessoa excluída da sociedade, e muitos nos rotulavam como o ‘homem do saco’. Hoje, com muito orgulho, podemos dizer que somos catadores e profissionais da reciclagem.
Quando reivindicamos que essa fosse uma cadeia mais justa, veio o espaço para o diálogo com o setor empresarial, que passou a apoiar as cooperativas em suas estruturas, treinamento e equipamentos de proteção individual (EPIs). Avançamos em ter uma relação direta com as indústrias. Mas devemos ir muito além, pois os materiais recicláveis ainda têm uma valorização pequena.
As cooperativas precisam ser reconhecidas como prestadoras de serviços, não só meras recolhedoras de material. É necessário que passem por uma estruturação para estarem aptas a pensar em modelos de negócios. Estudos apontam que 90% dos recicláveis no Brasil vêm da mão dos catadores. Mas sabemos que podemos construir negócios inovadores, desenvolver novos produtos para a indústria e fechar o leque, dentro do conceito de economia circular. O País vem registrando altos índices de reciclagem de diversos materiais, mas ainda há um caminho a percorrer para gerar renda e cidadania.
E nesse longo caminho que ainda temos a percorrer, outro grande desafio, é avançarmos no processo de organização dos milhares de catadores que ainda atuam em condições extremamente desfavoráveis nas ruas e lixões, para que fortaleçam sua participação na implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos”
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