Cidade assina acordo internacional para diminuir descartáveis e prefeito Bruno Covas deve sancionar lei que proíbe os canudinhos. Na Câmara Municipal, outro projeto já está em tramitação e quer proibir copos, pratos e talheres de plástico
Medida polêmica que ainda aguarda aprovação (já prometida) do prefeito Bruno Covas (PSDB), a proibição de canudos plásticos de São Paulo é a primeira de uma nova agenda que a cidade está adotando para reduzir a produção de lixo. Nas próximas semanas, será anunciada a inclusão da capital em um acordo internacional para a redução de descartáveis e, na Câmara Municipal, uma legislação mais ampla, que proíbe todos os plásticos de uso único, está em tramitação.
O acordo do qual agora São Paulo faz parte é o Compromisso Global para a Nova Economia do Plástico, promovido pela Organização das Nações Unidas (ONU). Ele foi assinado no fim de março, mas deve ser divulgado pela Prefeitura no próximo mês.
Os termos do acordo estabelecem objetivos, mas a cidade é quem determinará as metas. O compromisso é que São Paulo adote ações para eliminar o uso de embalagens de plástico desnecessárias, encorajar modelos de reúso do plástico e, entre outras ações, melhorar os índices de reciclagem do município, que hoje estão abaixo dos 10%.
A Prefeitura é a primeira cidade do continente a entrar no acordo, que tem como signatários os governos do Chile, Peru e de Granada (ilha do Caribe). O projeto vai ao encontro a iniciativas parecidas já tomadas em outros países. Em outubro do ano passado, a União Europeia decidiu banir o uso de canudos e outros produtos plásticos até 2021. No Brasil, o Rio de Janeiro foi a primeira capital a proibir os canudos de plástico. A lei foi sancionada pelo prefeito Marcelo Crivella (PRB) em junho do ano passado.
Leis
O texto, aprovado na Câmara Municipal paulistana em abril, proíbe a distribuição da canudos plásticos em restaurantes, bares, hotéis e salões de eventos, estabelecendo que eles podem ser trocados por outros materiais descartáveis, como papel reciclável e material biodegradável.
Covas já sinalizou apoio à medida, mas ainda precisa sancionar o texto e regulamentá-lo. O prefeito precisa decidir, por exemplo, quem fará a fiscalização e aplicará as multas, que variam de R$ 1 mil a R$ 8 mil.
Paralelamente, tramita na Câmara um outro projeto do vereador Xexéu Trípoli (que também apresentou o texto dos canudos), ampliando as restrições. O PL 99/2019 proíbe “o fornecimento de copos, pratos, talheres, agitadores para bebidas e varas para balões de plásticos descartáveis” nos mesmos lugares em que a distribuição de canudos foi banida, com as mesmas penalidades.
Por outro lado, o setor de hotéis e restaurantes vê a proposta com ressalva. “Qualquer medida para o meio ambiente tem o nosso apoio”, diz Percival Maricato, presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel). “Mas essas medidas precisam ser bem discutidas, com prazos para a adequação.”
Em São Paulo, o lixo coletado vai para longe do mar. Ele vai para o Aterro São João, na zona leste, distante mais de 60 quilômetros do oceano. Mas os especialistas alertam que é um erro pensar que a questão do acúmulo de plástico no meio ambiente não é uma discussão paulistana.
“O problema não é o lixo que vai para o aterro. É o que não é coletado, que é jogado nas ruas, não é recolhido, e vai parar em córregos e rios”, diz o professor de Engenharia Ambiental da USP Ronan Contrera.
Opções na zona oeste vão de canudos de aço a modelo feito com macarrão
O restaurante de comida natural Estela Passoni, na zona oeste de São Paulo, já nasceu sem canudos. “Nunca foi um problema, mas o fato de estar aqui em Pinheiros ajuda”, diz Mariana Passoni, de 34 anos, uma das sócias do estabelecimento na Rua Joaquim Antunes. Há dois anos, o restaurante serve as bebidas no estilo “boca no copo”. E, para quem faz questão, oferece canudinho de aço inox.
Se depender de parte dos comerciantes de Pinheiros, legislações que banem os descartáveis já pegaram. Pelo bairro, é comum encontrar bares e restaurantes que, até por pressão de moradores e frequentadores mais ecológicos, acabaram se rendendo aos biodegradáveis. Em outros, como o restaurante de Mariana, a veia sustentável faz parte do modelo de negócio.
No menu do Estela Passoni, além das opções de pratos quentes e sobremesas, também estão produtos para quem quer reduzir os descartes. Os canudos de aço inox são um sucesso. A versão dobrável sai a R$ 55 e é procurada principalmente para caber na bolsa da balada.
Em uma prateleira dentro do restaurante, os copinhos de silicone também conquistam. Eles podem suportar bebidas quentes e geladas, uma alternativa ao velho copo de plástico descartável. Quem tem um desses pode se dar bem a poucos metros dali. Na Rua dos Pinheiros, uma sorveteria da Ben & Jerry’s, já ofereceu desconto de 10% para quem põe a sobremesa em potes trazidos de casa. Há poucos meses, as pazinhas de plástico foram trocadas por outras, de madeira. E mesmo o canudo de milk shake é daqueles de papel, que se decompõe mais rapidamente.
“Os clientes mesmo não aceitam mais os canudinhos de plástico”, diz Adenilson Santos, maître do Le Jazz, na mesma região. Na Choperia São Paulo, faz quatro meses que os canudos de plástico foram abolidos. O barman Elivaldo Campos, de 40 anos, apelou para a criatividade e passou a oferecer uma espécie de canudinho feito de cana-de-açúcar.
De olho na guinada verde de Pinheiros, uma campanha aproveitou a onda. “Queremos ser o bairro mais sustentável de São Paulo”, resumem os organizadores da Recicla Pinheiros. O movimento dá um selo para estabelecimentos que já têm hábitos de descarte consciente do lixo, pontos de coleta e que ofereçam experiências sustentáveis, como dar água do filtro a seus clientes. Quarenta e oito foram avaliados e já receberam o adesivo.
A ideia é que, em julho, um mapa indique ao público onde estão essas lojas. “A meta, que é ter lixo zero, está repercutindo dentro dos estabelecimentos”, diz Vanêssa Rêgo, presidente do Coletivo Pinheiros, associação que reúne 80 estabelecimentos.
“Pinheiros reúne uma comunidade com um pouco mais de consciência”, diz Paula Gabriel, diretora de comunicação corporativa da TriCiclos, empresa de economia circular e gestão de resíduos e uma das realizadoras da campanha Recicla Pinheiros. Segundo ela, algumas atitudes, como abrir pontos de coleta de pilhas, podem ser facilmente replicadas em outras regiões.
Na Vila Madalena, clientes do Boteco do Urso já avisam aos garçons Samuel Leccese, de 22 anos, e Wanderson de Jesus, de 19, para trazer o drink – mas sem os canudinhos. E uma turma de estrangeiros, frequentadores assíduos do bar, tira do bolso os seus próprios canudos, feitos de aço inox.
Já no Astor, na mesma região, sugar a bebida virou até piada depois que o bar lançou canudos de macarrão há mais de um ano. “Teremos macarrão ao suco”, bradou um, nas redes sociais, sobre o espaguete cru que vai mergulhado nas bebidas. A moda ganhou aplausos e algumas vaias – essas dos intolerantes ao glúten. Para os celíacos, o restaurante promete a versão de papel.
Faz dois meses que são os canudos de papel que ganham as mesas no Pasquim. “A maioria dos frequentadores aceita sem resistir”, diz Ricardo Tudeia, gerente do bar. Mas o preço preocupa. Segundo ele, o novo modelo pode ser 600% mais caro do que o de plástico e não é incomum que o canudo se desfaça com a bebida, o que obriga o bar a fazer pelo menos uma reposição por cliente.
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