Os últimos resultados da Estée Lauder reforçam a realidade indigesta que os grupos de cosméticos estão enfrentando
O setor de beleza é frequentemente tido como à prova de recessões. Em tese, as desacelerações econômicas provocam uma queda nas vendas de bens de valores mais altos e gastos maiores com pequenos luxos. A pandemia desafiou o chamado “efeito batom”. Quem precisa comprar batons de marca quando todo mundo está preso em casa ou usando máscaras?
Os últimos resultados da Estée Lauder reforçam a realidade indigesta que os grupos de cosméticos estão enfrentando. As vendas no trimestre encerrado em junho caíram quase um terço. A área de maquiagem liderou a queda, com a receita encolhendo 62%. Um prejuízo de US$ 462 milhões se compara a um lucro de US$ 157 milhões no mesmo período do ano passado.
Para preservar seu caixa, a companhia por trás das marcas MAC e La Mer está eliminando até 2 mil empregos, cerca de 3% de sua força de trabalho mundial, e fechando de 10% a 15% de suas lojas independentes.
As ordens de “lockdown” levaram muitas pessoas a abandonar suas rotinas na área de beleza. Mas o verdadeiro golpe veio do fechamento das lojas de departamentos e butiques de aeroportos, onde a Estée Lauder vende grande parte de suas mercadorias.
Os viajantes chineses afluentes não são apenas o maior grupo usuário de viagens aéreas do mundo, como também grandes gastadores em “free shops”. O canal de varejo de viagens, que inclui lojas em aeroportos e “free shops” nas regiões centrais das cidades, respondeu por cerca de um quarto das vendas da Estée Lauder no exercício fiscal que acaba de ser encerrado. Com o número de pessoas cruzando os céus caindo, o mesmo aconteceu com as vendas.
Mas há um raio de esperança. A Skincare, maior divisão da Estée Lauder, registrou um aumento de 1% nas vendas no trimestre encerrado em junho. A companhia está entusiasmada com a mudança para as vendas pela internet e com os sinais de recuperação, na medida do alívio das restrições a viagens.
Isso leva em consideração que não haverá uma segunda onda de contágios. Também torna difícil justificar o belo valor de mercado da Estée Lauder. A ação acumulava, até quinta-feira, uma valorização de 36% desde o ponto mais baixo registrado em março. É negociada nos patamares pré-pandemia com um múltiplo de 37 vezes os lucros esperados.
O múltiplo da rival francesa L’Oréal, que é maior, está em 34, enquanto o da gigante dos artigos de luxo LVMH está em apenas 27. A beleza está nos olhos de quem vê. Mas essa avaliação não é nada atraente.
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