Em meio a pandemia de covid-19, estima-se que a venda de alimentos orgânicos tenha crescido 50% no primeiro semestre, na comparação com o mesmo período de 2019, segundo a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis). Outra pesquisa, da Synapcom, especialista em soluções full commerce, mostra um crescimento de 160% no segundo bimestre (março e abril) e de 52% no terceiro bimestre (maio e junho) em relação ao período pré-pandemia.
“A pandemia trouxe uma imensa preocupação com a saúde. E o isolamento social provocou uma mudança na forma de compra dos produtos. A maior parte foi feita online ou em supermercados por meio de aplicativos de entrega”, conta o diretor da associação, Clauber Cobi Cruz.
O número, entretanto, pode ser até maior. Alguns sites de produtos naturais tiveram resultados ainda melhores, com alta superior a 200%. Além disso, a associação garante que a produção triplicou na mesma comparação.
“A sistematização de dados do setor é muito ruim, o Ministério da Agricultura não tem informações, então conseguimos computar com nossos associados e perceber o crescimento sem, no entanto, ter um volume real contabilizado”, explica o diretor da Organis Brasil, Clauber Cobi Cruz.
Quanto dinheiro o mercado de orgânicos movimenta?
Em volume financeiro, a Organis acredita que a venda de orgânicos vá ultrapassar R$ 5 bilhões neste ano no Brasil, ante R$ 4,5 bilhões estimados no ano passado.
Nesse quesito, pode até estar sendo modesta: a startup Raízs, que entrega cestas personalizadas e montadas por meio de fornecedores independentes, informou ter gerado R$ 3,5 milhões em receita só ano passado.
Com 25% do mercado online da Grande São Paulo e projetos para expnadir para outras capitais, o volume de pedidos cresceu 217% no primeiro semestre e chegou a 20 mil por mês. A base de usuários aumentou em três vezes, para mais de 1,7 mil pessoas, e a startup passou a marca de 100 novos produtores de orgânicos, totalizando mais de 900 na rede integrada, que fornece mais de 2 mil itens.
“Nota-se que os consumidores estão em busca de coisas mais frescas, não apenas saudáveis e práticas, talvez porque tenham tempo de preparar em casa e também pela informação e preocupação com a saúde”, afirma Tomás Abrahao, fundador do site. O ticket médio das compras no Raízs é de R$ 212.
Além das verduras, legumes e frutas, é possível adquirir ovos, arroz, manteiga, temperos e até itens não perecíveis, tanto para pedidos únicos quanto para cestas personalizadas entregues na porta do consumidor semanalmente, quinzenalmente ou mensalmente.
O Raízs prevê faturar R$ 20 milhões neste ano, ante R$ 5 milhões no ano passado. Desde a fundação, em 2014, cresce a uma taxa de 25% a 30% ao ano.
Entrega de cestas personalizadas em alta
As entrega de cestas com itens selecionados pelos fornecedores aliás foi a salvação de muitos produtores neste período de pandemia, conta Cobi. “Muitos forneciam a supermercados, são pequenos e precisaram se reinventar, se unir para não voltar a miserabilidade que já tiveram”, afirma. A Organis tem 78 associados, entre produtores e indústrias. O ministério da agricultura calcula que o país tenha 22 mil produtores de orgânicos.
O isolamento social provocou uma mudança na forma de compra dos produtos Clauber Cobi Cruz, diretor da Associação de Promoção dos Orgânicos
O modelo de CSA (comunidade sustenta a agricultura) também tem crescido. Por ele, um grupo de consumidores de determinada região paga ao produtor uma mensalidade antecipada, que garante o recebimento dos produtos semanalmente em um lugar também pré-definido. Ao mesmo tempo, o agricultor tem acesso à renda para garantir a produção. Segundo Cobi Cruz, a Sta. Julieta Bio, por exemplo, empresa associada à entidade, viu suas vendas de CSA cresceram 50% na pandemia.
Preço dos orgânicos vai diminuir?
O único problema para o crescimento dos orgânicos tende a ser o preço. Embora venha caindo ao longo do tempo, o sistema de produção e a distribuição faz com que produtos sejam até 50% mais caros que os produzidos em larga escala, às vezes mais. Não há como reduzir no curto prazo, sem que a escala de vendas e produção aumente.
Ainda assim, é possível encontrar melhores alternativas. “Vendemos os orgânicos 20% mais barato que os supermercados e ainda remuneramos o produtor muito melhor. É ainda uma cadeia muito pobre”, diz Abrahao, do Raízs.
A tendência dos orgânicos veio para ficar, garantem os envolvidos no setor.
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