O Brasil é a menina dos olhos quando o assunto é o mercado de perfumes. Apesar da crise econômica pela qual o País passa de dois anos para cá, os consumidores brasileiros não querem abrir mão de suas conquistas recentes. E, por isso, a categoria de fragrâncias se mostra bastante promissora. Essa é a opinião de Marc Jourdan-Gassin, vice-presidente de perfumaria da Firmenich na América Latina.
O executivo destaca que muitos brasileiros tiveram acesso à perfumaria internacional nos últimos anos, inclusive parcelando as suas compras em até 10,12 vezes, o que os fez conhecer e experimentar marcas internacionais. “Isso fez com que os consumidores se tornassem cada vez mais exigentes”, afirma Marc.
Com isso, a resposta das marcas nacionais de perfumaria (líderes de mercado no Brasil), segundo o especialista, foi se reposicionar e investir em mais qualidade desde a idealização do conceito, experiência de compra, treinamento da força de vendas e perfumação.
Super promissor – Marc Jourdan-Gassin diz que a grande tendência desse momento é a ‘premiumização’. De acordo com o VP, os últimos lançamentos dos fabricantes nacionais se posicionaram nas faixas de preço mais altas do mercado. “Ou seja, a tendência é trazer o refinamento das marcas internacionais de perfumaria ‘à la Brasil’, adaptando e atendendo ao clima e gosto dos brasileiros”, explica. O executivo da Firmenich alerta que há muito tempo o Brasil vem se distanciando de inspirações de marcas internacionais, mas que agora é a hora de reforçar a sua assinatura olfativa, “trazendo o melhor da herança internacional com o melhor do DNA olfativo brasileiro”.
Na linha da premiumização e busca da sofisticação, ele ressalta que a dimensão de frescor vem sendo reinventada no País. “Até vemos madeiras sendo exploradas de forma mais ‘brasileira’, combinadas a frutas ou a uma certa transparência fresca, típicas de nossa tropicalidade.” Para Marc, o segredo está em combinar harmoniosamente ingredientes que reflitam a “fórmula mágica da essência brasileira”, ou seja, “que transmitam frescor, naturalidade, sensualidade e conforto”.
Outra tendência apontada por Marc é a estratégia de multicanal. Ou seja, o mercado presencia marcas de vendas diretas investindo em lojas de varejo e também o contrário, marcas originalmente de varejo apostando no ramo das vendas diretas. “Há também um forte investimento em e-commerce e digital para atrair consumidores cada vez mais conectados, além de aprimorar o conteúdo e comunicação com o público”, completa.
– Como parte das principais tendências citadas pela Firmenich, evidenciam-se também a hipersensorialidade e a democratização. A primeira refere-se à necessidade que o consumidor tem de estimular todos os sentidos de forma mais intensa. “Por isso, as marcas estão explorando suas campanhas por meio de interações experienciais, incluindo toque, cheiro, visual, som, etc., desde a indústria automotiva até a moda, cosméticos e perfumaria”, diz Marc.
Quanto à segunda tendência, Marc explica que esse aspecto está relacionado à uma forte linha ditada pelas marcas internacionais que são os perfumes genderless, ou seja, perfumes que promovem a democratização das famílias olfativas entre os gêneros. “O passo que a perfumaria unissex pode vir a dar é oferecer propostas disruptivas para ambos os gêneros, sobrepondo as convenções estabelecidas. A ideia é ousar e inovar. Por que não florais ou notas mais adocicadas para homens ou madeiras para mulheres?”, sugere o especialista.
Fernanda Soro, nova gerente de marketing da Sensient na América Latina, chancela esse posicionamento. “Acreditamos muito na evolução da perfumaria genderless.” Segundo a executiva, esse movimento começou em 1994 com a Calvin Klein e vem tomando corpo, pouco a pouco através dos anos, “quando marcas importantes como Jo Malone começam a aderir”. “Hoje, até estrelas da ‘perfumaria de nicho’ estão se rendendo à tendência, como a Creed e Hermès”, afirma.
Em casa – Mais um ponto relevante quando se pensa no consumidor brasileiro é considerar a estação do ano, o período do dia e a ocasião em que ele usará o perfume, isso segundo Natalia Mendes, gestora de marketing da Vollmens. “No caso das mulheres, a roupa também é um fator de influência na escolha do perfume”, diz. De acordo com a executiva, para o povo brasileiro o perfume simboliza a higiene, a beleza, a limpeza e até mesmo a sedução. “Essa relação mais do que íntima faz com que o País seja um dos maiores consumidores de perfumes do mundo.”
Natalia destaca que as fragrâncias frescas e florais são sempre bem-vindas para perfumar os dias mais quentes. “Já o calor sedutor dos orientais e gourmand também lideram o gosto dos brasileiros”, acrescenta. Para os próximos anos, segundo a especialista, os perfumes chipres virão como uma forte tendência para o mercado brasileiro. “Modernos, sofisticados e com um toque gourmand os perfumes da família chipre são marcantes, e o mais importante: duradouros, quesito de grande importância para os brasileiros”, alerta.
A gestora aponta a volta do chipre como tendência principal para este ano. “Podemos notar nos lançamentos dos perfumes Luna de Natura, Elysee do Boticário e a linha Condessa da Avatim.” A rosa também é um ingrediente que veio como destaque no ano passado e continua iluminando as criações florais, segundo Natalia. “Como o perfume Esta Flor Rosa da Natura.” Outro ingrediente forte será a flor de laranjeira. “Teremos belas criações com o conforto cítrico desta flor”, revela.
Pelo mundo – Olhando para o mercado global, Natalia Mendes afirma que a exclusividade das marcas de nicho é uma tendência que vem crescendo muito de uns anos para cá e está diretamente associada à busca dos consumidores por produtos personalizados. Segundo a profissional da Vollmens, as fragrâncias sem gênero também crescem com força total e acompanham uma tendência global sobre a identidade sexual e sua influência no consumo.“Homens e mulheres compartilham produtos de beleza, roupas e claro, seus perfumes. Grandes marcas globais já fazem parte deste movimento, a Chanel lançou no ano passado o perfume Chanel Boy, que é o primeiro perfume sem gênero da marca”, afirma a executiva.
Uma curiosidade regional, citada por ela, é o ingrediente Agarwood, muito utilizado nos perfumes produzidos no oriente médio. Natalia conta que o óleo de Oud, como é chamado, é usado na medicina asiática e é um dos incensos mais apreciados – é dito que ‘vale mais do que seu peso em ouro’. “Esse ingrediente é uma iguaria na perfumaria e tem uma característica olfativa única, amadeirada forte e defumada, uma madeira seca complexa, misteriosa e intrigante”, afirma.
Verdes e naturais – O frescor é algo bastante almejado pelos consumidores, principalmente brasileiros. Fernanda Soro, da Sensient, afirma que por isso acontece o sucesso dos body splashes, que têm baixa concentração de fragrância, de 3% a 5%, e que “já fazem parte de um ritual hedônico pós-banho”. “Seguindo esse caminho, acreditamos que as notas verdes, combinadas com florais cremosos, proporcionam a sensação de frescura, bem-estar e conforto. E essa é uma tendência que deve se manter ao longo dos anos”, diz.
A executiva também ressalta que a tendência de ingredientes naturais vem se fortalecendo, até pela percepção do consumidor de que os naturais são sinônimos de saúde e bem-estar. Porém, de acordo ela, é muito importante a preocupação com o meio ambiente, de forma que os naturais sejam extraídos de forma sustentável. “Os consumidores estão bem vigilantes nessa questão. Por isso, cabe à indústria da perfumaria e às casas de fragrâncias investirem cada vez mais em tecnologias e alternativas que assegurem a sustentabilidade dos recursos do planeta”, diz.
Para o perfumista Fábio Navarro, consultor que já atuou com grandes marcas de fragrâncias, “2017 será um ano de lançamentos com a sensação de feel cleansing, sinta-se limpo, leve e natural”. “Depois de um ano turbulento, 2017 já começa trazendo muita energia e vibração. As fragrâncias trazem composições mais naturais, menos complexas e mais confortáveis”, afirma.Segundo o profissional, o mote será trabalhar com um ingrediente inusitado, único e diferenciado, que será bem explorado não somente na estrutura do perfume, mas também no seu nome e campanha. “Matérias-primas como Oud, estruturas como eau de cologne e notas florais verde continuarão a brilhar nos lançamentos e serão os queridos das pessoas”, prevê.
Bem-estar – A Capuani é mais uma empresa que está buscando inspirações em diversos temas para trazer novas notas, acordes ou sensações para os setores de perfumaria e higiene pessoal. “Buscamos criar coleções temáticas de acordo com as últimas tendências ou com solicitações frequentes de nossos clientes, como por exemplo o kit que lançamos durante nossa participação na In-Cosmetics 2016, em São Paulo, com composições baseadas em elementos de bem-estar, para uma coleção de fragrâncias revigorantes que nos proporcionam sensações positivas, conexões com o tradicional e reencontros com a natureza”, diz Victor Tenório, responsável pelo marketing na empresa.
Segundo o executivo, misturando a nostalgia de ingredientes de cuidados caseiros – como mel, camomila e erva-cidreira – com elementos que aparecem em dietas da moda – como grapefruit e hibisco –, chegando ao lado ritualístico e de meditação, como o lótus e o olíbano, os perfumistas da empresa exploraram essa necessidade básica e cada vez mais urgente de “nos sentirmos serenos, reavivados e acolhidos”. “Eles criaram perfumes que nos remetem a esses ingredientes, sempre com um inusitado algo a mais”, afirma.
Renata Ashcar, autora do Guia de Perfumes, diz que os ingredientes da biodiversidade brasileira continuam em evidência. “Além da Natura, que tem a linha Ekos totalmente voltada para ingredientes e conceitos brasileiros, a L´Occitane Au Bresil também explora bastante toda essa biodiversidade. As preferencias olfativas no Brasil seguem sendo as florais frutais e orientais gourmand para os perfumes femininos e as aromáticas e amadeiradas para o masculino”, diz.
Não se pode deixar de notar, também ,a questão do orçamento do consumidor, ressalta a especialista. “O brasileiro adora perfumes e mesmo com a crise que estamos vivenciando, não deixou de usar (o produto), mas passou a usar itens que se encaixam no bolso”, diz. “Pudemos ver o boom nas vendas da perfumaria da Hinode e aumento do consumo das águas/splash que são mais acessíveis”, acrescenta.
A tendência, na visão de Renata, será desenvolver produtos com mais qualidade e acessíveis. “Sem dúvida, a personalização será cada vez mais importante neste segmento, ou seja, dar a percepção de que o perfume foi feito exclusivamente para você, seja através da mistura de perfumes, como faz a Jo Malone, ou pequenos detalhes que permitam a exclusividade.”
Competitividade – Uma característica de transformação do mercado brasileiro de perfumaria é a descentralização. Maurício Carini, gerente de desenvolvimento de mercado da Aptar, comenta que começou a perceber esse fenômeno no ano passado. “Até então, o mercado doméstico era concentrado em três grandes players, mas, sobretudo em 2016, passou a contar com uma diversidade maior de pequenas e médias empresas promovendo lançamentos constantes de produtos e marcas”, afirma.
Também chama a atenção do executivo a grande quantidade de lançamentos em cada player, independentemente do tamanho, “almejando se destacar por meio da diferenciação”. “A concentração de lançamento nas quatro principais datas comemorativas permanece a mesma: Dia das Mães, Dia dos Namorados, Dia dos Pais e Natal. No entanto, independente do período, o desejo das empresas é um só: diferenciação. Seja na gôndola ou no catálogo físico ou virtual, o visual diferenciado do produto tem sido a regra”, diz.
Embalagem – Carini diz que, devido ao momento de crise econômica, empresas estão optando por frascos, tampas e válvulas já existentes, sem necessariamente encomendar o desenvolvimento de novos designs. “Mesmo assim, a inovação vem marcando presença por meio da customização”, diz o gerente. “A embalagem pode ser standard, por exemplo, mas certamente vai contar com foco na diferenciação”, completa.
Segundo Carini, para as empresas e os consumidores brasileiros, a embalagem precisa ser a mais chamativa possível. “Essas são as fortes tendências no mercado nacional de fragrância no que diz respeito à embalagem.”
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