Associação estima que o primeiro trimestre será de queda de até dois dígitos em relação ao mesmo período de 2020

Há cerca de um mês, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec) calculava que o setor poderia ter crescimento nominal de 3,5% em 2021. Agora, prefere deixar as estimativas suspensas. João Carlos Basílio ainda espera crescimento, mas diz que, neste momento, é difícil cravar projeções “porque a preocupação em relação à economia está muito grande”.

A Abihpec não tem números consolidados de janeiro e fevereiro, mas Basílio diz que o ritmo da atividade econômica é lento. De pano de fundo, 13 milhões de desempregados, fim do auxílio emergencial, forte valorização do dólar e pandemia da covid-19 recrudescendo e suspendendo atividades comerciais. A associação estima que o primeiro trimestre será de queda em relação ao mesmo período de 2020. “Minha percepção é de queda e pode chegar até a dois dígitos de recuo” , diz, observando que no ano ainda deve haver expansão. Em 2020, o setor de higiene pessoal e beleza registrou crescimento nominal de vendas de 5,8%, para R$ 58,96 bilhões.

 

Variação das vendas da indústria de higiene e beleza em 2020*

Total 2020: 5,8%
 

Mas a desaceleração observada agora pela associação começou ainda em dezembro do ano passado. Basílio conta que havia otimismo quanto às vendas de Natal, cuja expectativas se frustraram com avanço de apenas 2,4% ante mesmo mês de 2019. “O Natal foi decepcionante. O dinheiro acabou, mas também teve reflexo da Black Friday, que foi muito boa”, pondera.

Em volumes, o crescimento do setor foi de 1,5%. Basílio explica que o começo da pandemia teve um ambiente promocional maior, mas esse cenário foi mudando com a escalada dos preços de matérias-primas e insumos. “Nesse contexto, manter os preços já foi promoção”, diz Basílio.

Grande parte do salto dos custos da indústria está atrelada ao dólar. A moeda americana se valorizou 26,3% no acumulado dos últimos 12 meses. Essa alta afetou os negócios, por exemplo, da mineira Farmax, fabricante de cosméticos, produtos farmacêuticos e hospitalares de Minas Gerais. “A alta do dólar está impactando fortemente os custos, pressionando nossas margens”, afirmou Ronaldo Ribeiro, presidente da companhia.

A Farmax fechou, em junho de 2018, um acordo com a LG Household & Health Care para distribuir no Brasil os produtos de higiene pessoal, cosméticos e limpeza da sul-coreana. Mas o acordo foi encerrado no fim do ano passado, por causa da variação cambial. “Fizemos um teste de mercado com a LG, mas com a questão cambial parou de fazer sentido importar os produtos para vender no Brasil”.

Com 46 anos de existência, a Phisalia Cosméticos também sentiu o efeito do dólar caro e optou reduzir margens para “equilibrar os pratos” de custos e preços ao consumidor, segundo Adriana Amiralian, diretora de marketing e trade marketing da empresa. A companhia chegou a fazer um pequeno reajuste na virada do ano, mas o consumidor está mais sensível a aumentos, já que outros gastos, como alimentação, cresceram fortemente. “Na hora de olhar mercado e concorrência, não olho mais os mesmos players. Olho o bolso do consumidor.”

A companhia de itens de higiene pessoal manteve estabilidade no faturamento do ano passado, avançando 1% ante 2019, para R$ 90 milhões. O desempenho da melhorou no segundo semestre com reflexo do auxílio emergencial, com as vendas acelerando em algumas regiões como Norte e Nordeste.

No acumulado dos primeiros dois meses de 2021, Adriana diz que as vendas ainda crescem e afirma que a empresa trabalha “sem perder o otimismo, embora tenha feito um orçamento cauteloso”. No planejamento do ano, a perspectiva de crescer 5% em faturamento considera que o ritmo do varejo vai acelerar mais uma vez a partir de julho, quando mais pessoas estarão vacinadas e possivelmente um novo auxílio emergencial estará em vigor. “O primeiro semestre vai ser de olhar mais no detalhe”.

Para 2021, uma das apostas de crescimento é a linha de produtos veganos, Physalis, lançada em 2020 e que amplia a atuação para um público mais específico e adulto. Hoje, a companhia tem forte presença no mercado infantil.

No ano passado, no setor como um todo, as vendas de itens da chamada “cesta-covid”, como o álcool em gel e lenços de papel, saltaram 808% e 77%, respectivamente. O segmento de cuidados com a pele também foi bem e cresceu 21,9% em vendas.

O crescimento no acumulado do ano, descontando a inflação foi de 0,5%. No ano, a inflação IPCA acumulada para higiene e cuidados pessoais avançou 3,52%, segundo o IBGE. Para este ano, Basílio afirma que o problema não é mais de indisponibilidade de insumos, problema decorrente da desorganização das cadeias produtivas na pandemia, mas exclusivamente de preços, que seguem elevados.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2021/03/03/dolar-pandemia-e-renda-menor-preocupam-setor-de-higiene-e-beleza.ghtml

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