Em um ano de restrições de mercado, fronteiras fechadas, a indústria brasileira de cosméticos não só cresceu no mercado interno como, depois de uma década, registrou seu primeiro superávit na balança comercial, provavelmente ajudada pela alta desvalorização do real. De acordo com a Gueisa Silvério, gerente de negócios internacionais da ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), as empresas nacionais souberam aproveitar as adversidades de 2020 e mostrar potencial ao mercado externo.
Brazil Beauty News – Criado há mais de 20 anos, o Projeto Setorial Beautycare Brazil apoia empresas brasileiras no mercado externo. Como vem funcionado o programa no contexto atual da pandemia, sem feiras e eventos internacionais?
Gueisa Silvério – O Beautycare Brazil tem como objetivo alavancar o crescimento das exportações de produtos e serviços que envolvem toda a cadeia do setor brasileiro de HPPC (Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos). Este trabalho vai desde a seleção de mercados-alvo até a participação de empresas integrantes do projeto em grandes feiras internacionais.
Por conta da pandemia, os eventos presenciais foram suspensos em todo o mundo, e o Beautycare Brazil se adaptou a esse novo cenário. Focamos na realização de atividades online, com conteúdo desenvolvido com o apoio de especialistas da ABIHPEC e de instituições internacionais de mercado e pesquisa. Com esse repertório, pudemos apresentar informações atuais de comportamento de consumo e tendências em países como Coreia do Sul, Emirados Árabes e EUA.
Além disso, no primeiro semestre de 2020, criamos um grupo de trabalho com os integrantes do programa para rever nossa estratégia de comunicação e fortalecer a imagem do setor brasileiro de HPPC no mercado internacional.
Para 2021, buscamos a realização de ações em parceria com escritórios internacionais da Apex-Brasil, assim como postos de embaixadas e consulados brasileiros. Também ampliamos a criação de iniciativas para atendimento de outros temas de interesse das empresas do Projeto Setorial.
Brazil Beauty News – É um paradoxo, mas o setor de beleza brasileiro alcançou bons resultados em 2020, com as exportações crescendo e um primeiro excedente da balança comercial após uma década de déficit. Como você explica isso?
Gueisa Silverio – Não consideramos um paradoxo se somarmos a boa performance do segmento no mercado brasileiro com os resultados da balança comercial para o setor.
Lembro que o Brasil é o 4º maior consumidor mundial de HPPC e o 3º país em lançamento de produtos e também que fechamos 2020 com crescimento de 5,8% em vendas (ex-factory), comparando com o ano anterior. Isso mostra que, mesmo diante dos desafios da pandemia, a indústria brasileira de cosméticos continuou firme e foi muito ágil para se adaptar às circunstâncias.
Sobre a balança comercial, o setor alcançou o saldo positivo de US$ 23.4 milhões em 2020. Grande parte deste resultado é reflexo da alta do dólar no país e da quarentena imposta pelo coronavírus, que representaram redução nas importações: US$ 585.9 milhões no acumulado do ano, perda de 16,8% em relação a 2019.
Mas, devemos levar em conta o maior interesse do brasileiro pelos produtos nacionais, graças à inovação e qualidade cada vez maiores dos itens nacionais, o que acelera o potencial de substituição contínua dos importados e as oportunidades para exportação. Os perfumes nacionais são um grande exemplo, com alta de 8,4% em 2020.
Já quando olhamos para a performance do Projeto Beautycare Brazil, observamos um crescimento de 26%, com destaque para fabricantes de ingredientes, que vêm conquistando grandes clientes e ganhando mais espaço internacional.
Brazil Beauty News – Quais são os principais atrativos da indústria cosmética brasileira para o mercado externo?
Gueisa Silvério – Os cosméticos brasileiros são reconhecidos globalmente como inovadores em diversas categorias, sendo o uso de insumos de nossa biodiversidade um grande diferencial para a atrair e aumentar a competitividade no mercado internacional.
Vale reforçar que a grande miscigenação da população brasileira também impulsiona o setor de P&D nas empresas brasileiras e, consequentemente, a grande oferta de produtos diferenciados, como os de haircare.
Brazil Beauty News – As marcas brasileiras são fortes e estão crescendo na América Latina. Como é seu desempenho em outras partes do mundo?
Gueisa Silvério – Em relação à exportação, os países da América Latina estão entre os top 15 mercados de destino, com 79,3% do total das exportações. A Argentina lidera o ranking, seguida de Chile e México.
É importante destacar que grande parte de nossas exportações é alavancada por empresas multinacionais instaladas no Brasil, que fazem operações intercompanies, ou de relevantes players nacionais, que possuem atuação independente, sem o apoio do projeto.
Esse resultado é diferente para o grupo de empresas do Beautycare Brazil, que além de atender toda a cadeia produtiva de HPPC para entrada no mercado internacional, apresenta uma desconcentração de regiões, totalizando 37% dos nossos volumes exportados para LATAM, resultado que vem se ampliando ano após ano desde o início das atividades do Projeto Setorial.
Entre os 118 países destinos das exportações dos integrantes do programa, aparecem nas primeiras posições Argentina, Estados Unidos, Colômbia, Chile, Málasia e Egito.
Brazil Beauty News – O Brasil é uma grande fonte de biodiversidade. Como o projeto promove isso?
Gueisa Silvério – O Brasil tem cerca de 20% da biodiversidade do planeta, oferecendo janelas de oportunidade para inovação em matérias-primas e tecnologias.
As indústrias de HPPC têm áreas de P&D muito atuantes e que buscam insumos brasileiros para seus produtos. Isso gera tanto o interesse de grandes marcas globais no desenvolvimento de ativos para comercialização de seus cosméticos como a variedade de produtos acabados nacionais, que agregam valor a nossas empresas, com frequentes lançamentos e uma oferta exportável extremamente atrativa para consumidores de todo o mundo.
Fonte: https://www.brazilbeautynews.com/industria-brasileira-de-cosmetico-esta-pronta,3959
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