Estudo da empresa especializada em seguro de crédito Allianz Trade revela que o mercado de obesidade e diabetes está impulsionando e remodelando a indústria farmacêutica, ultrapassando medicamentos tradicionais das áreas de oncologia e imunologia. O relatório aponta que as vendas dos blockbusters semaglutida (Ozempic e Wegovy) e tirzepatida (Mounjaro e Zepbound) podem atingir € 92 bilhões (R$ 572 bilhões) até 2030.
Os medicamentos saltaram de € 4,5 bilhões (R$ 28 bilhões) em 2021 para € 21,2 bilhões (R$ 132 bilhões) em 2023. E, com um crescimento de 92%, a expectativa é que o Ozempic, remédio indicado para o tratamento de diabetes da Novo Nordisk, seja o segundo medicamento mais vendido globalmente em 2024, com € 17 bilhões (R$ 105,6 bilhões) em receita, ficando atrás apenas do Keytruda, remédio oncológico da MSD. A farmacêutica dinamarquesa, também detentora do Wegovy, e a Eli Lilly, dona do Mounjaro e do Zepbound, devem ver suas receitas crescerem 24% e 33%.
GLP-1 e a receita de sucesso do mercado de obesidade e diabetes
Historicamente, o setor farmacêutico gastou a maior parte de sua pesquisa e capital de desenvolvimento nas áreas de oncologia e imunologia, o que corresponde a cerca de € 30 bilhões (R$ 186,5 bilhões) e € 20 bilhões (R$ 124,3 bilhões), respectivamente.
“Essas áreas de tratamento geram as maiores receitas, 46% do total de vendas globais em 2023, e também se beneficiam da maior taxa de crescimento de investimento, que ficou entre 10% e 15%. No entanto, diabetes e obesidade se tornaram recentemente os novos motores de crescimento do setor após o bem-sucedido desenvolvimento de agonistas do receptor GLP-1, que podem suprimir o apetite enquanto reduzem o açúcar no sangue”, avalia Maria Latorre consultora setorial B2B da Allianz Trade.
Atualmente existem quatro tratamentos com GLP-1 aprovados e com alta demanda, tornando diabetes e obesidade as áreas de crescimento mais rápido para o setor farmacêutico. Enquanto as vacinas da Covid-19 foram os produtos farmacêuticos mais vendidos no mundo em 2021 e 2022 – com cerca de € 80 bilhões / R$ 497,3 bilhões e € 95 bilhões / R$ 590,6 bilhões de receitas a cada ano – o cenário mudou com a aprovação e a comercialização das canetas injetáveis abdominais de semaglutida e tirzepatida.
Revolução da semaglutida e escassez no mercado
A semaglutida foi o primeiro tipo de medicamento GLP-1 introduzido no mercado, descoberto por pesquisadores da Novo Nordisk. A revolução começou com o lançamento bem-sucedido do Ozempic, inicialmente criado para tratar diabetes tipo 2. Ele recebeu aprovação da FDA, dos Estados Unidos, e da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), em 2017 e 2018, e desde então as vendas dispararam.
A farmacêutica também desenvolveu o Wegovy, autorizado nos EUA em 2021 e na Europa em 2022. Ele agora está sendo lançado em mais de 15 países. As vendas do medicamento aumentaram em mais de 400% em 2023, enquanto nos primeiros nove meses de 2024, o faturamento foi de € 5,1 bilhões (R$ 31,7 bilhões), crescimento de 76% a.a.
A demanda crescente tem causado a escassez de produtos em alguns países. Para ampliar a capacidade e atender o aumento na procura, a Novo Nordisk anunciou investimentos de € 10 bilhões (R$ 62,1 bilhões) em 2023, visando expandir sua capacidade atual de 16 locais de produção e 12 instalações de P&D em cinco países.
Mais recentemente a norte-americana Eli Lilly juntou-se à revolução do GLP-1 ao desenvolver a tirzepatida, princípio ativo de seus dois blockbusters Mounjaro, introduzido em 2022 para o tratamento do diabetes tipo 2, e o Zepbound, lançado em 2023 para tratar obesidade. As vendas de ambos os medicamentos subiram para US$ 11 bilhões (R$ 66,4 bilhões) nos primeiros nove meses de 2024, crescimento de 273%, posicionando a companhia como outra líder neste mercado em expansão.
As receitas dos quatro produtos somados cresceram 92% em 2024, e devem ser seguidas por um aumento adicional de 45% em 2025, à medida que eles progressivamente penetram em novos mercados, a produção continua a acelerar e a aceitação do consumidor se intensifica.
A sombra dos genéricos
“O setor está investindo e explorando mais do que nunca nas áreas de obesidade, diabetes e doenças metabólicas, sendo muito provável que novos tratamentos semelhantes e até melhores do que a semaglutida e a tirzepatida cheguem ao mercado nos próximos anos”, pondera Maria.
Se um concorrente desenvolver um medicamento melhor, isso pode comprometer a estabilidade financeira da Novo Nordisk e da Eli Lilly, para as quais os quatro medicamentos representam 61% e 35% das vendas totais, respectivamente. Os medicamentos genéricos do Ozempic devem começar a ser comercializados em 2026 em alguns países, como Brasil e China.
Do lado positivo, a concorrência também forçará essas empresas a continuarem investindo e inovando para o desenvolvimento de outros produtos. Um exemplo promissor é o CagriSema, um novo medicamento injetável desenvolvido pela Novo Nordisk que está atualmente em estágio avançado de testes e pode ser lançado em 2026, mesmo ano em que as duas farmacêuticas planejam lançar a versão oral de seus medicamentos GLP-1.
A inovação por trás do CagriSema é que ele é uma combinação de semaglutida e cagrilintida (um novo análogo de amilina11 de ação prolongada) que pode resultar em mais perda de peso (25% do peso corporal) do que a produzida pelo Wegovy (15%).
Fonte: https://panoramafarmaceutico.com.br/mercado-de-obesidade-e-diabetes/
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