É manhã de sol em Camaçari, cidade a 50 km de Salvador, onde funciona um polo industrial que abriga uma das três fábricas do Grupo Boticário. A planta, inaugurada em 2014, atingiu o ápice da produção: funciona 24 horas por dia, com os cerca de 900 funcionários divididos em quatro escalas de 6 por 2 (seis dias de trabalho e dois de folga), produzindo 3.600 unidades por hora.
Diante de uma das 27 linhas de produção de Camaçari, o diretor de operações industriais do grupo, Felipe Magaldi, pergunta a um operário: “Está bombando?”. Ao que o funcionário responde afirmativamente com a cabeça. “Graças a Deus!”, comenta o executivo.
A linha de produção a que se refere Magaldi é a do perfume masculino Malbec, uma das cinco marcas do grupo que faturam, sozinhas, mais de R$ 1 bilhão por ano (as outras são Egeo, Florata, Cuide-se Bem e Lily). Quase toda a produção de Malbec (98%) é feita em Camaçari, onde se concentra 100% da produção interna de estojos de cremes e perfumes e a totalidade da produção própria de refil para as loções.
Não é só a fabricação de Malbec que está “bombando”. “Nosso crescimento foi tão rápido, que a gente não deu conta da produção. Nos últimos anos, precisamos contratar 11 fábricas parceiras para atingir 800 milhões de peças produzidas ao ano”, disse à Folha o vice-presidente de operações do Grupo Boticário, Sérgio Sampaio.
A companhia deve fechar o ano com um faturamento de R$ 36,9 bilhões, alta de 20% sobre os R$ 30,8 bilhões de 2023. Em relação às vendas de R$ 18 bilhões em 2021, o faturamento mais do que dobrou em três anos. O grupo é dono de 14 negócios diferentes, entre perfumaria, cuidados para corpo e cabelos e maquiagem –o mais famoso é a marca O Boticário, mas também estão na lista nomes como Eudora, Quem Disse Berenice?, Australian Gold (licenciada), Vult e Truss Professional.
“Hoje temos a liderança absoluta do mercado de beleza, incluindo todas as nossas marcas”, diz Sampaio. Ele confirma que o grupo passou à frente das vendas de Natura e Avon combinadas no Brasil. E qual categoria vem puxando esse crescimento? “A perfumaria de maior valor agregado, com frascos acima de R$ 150”, afirma. “Hoje temos a liderança do mercado de perfumaria no Brasil”, diz ele, afirmando que essa informação se baseia em uma análise consolidada de seis pesquisas de mercado.
Questionado se passou para o segundo lugar em perfumes no país, o grupo Natura&Co. (que reúne Natura e Avon) respondeu, por meio da sua assessoria de imprensa, que a marca Natura continua líder no segmento. “Em 2024, com o sucesso de sua estratégia de negócios e expansão nos diversos canais, a marca Natura alcançou patamar histórico na categoria fragrâncias e consolidou-se como líder do segmento no país. Natura é número 1 em fragrâncias nos lares brasileiros”, diz a empresa, citando dados da consultoria Kantar.
Segundo especialistas no setor ouvidos pela Folha, em condição de anonimato, enquanto o grupo Natura&Co. procurou enxugar seus negócios nos últimos anos, deixando a ambição de ser global (vendeu as marcas The Body Shop e Aesop), para se concentrar em Brasil e América Latina, o Grupo Boticário avançou. O conglomerado fundado em 1977 pelo farmacêutico Miguel Krigsner comprou a Vult Cosméticos em 2018, a plataforma de comércio eletrônico Beleza na Web em 2019, a marca de cuidados para cabelos Truss Professional em 2021 e a marca de produtos de autocuidado masculino Dr. Jones, em 2022.
A receita bruta de Natura&Co. América Latina somou R$ 27,2 bilhões em 2023 (queda de 6,6% em relação ao ano anterior). Já o Grupo Boticário atingiu volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) de R$ 30,8 bilhões no ano passado, alta de 30,5%.
Em agosto deste ano, a Avon pediu recuperação judicial nos Estados Unidos, o que impactou as ações da Natura&Co. O Santander mantém a recomendação “neutra” para os papéis. Em relatório, o banco afirma que um dos maiores riscos para o grupo é o aumento da concorrência em mercados chave, como o Brasil.
O Grupo Boticário se dedica agora ao projeto “Full Potential”, que envolve o aumento da capacidade industrial e logística do grupo, com investimentos de R$ 4,2 bilhões previstos entre este ano e 2027. Nos centros de distribuição, serão aplicados R$ 700 milhões, o que inclui a criação de um CD no Pará e outro no Ceará.
Mas a maior parte deste montante –R$ 2 bilhões– vai para a nova fábrica em Pouso Alegre (MG), que deve estar operando em 2028. Será a quarta fábrica do grupo.
A planta mineira, batizada de “Projeto Afrodite”, contará com um “polo da beleza”: um grupo de fornecedores de embalagens e insumos que se instala na região para atender o Boticário. Hoje são 2.400 fornecedores envolvidos nos três polos (Camaçari, São José do Rio Preto-SP e São José dos Pinhais-PR).
O grupo não revela quanto do faturamento vem de exportações, mas mantém presença em pontos estratégicos: três dos seus 10 CDs estão no exterior –Colômbia, EUA e Portugal. O Boticário tem ainda um escritório em Hong Kong.
RAIO-X GRUPO BOTICÁRIO
Fundação: 1977, em Curitiba (PR)
Controladores: Miguel Krigsner e Artur Grynbaum
Marcas: O Boticário, Eudora, Quem Disse Berenice?, Oui, Australian Gold, Beleza na Web, Vult, Bio-Oil, Dr. Jones, Truss, Nuxe, Au.Migos, Pampers e Tô.Que.Tô
Fábricas: Camaçari (BA), São José do Rio Preto (SP) e São José dos Pinhais (PR)
Centros de distribuição (CDs): São Gonçalo dos Campos (BA), Varginha (MG), Serra (ES), Campina Grande do Sul (PR), Registro (SP), Cajamar (SP), São José do Rio Preto (SP), Bogotá (Colômbia), Charlotte (EUA) e Lisboa (Portugal).
Presença: 4.000 lojas próprias em 1.750 cidades, 400 franquias, 65 mil pontos de venda multimarcas, 1,5 milhão de revendedoras
Funcionários: 20 mil diretos
Faturamento 2023: R$ 30,8 bilhões
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