Em 2022, demanda por perfumes estrangeiros de nicho – que usam matérias-primas raras, com mais liberdade para o perfumista – aumentou 35% no Brasil

O interesse dos brasileiros pela perfumaria autoral, que usa matérias-primas raras, com mais liberdade para o perfumista, pode ser medido pelas encomendas de essências de alta qualidade.

Em 2022, último ano com dados consolidados, as marcas brasileiras compraram R$ 1 bilhão em insumos premium, 27% a mais que no ano anterior. A taxa de crescimento foi duas vezes maior que a do setor como um todo, que avançou 13% e movimentou R$ 3 bilhões, com a negociação de 30 mil toneladas de fórmulas para perfumes, segundo a Associação Brasileira de Óleos Essenciais, Produtos Químicos Aromáticos, Fragrâncias, Aromas e Afins (Abifra).

“O brasileiro é alucinado por cheiros e vai atrás de perfumes de qualquer tipo e [isso ocorre] em qualquer classe social. O mundo reconhece esse perfil e por isso aposta [no país]”, diz Lucia Lisboa, presidente da Abifra. Vice-presidente de fragrâncias finas da fabricante suíça Givaudan na América Latina, ela prevê que o mercado assistirá à ascensão de mais grifes independentes – não ligadas a grandes conglomerados – mas não necessariamente autorais.

Primeira mulher a presidir a Abifra em 45 anos desde sua criação, Lisboa diz que na América Latina o fenômeno da perfumaria autoral se concentra no Brasil. “O brasileiro aprecia o que chamamos de ‘lasting’, a característica do perfume de ficar mais tempo na pele. O que soa como dicotomia dada à média de banhos diários, que é de 2,5, enquanto no mundo é a metade”, compara. “Isso ajuda a explicar as vendas [crescentes], mas também é um desafio para as empresas, porque elas precisam criar novidades atentas a esse lastro [de fixação] e a um frescor inerente às notas de saída [as primeiras a serem sentidas]”.

No exterior, o interesse pela perfumaria autoral levou a uma febre de aquisições. Estão no topo dessa cadeia as marcas Jo Malone, Le Labo e Tom Ford, adquiridas pela americana Estée Lauder; a casa Creed, comprada em outubro pelo grupo francês Kering; a inglesa Penhaligon’s e a sueca Byredo, cujas fatias majoritárias são da espanhola Puig; e a Parfums de Marly, comprada pelo fundo Advent International. Além das lendárias Maison Francis Kurkdjian e Acqua di Parma, duas joias da divisão de perfumes do grupo francês LVMH.

Um terço dos perfumes importados consumidos no Brasil já é de produtos autorais. Em 2022, essa demanda aumentou 35% em relação a 2021, segundo estudo da consultoria Euromonitor International. No mesmo ano, toda a categoria de importados respondeu por US$ 670 milhões dos US$ 6,7 bilhões em vendas locais de perfumes. O crescimento brasileiro nos perfumes autorais é ligeiramente maior que no mundial. Levantamento de outra empresa de dados, a Circana, estima que a perfumaria autoral cresceu 22,3% globalmente em 2022.

Não é coincidência, portanto, que, no Brasil, as grifes internacionais apostem nas linhas mais exclusivas, só encontradas em lojas próprias ou “free shops”.

Na loja da Chanel, um frasco da linha Les Exclusifs não sai por menos de R$ 3 mil. Na Hermès, os perfumes Hermessence, distinguíveis pelas cores das tampas forradas com couro Hermès, custam R$ 1.690 cada frasco.

Em 2019, a capital paulista ganhou a primeira loja multimarcas especializada em perfumaria autoral com a abertura da loja Neeche Haute Parfumerie, no shopping Iguatemi, no bairro dos Jardins. Controlada pela Prestige Cosméticos, distribuidora de cosméticos de luxo, a Neeche abriu o segundo ponto no JK Iguatemi, também nos Jardins, em agosto do ano passado. Antes, a Neech só fazia vendas no Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP), em parceria com a Dufry do Brasil.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/03/21/autorais-ja-sao-um-terco-dos-importados.ghtml

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