Empresa aposta na fabricação e venda de cosméticos quase 100% naturais.

Companhia também investe pesado em campanhas pela defesa de animais.

imagem blog lushAs receitas da vovó ajudaram a Lush a construir um império de cosméticos naturais. A empresa – que não usa testes em animais e leva a ética ao extremo, a ponto de ser confundida com uma ONG – existe desde 1995, mas a semente foi plantada muito antes. No fim da década de 70, Mark Constantine começou a produzir cosméticos em casa e virou fornecedor da Body Shop, companhia britânica que é líder de mercado de produtos de beleza naturais.

Quando a Body Shop abriu capital na bolsa de valores, Mark decidiu se afastar e fundou a Cosmetics to Go, que vendia cosméticos pelo correio. “Conseguimos £ 9 milhões em quase três anos. Então, falimos”, relembra o empresário. Como muitos clientes e fornecedores o encorajaram a voltar ao mercado, ele criou a Lush.

O plano era abrir cinco lojas em Londres e oferecer produtos feitos basicamente de frutas e legumes, a maioria sem embalagem. A estratégia deixou o próprio fundador receoso. “Achei que o público nunca fosse entender. Tenho que admitir que, olhando para trás, cheguei a pensar ‘Você é um tolo, fez besteira’”, conta Mark.

imagem blog lush
Em campanha contra a matança de tubarões, Lush vestiu uma mulher de sereia e a pendurou, com anzóis, na vitrine de uma de suas lojas. Ativismo ajuda empresa conquistar clientes. (Foto: Reprodução/GloboNews)

A Lush tem mais de 900 lojas em 51 países. O sucesso é atribuído à filosofia da empresa: produtos quase 100% naturais e, em vez de bichos, testes feitos em voluntários, que não cobram nada e ainda fazem fila para servir de cobaias. “Usamos em nós mesmos por meses. E, depois, começa o processo formal com um painel de testes”, explica a diretora de ética, Hilary Jones.

Não quero testar em um rato, porque não será dado para um rato. Vai ser dado para um ser humano” Andy Bennett, diretor do Frame Laboratory

Este ano, a União Europeia proibiu a indústria de cosméticos de fazer testes em animais, seja para produtos finalizados ou ingredientes. A medida é resultado de 20 anos de negociações. Com a nova lei, os governos e as empresas saíram atrás de alternativas. Um laboratório de Nottingham, no norte da Inglaterra, só faz experimentos com células humanas. “Não quero testar em um rato, porque não será dado para um rato. Vai ser dado para um ser humano”, defende Andy Bennett, diretor do Frame Laboratory.

Há apenas três laboratórios no Reino Unido como este. Eles são financiados por ONGs, pelo governo e, cada vez mais, por empresas. As alternativas para testes em animais têm atraído principalmente fabricantes de cosméticos, remédios, alimentos e pesticidas, mas não é um processo barato. A estrutura custou o equivalente a R$ 1,75 bilhão e, para que uma técnica seja aprovada pelas autoridades, é preciso cinco anos de pesquisa e a prova de que é mais eficiente do que o teste em animais.

A Lush não tem planos de usar as alternativas e prefere seguir com ingredientes frescos e a ajuda de voluntários. Mesmo assim, a empresa oferece um prêmio de £ 250 mil para projetos de pesquisa nesta área. A banca de juízes do Lush Prize é composta por cientistas, funcionários e ativistas.

 imagem blog lush 1

Retorno ao Brasil em 2014

De olho em um consumidor mais exigente e em um dos mercados mais promissores do mundo, que cresce – em média – 8,5% ao ano, a Lush tem planos de voltar a Brasil no ano que vem. A empresa já teve uma experiência que não deu certo. Foram abertas mais de 20 lojas com um parceiro local, até que surgiram dificuldades de importação e um excesso de dívidas, que resultaram na saída do país em 2006.

Para evitar novos desentendimentos, a Lush mudou a estratégia de expansão. Só procura sócios onde a legislação exige. Do contrário, prefere manter o controle sobre as novas lojas. “Somos uma empresa privada. Podemos optar por uma visão de longo prazo, dar um tempo para que o negócio cresça da maneira certa”, avalia o diretor de mercados emergentes, Karl Bygrave.

Um dos maiores desafios da Lush está do outro lado do mundo: a China, cujo mercado de cosméticos cresce 13,5% ao ano. Só que o país exige que tudo seja testado em animais, o que tem atrapalhado a expansão de companhias que abandonaram a prática e ainda não abriram nenhuma loja para lá. Bygrave acredita que a regulamentação do país vai mudar em três anos. A aposta vem do lobby feito nos bastidores e de uma legião de chineses ávidos por novos produtos.

GloboNews – Lush – Tubarão (Foto: GloboNews)Em campanha contra a matança de tubarões, Lush vestiu uma mulher de sereia e a pendurou, com anzóis, na vitrine de uma de suas lojas. Ativismo ajuda empresa conquistar clientes. (Foto: Reprodução/GloboNews)

Silenciosa, a campanha é diferente da que a Lush está acostumada a fazer, quando, por exemplo, pendura pessoas com anzóis na vitrine para protestar contra a matança de tubarões. Por ano, a empresa investe £ 1 milhão em campanhas, mas a audácia tem limite. “Tentamos medir o que falamos dependendo do território. Não somos muito barulhentos na Rússia. Não queremos todos os nossos funcionários presos. Tendemos a refletir o país com quem negociamos e tentamos contribuir com eles”, afirma o fundador, Mark Constantine.

O ativismo ajuda a conquistar clientes fiéis. Estabelecida em boa parte do mundo, a Lush quer agora diminuir o ritmo e investir na qualidade do serviço. No último ano fiscal, a empresa faturou aproximadamente R$ 1,37 bilhão, um aumento de 20% em relação ao período anterior. Com bons resultados, Mark não se preocupa com os concorrentes; os mais de 30 anos de experiência o tornaram um dos poucos a dominar a fabricação de cosméticos naturais. O nicho é inspirado em receitas do passado, mas a expectativa é de ainda mais dinheiro no futuro.

 

Fonte:. http://g1.globo.com/globo-news/noticia/2013/11/sem-fazer-testes-em-animais-lush-conquista-clientes-fieis-pelo-mundo.html

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *