Metas ambiciosas requerem tempo para que possam ser alcançadas. É o que revelam as políticas de desenvolvimento destinadas à promoção de mudanças estruturais no setor de alimentos e bebidas, capazes de tornar as cadeias produtivas mais sustentáveis e ampliar a oferta de produtos mais nutritivos, funcionais e, além disso, conquistar maior participação no mercado global. Não é algo simples uma vez que a governança destas políticas tem que sobreviver a diferentes gestões políticas ao longo do horizonte de vigência proposto, 2020, 2030 e até 2050.
O programa do governo do Reino Unido ilustra a magnitude dos objetivos que costumam ser propostos. O plano Food 2030 define seis pilares de intervenção: Encorajar as pessoas a ter alimentação saudável e sustentável; Assegurar um sistema alimentar resiliente, lucrativo e competitivo; Aumentar a sustentabilidade da produção alimentar; Reduzir as emissões de gases de efeito estufa do sistema alimentar; Reduzir, reutilizar e reprocessar os resíduos; Aumentar o impacto das capacitações profissionais, conhecimento, pesquisa e tecnologia.
Também não é possível transformar todo o setor de alimentos de um lado só. Além de um prazo mais longo, as políticas partem do pressuposto que o esforço necessita ser coletivo, requer consenso e maior entendimento entre os diferentes atores do setor, tarefa árdua considerando que os interesses nem sempre convergem numa mesma direção. É comum surgirem resistências às mudanças no lado de quem vê seu modelo de negócio ameaçado.
O processo iniciado pelo governo australiano em 2002 serve como modelo de como é possível construir um plano nacional de forma participativa com a sociedade. As diretrizes propostas foram amplamente debatidas por diferentes canais, culminando com a publicação, em 2013, de uma versão denominada como Green Paper, uma minuta que deverá dar origem a um plano nacional com o objetivo de promover um sistema produtivo sustentável, resiliente e competitivo globalmente, capaz de fornecer alimentos nutritivos e acessíveis à população.
Embora sejam de difícil realização, existem motivos de sobra para que estas políticas sejam levadas adiante. Para o lado governamental, a mudança na dieta da população é fundamental para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares, obesidade, diabetes, entre outras. Além da função social, há necessidade de reduzir as despesas com saúde pública. Interessa aos governos também que o sistema produtivo cause menor impacto ao meio ambiente e contribua mais para a inclusão social. Para as empresas, a saudabilidade e sustentabilidade têm despontado como importantes plataformas para criar produtos de maior valor agregado e demonstrar sua responsabilidade social aos consumidores, o que tem garantido sua competitividade e a manutenção da imagem positiva de suas marcas.
No Brasil vale destacar a iniciativa do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos que, em parceria com a Embrapa, realizou o projeto “Sustentação e Sustentabilidade da Produção de Alimentos – O Papel do Brasil no Cenário Global”, abrangendo a análise dos principais temas relacionados ao desenvolvimento do setor de alimentos, entre os quais o ITAL coordenou os estudos sobre Agroindústria e Consumo de Alimentos.
As conclusões do Projeto Alimentos deram origem a definição de seis pilares para uma política nacional: Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I), educação e capacitação; Viabilidade econômica, social e ambiental do sistema agroalimentar; Infraestrutura, logística e tecnologia da informação; Promoção do empreendedorismo; Cultura de comércio internacional; Consumo, saúde e bem estar. Não por coincidência, bastante similares às estratégias de vários países, sinal de que são questões fundamentais para o sistema global de produção de alimentos, cujo equacionamento definirá a posição competitiva dos países nesse setor, futuramente. Certamente merecem cuidadosa atenção e, por isso, voltaremos a tratar delas com mais detalhes.
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