Durante a infância, a farmacêutica e empresária Ada Mota costumava brincar de fazer receitas no jardim da sua casa, em Cachoeiro do Itapemirim (ES). Enquanto suas amigas se divertiam com o preparo de comidinhas fictícias para as bonecas, ela preferia fazer experiências misturando folhas e frutos para passar no cabelo e na pele.

Hoje, sabe-se que a prática revela mais do que simples reminiscências infantis. Eram indícios do caminho a ser traçado por Ada, que ao cursar farmácia e investir no setor de beleza tornou-se uma das pioneiras do mercado cosmético brasileiro.

Ada está há 21 anos à frente da Adcos, indústria cosmética com fábrica no município de Serra (ES) e capacidade produtiva de 3,5 milhões de volumes ao ano. A marca de dermocosméticos tem 77 lojas em 21 estados brasileiros, além de 400 pontos de venda. O modelo de negócios atinge três públicos diferentes: os dermatologistas, as esteticistas e o consumidor final. O faturamento é de R$ 148 milhões e deve crescer 25% neste ano.

Ada gerencia uma equipe com 300 funcionários (além de 750 indiretos), se divide entre Vitória e o escritório em São Paulo e ainda desenvolve fórmulas no laboratório para criar cosméticos para rosto, cabelo e corpo para homens e mulheres, além dos produtos profissionais.

Mas esse caminho, por mais que a brincadeira no quintal sugerisse o caminho do sucesso, não foi simples, tampouco linear. Em meados da década de 70 ela saiu de Cachoeiro do Itapemirim e foi cursar farmácia em Vitória. Acabou a faculdade, casou e foi morar na França, onde conseguiu uma bolsa e se formou especialista em Cosmetologia e Dermofarmácia pela Faculdade de Farmácia Paris V.

A faculdade tinha uma parceria com o hospital Saint Louis, especializado em cuidados da pele. Lá ela passou a desenvolver medicamentos que diminuíssem os sintomas de doenças de pele com textura menos pesada, boa absorção e conforto aos pacientes. A estadia francesa durou pouco mais de três anos.

De volta a Vitória, ela recomeçou a carreira trabalhando com gel para ultrassom. De carro novo dado pelo pai, foi encontrar uma amiga de faculdade para compartilhar intenções para o futuro profissional. A colega havia inaugurado uma farmácia de manipulação chamada Farmaderm e convidou Ada para entrar na sociedade.

Montar um negócio não era de todo estranho para Ada, visto que ela vem de uma família de empreendedores. Seus pais, Achiles e Adelaide, são donos de uma loja em Cachoeiro do Itapemirim, onde vendem artigos de couro. Assim que atingiu altura para ser vista pro trás do balcão, ela passou a dar expediente no comércio familiar. “Eu trabalhava no caixa, cobria meus pais quando eles saiam de férias”. A Casa Mota continua em atividade na cidade, com Sr. Achiles dando expediente diário.

Era o começo da década de 80 e Ada tinha uma proposta de emprego, mas nenhum capital. Decidiu, então, vender seu único patrimônio, a Belina dada pelo pai, para investir na Farmaderm, primeira farmácia de manipulação do estado. “Minha mãe dizia que não tínhamos juízo. Minha sócia topava tudo e, em 82, montarmos a indústria cosmética Adcos. Era uma inovação dar uma cara mais cosmética para produtos farmacêuticos. Não se falava em dermocosméticos por aqui”, relembra Ada.

A rede Farmaderm já contava com seis endereços quando a empresária resolveu separar os negócios, investir mais na fábrica da Adcos e na linha cosmética. O conhecimento de Ada sobre cosmetologia a levou a inúmeros congressos pelo Brasil e a ajudou a criar uma rede de admiradores de sua marca. Admiradores que se tornaram os primeiros distribuidores. Seguindo nas atuação nos três focos — dermatologistas, esteticista e consumidor final – a empresa começou seu segundo ciclo.

Há 21 anos no mercado, a Adcos mantém 77 lojas e outros 400 pontos de venda em 21 Estados brasileiros

A extenuante rotina de reuniões e pesquisa não findava com Ada descansando a beleza tranquilamente. Ao chegar em casa, ela tinha uma outra equipe para gerenciar: seus quatro filhos – todos homens. Certa vez, acompanhando um dos rebentos no pediatra, quem acabou sendo diagnosticada foi ela – estava com a imunidade baixíssima provavelmente causada por stress.

A empresária contava com um staff para ajudar com as crianças e em um período conseguia se dedicar à elas pela manhã – o que incluía um leva e traz para judô, natação e tênis – e ir para empresa à tarde. “Minha casa era um acampamento com bicicletas pela sala e cheiro de bolo de chocolate”, lembra. Portanto, nada de competição pelos cremes na penteadeira da mãe.

Sem herdeiras mulher, Ada chegou a se preocupar com o futuro da empresa. Mas hoje tem a felicidade estampada no belo rosto – e não apenas por causa dos cosméticos que usa. Vitor, seu primogênito, já circula pelos departamentos da empresa para conhecer e assumir uma parte da gestão. Ele fez engenharia mecânica, MBA no exterior, trabalhou por três anos em consultoria e agora da expediente na controladoria da Adcos. “Ele está no coração da empresa. É importante saber de todo o processo”, diz Ada. Logo mais será a vez de Lucas, o segundo filho, que vai vestir a camisa. Por enquanto, ele estuda cosmetologia na Franca. E os caçulas, os gêmeos Felipe e Matheus, também já pediram para reservar espaço para eles na sala de reunião.

Eles vão lidar com uma terceira fase da companhia, a de expansão das franquias. Em agosto de 2013 foi inaugurado o escritório em São Paulo para acelerar a captação de eventuais franqueados. Em 2014 foram inauguradas seis franquias. Está consolidado a atuação da empresa pelo sistema multicanais. O público pode comprar por meio de televendas, loja, show room, vendedor externo e o e-commerce, onde estão disponíveis os produtos home care.

Nos últimos três anos, a empresa investiu R$ 6 milhões ao ano, sendo 8% do faturamento em marketing e 5% em pesquisa e desenvolvimento. Há também um distribuidor em Portugal, mas ainda em fase de adequar os produtos às normas da comunidade europeia. “Temos muito que expandir no Brasil”, reforça a empresária.

Com o suporte dos filhos na empresa, Ada tem como se dedicar mais à pesquisa, área da qual mais gosta. É entre princípios ativos, tubos de ensaio e equipamentos que ela define novas receitas. Dentro do laboratório ela criou o carro chefe da empresa até hoje, o Reduxcell, de combate à celulite, vendido há vinte anos com modernização da fórmula.

A missão de Ada e sua equipe sempre foi a de mostrar que foto proteção deve ser encarado como tratamento. Eles foram os primeiros a lançar um foto protetor mineral, há dez anos. Se há poucos anos a indústria cosmética louvou produtos chamados “3 em 1″que surgiram nas gôndolas, o assunto não era novo para a Adcos. Há vinte anos os produtos já são multifuncionais. Um protetor solar, por exemplo, tem ativos antioxidantes. “Este é o nosso forte, a nossa missão. Em muitos países o filtro solar é vendido em potes de um quilo e fica no carro para ser repassado ao longo do dia”, conta Ada.

Divorciada, Ada gosta de viajar com as amigas. Sua ida à Australia e Havaí foi uma verdadeira lição de beleza. “Lá eles tem acesso a produtos orientais que aqui não chegam. Os asiáticos são os que mais têm consciência dos efeitos do sol”, diz. Ela adora ler e assistir a filmes. E, mesmo com a chegada dos filhos à empresa, não pensa, tão cedo, em parar de trabalhar. “Não posso me aposentar. Se isso acontecer, abro um novo negócio”.

 

 Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/3759332/farmaceutica-cria-formula-de-beleza

 

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