Falar sobre a percepção do mercado de alimentos atualmente é transitar por diferentes vertentes que comumente estão interseccionadas.
 
Antes de tudo, precisamos considerar que a população mundial cresce a cada década, podendo saltar, como têm mostrado as projeções da ONU, para mais de 9 bilhões até 2050. Ou seja, teremos uma população cada vez maior precisando se alimentar, e, somente por essa previsão, sabemos que é preciso revisar e otimizar a forma de produzir e ofertar alimentos.
 
Há também um movimento progressivo deste mercado para o desenvolvimento de novos produtos a partir de hábitos de consumo que foram transformados de forma muito volátil, principalmente após a pandemia. Neste contexto, basta observar o crescimento dos deliveries de alimentos no período de isolamento, e que se mantém até então, evidenciando a migração para o online tanto do consumidor quanto do ramo alimentício, que precisou se adequar a este cenário, revisitar sua operação e prover uma jornada de consumo majoritariamente digital.
 
Além disso, o acesso à informação tem sido uma crescente, assim como a percepção sobre hábitos e escolhas sustentáveis, o que traz para o segmento a missão de prover mais transparência na sua cadeia, seja na operação, por produções que respeitem as exigências e condições ambientais, seja na oferta do produto, oferecendo saúde e nutrição e respeitando as condições de segurança alimentar.
 
E os desafios não param por aí: nem sempre as empresas contam com os recursos necessários para desdobrar essas soluções, então conseguir um financiamento para projetos de inovação pode ser um grande obstáculo a ser enfrentado, pois os processos de colaboração dentro delas são complexos – principalmente devido a divergência de perfil, metodologia, cultura e mentalidade dos players. Flexibilizar as partes em prol do desenvolvimento de uma iniciativa dessas é uma dificuldade que existe até o momento de implementação.
 
Com relação às principais tendências do setor, vemos a geração de opções alternativas de alimentos que consigam atender novos padrões de consumo e hábitos alimentares, como, por exemplo, o de dietas vegetarianas que substituem o uso de proteínas animais por vegetais, ou de quem tem restrições alimentares, ampliando a gama de produtos sem glúten e zero lactose.
 
Outra alternativa em ascensão, mas ainda com pouca viabilidade financeira, é o desenvolvimento de proteína cultivada, onde há a coleta de uma célula animal que é inicialmente cultivada em laboratório, e posteriormente, em biorreatores, gerando ganho no tempo de produção e escala deste componente, na produção de alimentos. Recentemente, a revista Exame divulgou que a JBS – considerada a maior empresa de alimentos do  mundo – investirá 100 milhões de dólares em até 5 anos, na fabricação de proteína cultivada no mundo.
 
Outra novidade que vem ganhando popularidade é o conceito de “clean label” (rótulo limpo), que além do seu objetivo de ser transparente quanto às composições dos produtos, estende-se ao uso de tecnologias para promover uma cadeia sustentável. Quando pensamos na crescente produção de alimentos orgânicos, contamos com tecnologias que podem aumentar a produtividade no campo e otimizar a logística de distribuição, além de serem também soluções menos agressivas, como, por exemplo, sem conservantes e corantes, que entreguem o produto ao consumidor final de forma sustentável e alinhada às condições ambientais. Um exemplo muito bacana é a Zero Plastic, que desde 2020 confecciona embalagens funcionais para a entrega e consumo de alimentos e com matéria-prima 100% natural.
 
Há ainda as tecnologias capazes de otimizar outros aspectos dentro das empresas, como o uso de inteligência artificial, que gera eficiência de produção e torna a indústria alimentar, que é sensível, mais eficiente e produtiva. Além disso, quando pensamos em como nos aproximar do consumidor final, conhecer seus hábitos e comportamentos e traduzi-los nos processos e soluções, a modalidade de vendas online por uma transmissão ao vivo, conhecida por live commerce, por exemplo, que ainda está em ascensão no Brasil, pode ser uma ótima solução que acompanha a grande tendência do consumo online e de aproximação ao consumidor e suas necessidades.
 
De acordo com a pesquisa Global Consumer Insights (Pulse), mais de 40% do consumo acontece exclusivamente no online, sendo que no Brasil nos aproximamos dos 35%. A Bauducco, por exemplo, identificou essa necessidade e por meio do B.LAB, seu programa de inovação aberta, viu a oportunidade de testar esse novo formato de vendas, que tem a capacidade de aproximar os consumidores. Junto com a Startup Mimo Live Sales, eles testaram o canal de vendas em uma data extremamente significativa para a empresa e para o público, que é o Natal, e os resultados mostraram uma taxa de conversão acima da média do segmento.
 
O cenário atual de inovação no mercado alimentício é extremamente dinâmico quando pensamos nos seus principais componentes: as corporações, com grandes desafios a serem solucionados e necessidades de consumo para serem atendidas urgentemente; as food techs, essenciais para o segmento se manter atualizado e consolidado frente às novas tendências, hábitos de consumo e demandas, e dedicadas a desenvolver produtos e soluções que atendam os desafios da indústria e da cadeia alimentar; os órgãos regulatórios, que garantem a segurança e qualidade desta cadeia, os centros de pesquisa e o consumidor final, a todo momento gerando insumos para as demais partes acerca do movimento e jornada que precisam percorrer; e a tecnologia que é o grande pilar da inovação, porque permite tangibilizar o desenvolvimento de novos produtos e novos modelos de negócio que atendam essas demandas.
 
Diferentemente do que se via há algumas décadas, provavelmente continuaremos na crescente de investimento em inovação – até porque já conseguimos evidenciar com números e cases o valor e retorno que ela gera para o segmento. A evolução e investimento no setor também são vistos pelo aumento do número de foodtechs, em especial as que ofertam tecnologia para e-commerce e desenvolvimento de alimentos e bebidas. As empresas do ramo começaram a entender que não precisam e nem devem dedicar tempo e esforço fazendo tudo sozinhas, mas devem se conectar com parceiros (pode ser startup; núcleos de pesquisa; etc) como uma forma mais assertiva de fomentar inovação aberta e plugar em seus processos e produtos novas soluções e tecnologias que podem já estar validadas no mercado de forma muito mais ágil e barata, gerando mais valor para a cadeia.
 
Por fim, fica claro que a agenda de inovação é crucial na indústria alimentícia, uma vez que viabiliza a criação de novas alternativas pelas companhias do segmento e potencializa esse movimento de adequação às mudanças extremamente voláteis do mercado. Inovar é imprescindível para manter a competitividade das empresas no ramo alimentício, possibilitando que elas se destaquem entre seus concorrentes, enquanto atendem as demandas e preferências dos consumidores. Estamos vivenciando uma transformação na forma que o consumidor se relaciona com os alimentos, e precisamos nos esforçar para acompanhar essas mudanças o mais rápido possível.

Fonte: https://foodinnovation.com.br/a-jornada-de-inovacao-no-mercado-alimenticio/

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