Com a digitalização do consumidor acelerada pela pandemia, novo movimento no setor busca aumentar lucros com o mercado de cosméticos e maquiagem e suprir todas as necessidades do consumidor em um só lugar
O mercado de beleza global movimenta mais de 500 bilhões de dólares anualmente em vendas. No Brasil, esse setor tem uma influência expressiva na economia e, segundo dados da consultoria Euromonitor International, o país ocupa a quarta posição entre os maiores compradores de cosméticos e produtos para cuidados pessoais do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Japão. De olho nesse campo e acompanhando uma mudança de comportamento entre os consumidores, que ficam cada vez mais familiarizados com as ferramentas digitais, varejistas online que iniciaram suas operações focadas no universo da moda embarcam agora no ramo da beleza, mirando ampliar os lucros e oferecer uma experiência de compra mais completa para seus clientes.
Entre as movimentações mais recentes do mercado nessa área, está a união do marketplace brasileiro Shop2gether, conhecido destino fashion de luxo, com a gigante de beauté Sephora. Desde as últimas semanas, a rede internacional passou a ter uma espaço exclusivo dentro do e-commerce para vender uma curadoria de produtos especialmente selecionada. Essa é a primeira vez que a grife francesa se une a uma multimarca digital brasileira. “Estamos desenvolvendo essa parceria há um ano. Moda e beleza são dois segmentos que andam interligados. Sentimos que poderíamos melhorar a experiência de compra que promovemos aos nossos clientes, proporcionando a eles a opção de consumir produtos de moda, beleza e lifestyle em um único ambiente virtual. Enxergamos nessa parceria crescimento para ambos”, falou à Vogue Ana Isabel de Carvalho Pinto, co-fundadora e CFO do Icomm Group.
O Shop2gether prevê um aumento de 30% nas vendas com a colaboração, que oferecerá desde itens de maquiagem, skincare, fragrâncias até produtos de bem-estar. “A expectativa da Sephora com a união é ampliar o alcance da rede em todo o Brasil. Ao entrar em um marketplace, conseguiremos captar novos consumidores com nossos melhores produtos e marcas, além de conectar os beauty lovers a um canal de moda também. A intenção é realmente trabalhar de maneira complementar e proporcionar uma experiência 360º”, disse Andrea Orcioli, CEO da Sephora, que estima que as categorias de maquiagem e fragrâncias serão as mais expressivas na nova colaboração.
Tendência não só no mercado nacional, a expansão de grandes players digitais da moda para a beleza foi marcada também com aquisição pela Farfetch da varejista californiana Violet Grey, conhecida por ter uma curadoria de marcas de beauté premium além das grifes tradicionais. O movimento, que aconteceu no início deste ano, foi o primeiro passo do marketplace de luxo no setor. Com o lançamento da Farfetch Beauty, o e-commerce passou a oferecer mais de 100 rótulos diferentes da categoria, além de criar uma plataforma para dividir com os consumidores o conhecimento de especialistas e facilitar a troca de impressões de sua comunidade, com um espaço no qual o público pode contar suas experiências com os cosméticos, publicar tutoriais e procurar por inspirações.
“A entrada no universo da beleza está alinhada ao desejo do consumidor e a visão da Farfetch de ser customer centric, ou seja, ter o cliente no centro do negócio, uma vez que sabemos que nosso público que ama moda também está interessado em beleza e autocuidado”, falou Stephanie Phair, CCO da Farfetch, sobre a empreitada. Por enquanto, a categoria está disponível apenas internacionalmente, mas o objetivo é implementar a operação também no Brasil. Apesar de não divulgar números, a plataforma estima que em poucos anos o canal de beleza será responsável por uma parte importante do negócio. “Não entraríamos nesse ramo se não acreditássemos que ele era valioso para a nossa empresa”, falou Holli Rogers, CBO da Farfetch, ao Vogue Business.
Aceleradores da tendência
Para Ana Isabel, a pandemia ajudou a acelerar essa tendência que já começava a despertar entre os grandes marketplaces. “O isolamento fez com que as pessoas se adaptassem e buscassem cada vez mais praticidade no ambiente virtual. Os e-commerces, respondendo a esse movimento, estão procurando formas de trazer para seus consumidores aquilo que eles sentem necessidade. Nosso objetivo sempre foi ser um destino de compras definitivo, portanto, quanto melhor for a curadoria e maior o portfólio, mais satisfeitos os clientes ficarão.”
Foi durante a crise sanitária, por exemplo, que a Amaro, plataforma que iniciou a sua operação no setor de varejo de moda com uma grife própria, expandiu sua operação para o universo de lifestyle, passando a comercializar também produtos de beleza, bem-estar e decoração de empresas parceiras. O que começou com uma curadoria de 14 marcas em 2020, hoje chega ao número de 500 etiquetas – quase metade focadas no mercado de beauté. A Amaro é também a responsável por toda a logística do que é vendido no e-commerce, inclusive dos produtos parceiros.
“Acredito que esse desejo por mais opções e segmentos em um só lugar esteja acontecendo em muitas marcas porque é uma demanda das consumidoras. Essa virada de chave da Amaro é um movimento sólido, com decisão tomada com base em potencial de mercado e visão de futuro. Sem contar também que essa expansão de categorias triplica o tamanho de mercado potencial da empresa”, falou a head do setor de beleza Adriana Araujo.
Além da digitalização acelerada nos últimos anos em função do isolamento social, Andrea Orcioli aponta também como combustível para essa tendência de mercado o impacto positivo gerado com as estratégias de crossbranding, que somam a força das empresas envolvidas e aumentam o poder de alcance dos negócios. “Vejo essa alternativa cada vez mais ser usada pelas marcas, pois é algo que impacta, fomenta discussão e ajuda nas vendas e prospecção de novos consumidores. É uma estratégia que, se feita de maneira correta, pode trazer ótimos resultados. Nas tendências das redes sociais, cada vez mais moda e beleza andam juntos, então faz muito sentido trazer isso para a vida real e unir tudo em um só lugar. As pessoas hoje buscam por praticidade, agilidade e encontrar tudo o que precisam para um bom look em uma plataforma só, é o mundo ideal.”
Parceria que fortalece
Em um movimento um pouco diferente, mas comprovando a tendência da “união faz a força”, foi pensando em somar para ficar mais forte que a marca de clean beauty Simple Organic também criou uma iniciativa para unir grifes parceiras de beleza e bem-estar. Chamado de Simple Guests, o projeto lançado em maio deste ano oferece visibilidade e suporte logístico para negócios com propósitos alinhados ao da empresa. A intenção, segundo Patricia Lima, CEO e fundadora da Simple Organic, é apoiar o setor e criar uma rede de incentivo aos pequenos, abrindo portas e democratizando o mercado sustentável.
“Estamos recebendo muitos feedbacks positivos de clientes que agora conseguem comprar outros tipos de produtos no nosso site. Em breve, também levaremos esse projeto para as lojas físicas e franqueados, o que vai ganhar ainda mais capilaridade. Nossa comunidade adora complementar sua rotina de wellness em um único espaço. Para nós, o mais importante de tudo tem sido a criação de conteúdos incríveis em parceria com os Simple Guests. Temos recebido ótimos retornos aos temas abordados que, antes do projeto, talvez não fossem discutidos nas nossas redes sociais”, finaliza.
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