Entre as apostas da companhia está uma parceria com startup que dá cashback para consumidores que levarem garrafas de vidro para reciclagem
Uma das principais empresas de bebidas do mundo, a Heineken carrega no seu tamanho o mesmo desafio de zelar pela sustentabilidade global. Com fábricas em mais de 70 países, a cervejaria holandesa fechou o último trimestre com um faturamento na casa de 9,4 bilhões de euros (ou cerca de R$ 53 bi na cotação atual).
O desempenho da Heineken é dividido entre as várias marcas que controla pelo mundo: Amstel, Eisenbahn e Sol são só algumas das subsidiárias. Por isso, desde que chegou no Brasil, em 2010, tem sido uma das pedras no sapato da Ambev, que ainda concentra a maior parte do mercado de bebidas no país, mas enfrenta desafios.
Com um mercado cada vez mais aquecido -os brasileiros são um dos povos mais consumidores de cerveja no mundo-, tanto a Heineken quanto as concorrentes estão tentando adequar seus negócios às demandas sociais. Isso começa, por exemplo, pelos plásticos e garrafas utilizadas para envasar e vender os líquidos.
Segundo Ornella Villardo, diretora de sustentabilidade do grupo Heineken, a estratégia tem sido investir em projetos sustentáveis de forma direta, mas também firmando parceria com outras empresas e startups que propõem soluções que possam acelerar o processo. Ela explica que, dentro da meta ambiental, existem três fatores que direcionam os trabalhos da equipe.
“Neutralização do carbono, circularidade de embalagens e saúde das bacias hidrográficas são os três eixos que direcionam os trabalhos da equipe”, diz Villardo, que atua nesta área há cinco anos. “Temos um compromisso, assinado em 2021, de atingir 100% de circularidade no nosso canal de bares e restaurantes, o mais representativo em volume de vendas, tanto de plástico quanto de vidros, este último que é o maior desafio dentro do nosso portfólio”.
Uma garrafa por um desconto
Para atingir essa meta, uma das startups envolvidas no projeto é o Grupo Seiva, que instala e administra máquinas de reciclagem de vidro espalhadas por várias cidades. Essas máquinas fazem o trabalho de trituração do material na medida e no formato exato que permita a reconstrução da embalagem e o seu posterior reuso.
“Nós somos um grupo de empresas especializadas em entregar soluções complementares umas das outras, com foco em um projeto disruptivo de sustentabilidade. No caso da Heineken, a companhia nos procurou para investir em um projeto que permitisse que o público final fosse protagonista”, lembra Daniel Nascimento, sócio-diretor do Grupo Seiva.
Quando o projeto da Heineken foi desenhado, a Seiva pensou em um produto que fosse construído sob demanda para a Heineken, mas não para ser vendido à empresa. Atuando neste modelo, a startup consegue gerar outras rendas a partir do negócio principal. Um exemplo disso são os televisores acoplados nas máquinas de trituração, que permitem a exibição de anúncios de outras marcas, exceto de concorrentes, conforme explica Nascimento.
Com a parceria, o plano é colocar o consumidor no centro da reciclagem, dando a ele a oportunidade de contribuir para o projeto e ainda receber por isso. Dessa forma, as máquinas instaladas em prédios residenciais e redes de supermercado têm rotatividade e oferecem cashback para cada garrafa de vidro entregue para a reciclagem.
“Essa é uma frente focada nos territórios. A ideia é que, em um condomínio, ela fique entre três e seis meses, e depois vá para uma outra região. No varejo, ela é fixa. Entendemos que, uma vez que os consumidores passam a ter esse hábito, parte deles sai do condomínio para levar no varejo. Para cada garrafa, o consumidor recebe um cashback que pode ser revertido nos próprios produtos do ponto de vendas”, explica Ornella.
Ao todo, já foram reciclados 235 toneladas de garrafas de vidro pelas dezenas de máquinas instaladas pelo país. Deste montante, 70% veio dos equipamentos que ficaram no Rock in Rio. Até o final deste ano, a Heineken planeja alcançar 420 máquinas, em 10 cidades do mapa brasileiro.
Produção com energia renovável
Quando se fala em ações diretas que a gigante de bebidas está tomando, o destaque vai para a alimentação elétrica de suas fábricas. Em parceria com a Raízen, joint venture entre Shell e Cosan, a holandesa deve encerrar o ano com suas 14 operações brasileiras feitas totalmente por energia renovável.
“Pensando no fim deste ano de 2023, já teremos 100% das nossas cervejarias no Brasil com energia totalmente renovável. Essa é uma fração do compromisso que a empresa tem de neutralização de carbono até 2040, um ano antes do acordo de Paris”, destaca.
Uma dessas fábricas é na cidade de Passos, no interior de Minas Gerais, onde a companhia estrangeira fez um investimento inicial estimado em R$ 1,8 bilhão. A inauguração do local está prevista para 2025 e deve ter produção exclusiva de puro malte, como das marcas Heineken e Amstel.
A empresa tem garantido que, além de beneficiar seus próprios negócios, o lançamento da unidade deve levar sustentabilidade para toda a cidade mineira. Os moradores e donos de bares e restaurantes poderão ter acesso à energia limpa por meio de um cadastro facilitado, que dará desconto direto na conta de luz.
“Fizemos uma parceria com outra startup, que mantém uma plataforma que permite que o consumidor faça essa transição da convencional para a renovável por meio da geração distribuída. Conseguimos levar, com diversos parceiros ao longo de toda a cadeia, energia limpa para todos os nossos elos”, conclui.
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