Hoje nos holofotes devido às dezenas de mortes de cachorros associadas à suposta contaminação de petiscos da marca Bassar Pet Food com monoetilenoglicol, o mercado brasileiro de comida para pets é um setor bilionário com projeção de aumento ainda mais expressivo nos próximos anos. Por enquanto, afirmam pet shops e representantes do mercado, o vulto do suposto envenenamento tem deixado clientes desconfiados, mas não o bastante para afetar as vendas.
Em 2021, o segmento de pet food teve uma receita de R$ 28,1 bilhões e uma produção de 3,62 milhões de toneladas de alimentos para animais de estimação, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). Projeção da empresa de inteligência de mercado Mordor Intelligence estima que, em 2026, o mercado de pet food brasileiro deve chegar a US$ 6,27 bilhões (quase R$ 32,5 bilhões, nos valores atuais). O aumento da produção só não deve ser maior que o da China e da Índia.
O mercado consumidor é gigante: o Brasil tem 139,3 milhões de pets — 54,2 milhões deles, cães —, a terceira maior população de animais de estimação no mundo. A Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet) afirma que é cedo para avaliar as consequências do suposto envenenamento no setor. Para o presidente da Associação Nacional de Distribuidores de Produtos Pet (Andipet), Paulo Cesar Maciel, eventuais impactos não tendem a se prolongar.
“Neste momento, todo mundo está ressabiado. Acredito que a demanda se recupere nos próximos meses. Há grande oportunidade para as marcas concorrentes [da Bassar]”, avalia. Pet shops de Belo Horizonte consultados pela reportagem afirmam que não houve diminuição da procura por petiscos, mas todos relataram que clientes têm verificado se a loja trabalha com a Bassar.
“Recolhemos todos da marca para a fábrica. As vendas de outros petiscos não foram afetadas. O tíquete médio de compra dos clientes é R$ 250 e os petiscos custam em torno de R$ 9, então eles não são tão representativos para as vendas”, comenta a gerente de um estabelecimento na região Centro-Sul, Aline Freitas. Proprietário de outro pet shop na região, Plínio Noronha diz que, embora não tenha havido queda de vendas, ele percebeu uma mudança recente na escolha dos consumidores. “Senti uma migração para uma linha mais natural de petiscos, sem conservantes ou corantes”, conta.
Suposta contaminação foi ponto fora da curva, avalia especialista
Professor de produção e nutrição de animais de estimação e silvestres da Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Leonardo Boscoli Lara destaca que, em geral, a produção de petiscos na indústria é segura. O especialista avalia que os casos de petiscos supostamente contaminados devem ser tratados como “ponto fora da curva”. “A fiscalização é bem feita. Foi um acidente muito infeliz”, prossegue. Conforme o professor, os fabricantes e fornecedores são submetidos a normas e fiscalizações, de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Para atuarem, eles precisam de um selo de inspeção federal.
No caso da suposta intoxicação dos cães, o especialista avalia que possa ter ocorrido uma falha do tipo do aditivo propilenoglicol comercializado. A posição é corroborada pela própria empresa apontada como fornecedora da substância, que afirma não disponibilizar o composto para uso alimentício. A fabricante dos petiscos afirma ter comprado o aditivo com certificação para uso em alimentos.
“O erro parece ter sido em utilizar um produto de uso industrial como uso alimentício. Agora,se quem comprou como alimentício ou se quem vendeu comercializou como alimentício, caberá às investigações responder”, afirma o especialista.
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