Verão chuvoso, poucos eventos, concorrência e inflação afetaram desempenho dos fabricantes

Após cinco anos de crescimento contínuo, o mercado de latas de alumínio, fortemente atrelado ao consumo de cervejas, viveu revés nas vendas em 2022. Os despachos da embalagem para as fabricantes de bebidas no país foram comprometidos pelo clima, reabertura de bares e restaurantes depois do auge da covid, trazendo maior presença do vidro, e a corrosão do poder de compra das pessoas.

Em todo o ano, foram comercializadas 31,8 bilhões de latinhas, o que representou recuo de 4,7% ao se comparar com as 33,4 bilhões de 2021, informou a Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas).

O setor havia saído de 23 bilhões de latas em 2016, com crescimento médio anual de 8% até o final de 2021, comercializando 10 bilhões a mais de embalagens. Até o fim deste ano, desde 2020, são mais oito novas unidades, além das expansões em linhas existentes, segundo a entidade. São quatro fabricantes independentes no país – Ardagh, Ball, Canpack e Crown. A Ambev montou uma unidade cativa em MG.

Cátilo Cândido, presidente executivo da Abralatas, afirmou em entrevista ao Valor que a queda foi concentrada no primeiro trimestre de 2022. Ele admite que foi um baque pesado no setor naquele período de verão chuvoso e sem a festa do Carnaval no país. “Nos demais trimestres, a indústria mostrou crescimento, porém, não o suficiente para compensar o início de 2022”, afirmou.

Para ele, o desempenho negativo é explicado por quatro fatores. “A questão climática, em um ano em que as temperaturas foram menores que nos anos anteriores; a reabertura de bares e restaurantes, com consumo maior de bebida em vidro; e os eventos mundiais, como a Copa do Mundo, com uma precoce eliminação do Brasil, além de uma nítida repressão no consumo, ocasionada principalmente pela inflação”.

Segundo o executivo, o forte do comércio de bebida em lata é por meio do atacarejo, do “off trade”. “No verão, a lata é férias, praia, é churrasco…”. Ele observa que os eventos fora de época foram poucos, e não houve nenhum de expressão no primeiro semestre.

Na questão econômica, a avaliação é que a inflação teve impacto direto no consumo, represando compras dos consumidores de bebidas, que não é um bem essencial, como alimentos.

“A pandemia ocasionou uma verdadeira gangorra no mercado. Iniciamos o ano de 2022 cientes de que seria um período de ajustes e muitos desafios. Acreditamos no potencial do nosso produto, em um novo ciclo no mercado e estamos preparados para este futuro”, afirma Candido.

A expectativa para 2023 é de crescimento de um dígito baixo, o que significa menos de 5%. Mas ressalva: “a depender de como ficará a economia do país no ano”. Segundo Cândido, neste momento, há ainda um cenário de incertezas. “Uma resposta mais assertiva só lá pelo meio do ano”.

Mas, na sua avaliação, o ano já começou diferente do ano passado. “Houve a realização do Carnaval em todo o país e outros eventos voltaram sem restrições”, diz.

A aposta é que a lata, por seu apelo de “amiga do meio ambiente – reciclagem de 98,7% no Brasil – se manterá como embalagem do futuro, ampliando sua fatia no envasamento de bebidas.

O executivo diz que, mesmo com o ano adverso, o setor continua com as expansões de linhas de produção nas unidades existentes e anúncios de novas – caso da Ardagh, em Juiz de Fora (MG), e da Canpack, em Poços de Caldas (lata) e Manaus (linha de tampa).

“Houve ainda uma grande readequação do parque fabril, bem como um trabalho intenso de redução de custos em toda a cadeia produtiva, especialmente ocasionado pelo aumento do preço da principal matéria-prima da lata – o alumínio -, durante a pandemia”, acrescenta Cândido.

No cenário de arrefecimento da demanda, no início de dezembro a americana Ball – que é a líder de mercado no país, com cerca de 40% – anunciou ajustes em suas operações. Decidiu encerrar as atividades da fábrica de Frutal, no Triângulo Mineiro, e paralisar uma linha de produção na unidade de Pouso Alegre, no sul de Minas.

A companhia atribuiu sua decisão ao cenário macroeconômico e mercadológico local e ao encerramento de contrato por um dos clientes de sua carteira. Esse cliente, dizem fontes do setor, migrou para um dos concorrentes.

Em termos de mercado, a cerveja continua “com um protagonismo muito alto”, sendo um produto essencial para o setor. Mas o que se observa, de forma positiva, é o consumo crescente de vários outros tipos de bebidas em lata, diz o executivo. Ele lista os energéticos, drinks, vinhos, uísque, café e água, além de aumento das vendas de refrigerantes em lata.

Candido informa que a venda de água em lata teve aumento de três dígitos no segundo semestre e deve continuar nesse ritmo – em volume ainda é um mercado nascente no país. E há alta também nos vinhos e espumantes.

Os estreantes recentes na embalagem são uísque e café. “Há duas linhas de crescimento para a lata: disputa de mercado [com outras embalagens, como vidro e plástico] e chegada de novos produtos. Muitos nem existiam três anos atrás”, ressalta o executivo.

De 2019 a 2023 o setor investe cerca de US$ 1,2 bilhão (R$ 6 bilhões). “Os projetos ainda em curso serão concluídos até 2024. O setor está apto e tem capacidade suficiente para atender o mercado brasileiro e provável demanda adicional nos próximos anos”.

Conforme informações divulgadas pela Abralatas são dez novas fábricas no período – MG, GO, PA e AM -, além das expansões em dez linhas existentes.

A indústria de latas no país, que é a terceira maior do mundo, atrás de EUA e China, soma 25 fábricas (19 da embalagem e 6 de tampas). Tem faturamento anual de R$ 18,3 bilhões, com 17 mil funcionários diretos e indiretos. As unidades fabris estão instaladas em pequenos e médios municípios.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2023/03/14/mercado-de-latas-de-aluminio-cai-em-2022-apos-cinco-anos-de-expansao.ghtml

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