A pandemia, além dos impactos iniciais, trouxe muitos momentos de altos e baixos para a economia brasileira. Um dos setores que vem passando por essa montanha-russa é a indústria química cearense. O segmento acumula crescimento nas vendas de 30% nos últimos 12 meses até julho, e agora vive uma pressão inflacionária de custos e insumos.
Em comparação com o Brasil, a indústria química cearense apresentou uma evolução três vezes maior, já que, na média nacional, o crescimento foi de 10% nas vendas. Os dados foram apresentados pelo presidente do Sindicato das Indústrias Químicas do Estado do Ceará (Sindquímica-CE), Paulo Gurgel, que reforçou a importância do setor, atualmente responsável por gerar 13.113 empregos no Ceará.
Além disso, segundo Gurgel, a indústria química ocupa a sexta colocação em importância para a composição do Produto Interno Bruto (PIB) do Estado.
Durante esse período de evolução nos meses da pandemia (entre julho de 2020 e julho de 2021), a indústria de cosméticos cearense registrou uma alta de 8% nos empregos ofertados, enquanto a de saneantes – englobando produtos de limpeza – contou com um aumento de 11,4%.
Comportamento do consumidor
Conforme Gurgel, a melhora desses indicadores foi puxada por uma mudança no comportamento dos consumidores no Ceará e no Brasil. Mais preocupados com a limpeza de produtos e com a higiene das mãos com álcool em gel e sabonetes, preocupações geradas pelo perigo de contaminação pelo coronavírus, as pessoas passaram a comprar mais.
Outro fator que ajudou o setor foi o isolamento social. Como as pessoas passaram mais tempo em casa, passaram a comprar mais produtos de limpeza.
“O setor químico teve um comportamento atípico em 2020 e foi acentuado a partir do meio do ano passado até agora, porque tivemos um pico de demanda muito alto e começou a entrar em acomodação e depois em recuperação, e agora está entrando em uma situação muito diferente de tudo que já vi nesses 35 anos”, disse Gurgel.
Pressões de mercado
Esse cenário “diferente” mencionado pelo presidente do Sindquímica reflete as pressões inflacionárias registradas nos mercados nacional e internacional; a crise energética que vem gerando aumento do preço do petróleo; e a redução do poder de compra da população cearense durante os últimos meses da pandemia, que o País vem passando por um quadro de estagflação.
Entre fatores que vêm pressionando a indústria química cearense está o preço dos insumos importados para a produção local. Para exemplificar, Gurgel citou o caso do polietileno (polímetro plástico usado em embalagens), que dobrou de preço. Ele contou que uma embalagem que custava R$ 6, hoje, está custando R$ 12.
Outros insumos usados no segmento dos cosméticos (shampoo, sabonetes, sabão) também tiveram alta, como no caso da acetona.
O que eu estou vendo para frente é um ambiente desafiador porque o que está acontecendo com a crise energética é que temos escassez de matéria-prima. As principais matérias-primas dos setores de limpeza, saneantes e cosmético é o plástico, que estão em escassez e isso gera alta de preços, o que encarece a nossa produção”, disse Paulo Gurgel.
Além disso, a desvalorização do real frente ao dólar causa uma pressão ainda maior neste setor. Como a produção nacional de insumos não é capaz de abastecer o mercado brasileiro, muitas empresas são forçadas a importar, e com o dólar alto, as grandes empresas que atuam no Brasil ainda preferem exportar para ter resultados melhores. Esse processo gera uma pressão ainda maior no mercado interno.
Frete internacional
Para forçar ainda mais os resultados das empresas, Gurgel relatou que o frete internacional por contêineres também aumentou muito de preço. Considerando o momento anterior à pandemia, o aumento foi de cerca de 500%.
“O frete internacional, que antes da pandemia que se pagava 2 mil dólares por contêiner, hoje está em 12 mil dólares, e estamos com o conhecimento de partes da China cobrando 15 mil dólares. A gente trazia insumos da China, mas está ficando muito complicado”, afirmou Gurgel.
Todos esses fatores, pondera o presidente do Sindquímica, devem fazer com que alguns produtos de limpeza e higiene pessoal fiquem ainda mais caros nos próximos meses.
Estratégias na crise
Para contornar esse cenário de incertezas e preços altos, o representante do Sindquímica relatou que algumas empresas cearense têm atuado de forma conjunta para conseguir ofertas melhores no mercado de insumo. Como a maior parte do setor é composto por pequenas e médias empresas, Gurgel comentou que os empresários estão recorrendo às compras coletivas.
Para atrair a atenção dos grandes produtores de insumos e evitar ter de ligar com os distribuidores, onde os preços tendem a ser mais elevados, as pequenas empresas estão juntando as demandas para fazer pedidos concentrados e conseguir fechar negócio.
“Criamos a rede ‘multiquímica’ e ela reúne várias indústrias, pequenas, médias, para fazer compras coletivas e tentar minimizar os gastos e garantir preços mais vantajosos para o nosso setor. Muitas vezes os fornecedores, por serem empresas grandes, não dão importância às empresas pequenas, mas quando nos juntamos conseguimos conter os custos”, disse.
Situação das empresas
Esse cenário faz com que as empresas do setor químico reduzam o faturamento e atravessem situações bem complicadas. O presidente do Sindquímica afirmou que alguns empresários estão mantendo os negócios apenas para pagar os custos.
Apesar do faturamento e do crescimento, as vendas começaram a ficar mais difíceis. As negociações estão mais duras, as margens caíram substancialmente, o Ebitda de algumas empresas caiu pela metade. Empresas que estavam com números normais de mercado, que garantia investimentos, e crescimento, estão preocupados porque estão trabalhando para trocar pão por pão, sem lucro por conta desses custos”, disse.
“Muitas empresas que fizeram investimento, começaram a ter dificuldade para pagar, então elas cancelarem investimentos, compras de máquina, ou estão adiando para ver como o mercado vai se comportar no fim do ano e em 2022, que deve ser um momento difícil para o mundo inteiro por conta dessa crise energética e com essa alta do preço do petróleo no mundo”, completou.
Cenário em discussão
Para tentar projetar esses desafios e o cenário econômico em 2022, o Sindquímica irá realizar entre os 6 e 7, 13 e 14 de outubro a Expo Ceará Química 2021.
O evento conta com as principais entidades da área química e dos setores industrial e empresarial, a exemplo da ABIPLA (Associação Brasileira das Indústrias de Produtos de Higiene, Limpeza e Saneantes), ABHIPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) e Fundação Dom Cabral.
O evento ainda conta com o apoio da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae-CE)
As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site. Mais informações sobre o evento e as inscrições estão disponíveis no perfil do Sindquímica no Instagram.
“Esse já é o quarto ano que a gente promove o Expo Ceará Química e o segundo ano que é virtual, por causa da pandemia, mas que fez o evento crescer porque tivemos participação do Brasil inteiro. O evento já está sendo copiado por outras federações de outros estados e traz muitas informações para o setor e isso tem ajudado”, comentou Gurgel.
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