Apenas algumas categorias de produtos de uso adulto têm o fracionamento permitido no país, que também proíbe o reaproveitamento de embalagens.
A venda a granel de cosméticos no Brasil é regulamentada por uma resolução (RDC n° 108) da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) de abril de 2005. Passados mais de quinze anos da autorização da prática, ainda são raríssimas as marcas brasileiras de beleza que disponibilizam produtos fracionados para seus clientes.
Uma das razões é porque a regulamentação permite apenas o fracionamento de algumas categorias de produtos de uso adulto: xampus e condicionadores, perfumes e similares, sabonetes e sais para banho. A outra é que a norma proíbe o reaproveitamento de embalagens que já foram utilizadas, exigindo embalagens novas e específicas para essa finalidade.
“Os principais motivos que levam os consumidores a desejarem um cosmético a granel são economia e sustentabilidade”, afirma a biomédica e farmacêutica Karina Soeiro. Ela explica que a modalidade facilita o processo de envase na produção, gerando uma economia que reflete no valor final do produto. Já para o meio ambiente, a vantagem é a redução do descarte de embalagens. “Mas no Brasil, o benefício da compra se limita ao preço. Em vários países, os consumidores podem levar a embalagem de suas casas, diminuindo, além do custo, o impacto ambiental”, ela acrescenta.
Ainda assim, algumas iniciativas começam a surgir no país. Lançada em 2016, a marca de beleza natural e orgânica Ahoaloe inaugurou há poucos meses uma estação de refil para produtos de sua linha Neutra, composta por quatro produtos neutros, que podem também ser usados como base para uso com óleos essenciais, argilas e ativos naturais.
“As vantagens são não apenas para os consumidores, que conseguem um preço melhor, com desconto de 20% sobre o valor de prateleira do produto, mas também para o meio ambiente”, diz João Corrêa, responsável pelo marketing da Ahoaloe. “Nós fornecemos embalagens biodegradáveis para o fracionamento e recolhemos as embalagens já utilizadas pelos clientes para o descarte correto”.
O Grupo Boticário também deu início recentemente a um projeto-piloto de venda a granel para itens da marca de cuidados capilares Match. “É mais uma forma de gerar uma mudança de mindset do consumidor, trazendo uma experiência de abastecimento dos produtos em loja e visando um menor impacto no meio ambiente e melhor custo-benefício”, afirma Paulo Roseiro, diretor-executivo de categorias beauty do Boticário.
Os produtos estão disponíveis em duas volumetrias, 250g e 400g – esta exclusiva para o fracionamento –, que representam economia final de 16% a 23%, em comparação aos formatos convencionais. As embalagens utilizadas são 100% recicladas e o Grupo incentiva o consumidor a devolver na loja as embalagens já utilizadas para destinar à reciclagem.
Presente em uma loja O Boticário no Rio de Janeiro e outra em São Paulo, o piloto deve seguir até maio de 2023. “Temos visto a boa agradabilidade do projeto entre os consumidores e, para os próximos meses, estamos avaliando a possibilidade de expansão da estação de venda a granel para mais uma loja”, revela Roseiro.
Para ele, as limitações impostas à venda a granel fazem com que a modalidade ainda não tenha deslanchado no país. “Mas procuramos nos adiantar às necessidades dos nossos consumidores, investindo em novos formatos de produtos e embalagens, sempre visando à melhor experiência”, diz o executivo.
A ABIHPEC (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos) declara que trabalha junto à Anvisa para que as normas que regulamentam a venda a granel de cosméticos possam ser atualizadas. Para a entidade, a resolução deveria incluir outros produtos à lista dos que podem ser comercializados, além de permitir o reaproveitamento de embalagem e a personalização de produtos no ponto de venda, práticas já comumente adotadas em outros países.
Fonte: brazilbeautynews.com/venda-a-granel-de-cosmeticos-esbarra-em,4445
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