Conversas envolvem titulares de CRI lastreado em debêntures; mercado vê espaço para acordo

Após a oferta pública de ações do GPA no valor líquido de R$ 673,4 milhões, a forte diluição do controlador Casino levou a empresa a ter de negociar com credores mudanças em termos de contratos de dívida para evitar que eles peçam vencimento antecipado do saldo devedor, no valor de R$ 500 milhões.

Com a emissão, a rede deixa de ter um acionista controlador e passar a ter controle acionário disperso na bolsa. Os franceses do Casino reduziram sua posição de 40,9% das ações (que dava poder de controle à empresa) para 22,5% da varejista nacional, dona do Pão de Açúcar.

Essa negociação envolve titulares de certificados de recebíveis imobiliários (CRI) das 1ª e 2ª séries, da 80ª emissão da Virgo Companhia de Securitização.

Esses papéis são lastreados em debêntures da 19ª emissão da empresa, cuja assembleia para deliberação do tema ainda será realizada, numa segunda convocação. Os título preveem a alteração do controle acionário como hipótese de vencimento antecipado das dívidas. Trata-se de uma cláusula padrão em emissões de dívida.

Formulário de referência enviado pelo GPA à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na quarta-feira passada menciona a questão e relata que ainda não havia obtido o consentimento prévio em relação à alteração de seu controle acionário junto aos titulares dos CRIs.

No começo de março, a empresa havia relatado, pela primeira vez, a existência de negociações, ainda sem o aval, e voltou a reforçar em abril que mantém conversas com os investidores.

Procurado, o GPA informa que haverá assembleia para deliberação junto aos credores nesta quarta-feira (10), tendo sido convocada em 27 de março. E que manterá o mercado informado.

No formulário, a companhia ainda diz que não pode garantir que será capaz de obter, junto aos titulares, a anuência prévia antes da posse do novo conselho de administração do GPA, que será alterado após a oferta.

Para os bancos, o caminho de conceder o “waiver” (perdão temporário) é mais provável, diz uma fonte ouvida, até para não ficar mais difícil receber os recursos no prazo normal. Investidores têm concedido “waiver” em recentes negociações de dívida de grandes grupos de capital aberto.

A empresa esclarece que, se não conseguir o aval até a data da posse do novo conselho, vai utilizar parte dos recursos líquidos da oferta para pagar o saldo de R$ 500 milhões – de uma oferta líquida de R$ 673 milhões.

Após a capitalização na empresa, o Valor calculou que a relação dívida líquida e ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) da empresa ficaria em 3,9 vezes – um índice considerável saudável está em até três vezes.

A soma considera dados oficiais de Ebitda do grupo em 2023 e da dívida pré-oferta informada. O índice era de 5,1 vezes antes da oferta (incluindo arrendamento).

Ainda no fomulário de abril, a companhia relata que pode usar 20% do capital da emissão para pagamento total ou parcial de dívidas com alguns dos coordenadores da oferta. É algo superior a R$ 130 milhões, que estão dentro do valor total da operação a ser utilizado para reduzir alavancagem.

A oferta saiu sob a coordenação do Banco Itaú BBA (líder), BTG Pactual, Bradesco BBI, J.P. Morgan e Santander. A empresa pagou aos bancos comissão de R$ 18,5 milhões, ou R$ 0,08 por ação, e mais R$ 12,1 milhões em despesas (taxas, impostos), totalizando pouco mais de R$ 30 milhões.

Foram emitidas em março 220 milhões de ações ON a R$ 3,20, totalizando cerca de R$ 700 milhões antes dos custos e despesas.

Após a oferta houve diluição de todos os acionistas da empresa com mais de 5% do capital, com base na posição acionária de março – além do controlador Casino. Isso ocorreu porque nenhum deles acompanhou a oferta da rede, que enfrenta uma reestruturação operacional e financeira desde 2022.

O banco BTG foi diluído em quase a metade do capital, passando de 5,25% para 2,89%. A gestora americanas Nuveen LLC também não seguiu a oferta e sua posição caiu de 5,26% para 2,90%.

Já era sabido que os franceses do Casino, com a holding do grupo altamente alavancada e em processo de venda de ativos na França, não entrariam na oferta.

O novo entrante foi Ronaldo Iabrudi, ex-membro do conselho do GPA, e pessoa de confiança por anos de Jean-Charles Naouri, CEO do Casino, que passou a ter 5,47% das ONs do grupo.

Iabrudi tornou-se um executivo do varejo com a sua entrada no GPA, cerca de 10 anos atrás, após a crise pública entre os franceses e o empresário Abilio Diniz, e não vinha mantendo investimentos relevantes no setor após a sua saída do conselho, em 2022. Nesse cenário, executivos do setor se surpreenderam com o investimento.

Das 220 milhões de ONs emitidas, 193 milhões ficaram no mercado de forma pulverizada e quase 27 milhões foram para Iabrudi.

Na França, o Casino concluiu em março uma reestruturação societária com capitalização na empresa para redução de dívida. A holding do grupo Casino, Rallye, de Jean-Charles Naouri, ficou com apenas 0,1% do Casino após o aporte liderado pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky, da France Retail Holdings, atualmente maior acionista do Casino.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2024/04/09/gpa-negocia-divida-de-r-500-milhoes-com-credores-apos-casino-deixar-controle.ghtml

 

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